sábado, 16 de janeiro de 2010

Ajustem seus relógios: 23:54



A Guerra Fria sempre foi uma fonte rica de inspiração para muitos modeleiros. Afinal, foi um perído historicamente recente durante o qual uma guerra nuclear poderia ter acontecido um sem-número de vezes. Isso sem falar dos diversos conflitos periféricos que fizeram dessa época de mais de 40 anos um prato cheio para simulações.

Eu nasci em 1989, assim como a maioria dos modeleiros que hoje são diretores e secretariados no Brasil. Portanto, para nós, a perspectiva de que o mundo poderia acabar a qualquer momento não é algo que vivemos, até porque já não era um sentimento tão palpável quando éramos recém-nascidos. Simulando essa época, praticamos a chamada brinksmanship: a habilidade de navegar por crises, tirando a maior vantagem possível delas.

Acho que é um fato desconhecido de grande parte das pessoas, mas existe um “termômetro” (um relógio, na verdade) que mede o quão próximo estamos do inevitável fim de nosso mundo. Desde 1947, o Bulletin of the Atomic Scientists publica o relógio do apocalipse (doomsday clock). No relógio, a meia-noite representa – quem diria! – o fim do mundo. Logo, quanto mais próximo chegamos da meia-noite, mais provável é que os 3 anos que já passei na faculdade de Direito tenham sido inúteis.

Inicialmente voltado para o estado de armamentos nucleares no mundo, a avaliação tem evoluído para levar em conta outros fatores. Recentemente, no dia 14 de Janeiro, tivemos o primeiro retrocesso do relógio em 19 anos – desde a assinatura do START entre os EUA e a URSS em 1991. Estamos agora a 6 minutos da meia-noite, um incremento de 1 minuto em relação ao status anterior.

Segundo o press release do Bulletin,
We are poised to bend the arc of history toward a world free of nuclear weapons. For the first time since atomic bombs were dropped in 1945, leaders of nuclear weapons states are cooperating to vastly reduce their arsenals and secure all nuclear bomb-making material. And for the first time ever, industrialized and developing countries alike are pledging to limit climate-changing gas emissions that could render our planet nearly uninhabitable.

Eu já não sou tão otimista. Copenhage está nos top 5 #fails do ano passado. Apesar do nosso camarada Obama ter presidido uma sessão do UNSC sobre não-proliferação nuclear, os P5 estão longe de atingir algum tipo de entendimento ou acordo sobre como lidar com regimes como o Irã e a Coréia do Norte. Vamos ver como esse relógio vai se comportar...

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Ataque e Defesa

Verde e amarelo parecem ser cores recorrentes no futebol...

No dia 6 de dezembro, escrevi sobre as influências da política dentro de competições esportivas como a Copa do Mundo de futebol. Parece que eu nem precisava ter ido tão longe: no dia 8 de janeiro, pouco mais de um mês depois do post, o ônibus da seleção togolesa se viu no meio de um tiroteio entre rebeldes separatistas da província angolana de Cabinda e forças de segurança de Angola, que escoltavam os jogadores à Copa das Nações Africanas. Alguns membros da comissão técnica morreram no ataque.

O terrível acontecimento, todavia, acabou alavancando o tema do qual tratei no post anterior na imprensa internacional – o pessoal da Foreign Policy (leitura obrigatória para qualquer delegado que se preze) fez uma lista muito melhor que a minha sobre conflitos relacionados com o esporte. Vale a pena dar uma olhada se você se interessou pelo texto de dezembro.

Todavia, o maior problema criado pelo ataque foi colocar em xeque a segurança da Copa do Mundo deste glorioso ano. Afinal, os nobres cartolas europeus gostam muito dos jogadores africanos, mas estão pouco se lixando para a África. Já imaginou o prejuízo que é ter um Cristiano Ronaldo/Kaká/Messi baleado? Não apenas destrói a seleção do país em questão psicologicamente (Togo abandonou a competição por falta de condições psicológicas), mas acaba com milhões de dólares/euros/libras em investimento e, potencialmente, com a carreira de um jogador brilhante. Mesmo que a África do Sul seja mais segura do que Angola, aos olhos dos europeus, "é tudo a mesma coisa": é África.

Talvez o afã de se colocar competições de alto nível em países que não têm condições de recebê-las (vide Jogos Pan-americanos de 2003, em Santo Domingo) seja o maior erro. Não sou contra uma Copa na África, pelo contrário, acho legal (os europeus vão sofrer com o calor. BRASIL! \o/). Mas, antes de se  sediar um evento deste porte, deve-se provar que há condições mínimas para isso. Ah, não colocar jogadores em uma zona de guerrilha pode ser uma boa idéia também.

Caso ainda não tenham reparado, o RotW agora está no Twitter! Siga @modeleiro!