Bingo!
O futebol, em geral, e a Copa do Mundo, em especial, não são exceções à transferência de rivalidades geopolíticas para dentro de campo. Inglaterra e Argentina (Ilhas Falkland/Malvinas, 1982) fazem verdadeiras batalhas quando se encontram. Cá pelas bandas da América do Sul, fora nossa rivalidade com a Argentina, Chile e Bolívia não vão muito com a cara um do outro desde que o Chile cortou o acesso ao mar dos bolivianos. El Salvador e Honduras lutaram a chamada "Guerra do Futebol" em 1969, cujo estopim foi uma partida das eliminatórias para a Copa de 1970.
Não apenas de amplificação de conflitos vive o futebol. Na Copa de 1998, houve um grande exemplo de aproveitamento geopolítico do esporte, como uma ferramenta de soft power (meios intangíveis de influenciar a política de um país, como cultura ou ideologias), embora pouco lembrado. Estados Unidos e Irã foram sorteados para o mesmo grupo, que ainda incluía Iugoslávia e Alemanha. No dia da partida, após a execução dos hinos nacionais, os jogadores iranianos presentearam os americanos com flores, e ambos os times posaram para a foto oficial juntos.
Final da partida: EUA 1:2 Irã
A ação não teve muito impacto real na política dos dois países, já que, dez anos mais tarde, ambos continuam com relações diplomáticas cortadas, mas é o exemplo mais evidente de que rivalidades políticas transbordam, sim, para o esporte, mas este também serve como uma ferramenta de influência na política.
Voltando a 2009, a partida de repescagem entre Argélia e Egito gerou sentimentos nacionalistas em ambos os lados da fronteira, levando a desentendimentos entre governos normalmente alinhados, mas o sorteio para a Copa, em si, não proporcionou grandes conflitos para a primeira fase. O pessoal do UN Dispatch apontou, acertadamente, que existem alguns conflitos entre ex-colônias e metrópoles, mas o único com mais notoriedade futebolística é Brasil vs. Portugal.
Talvez o mais interessante desta Copa seja a participação de ambas as Coréias, o que daria um conflito épico. Mas, como ambas estão em lados opostos da chave do mata-mata, a única possibilidade seria uma final ou semi-final coreana, o que é menos provável do que o candidato do PSTU ganhar as eleições presidenciais do ano que vem.
Concluindo, futebol é uma ferramenta de soft power interessante de ser utilizada, e, nesse sentido, o Brasil vem se saindo muito bem, obrigado. Além do Jogo pela Paz, realizado no Haiti em 2004, a "marca" do Brasil é muito bem difundida por todo o globo: o nome "Ronaldo" é imediatamente associado ao jogador do Corinthians em qualquer lugar, assim como Brasil é associado ao futebol bonito. Nosso presidente recentemente sugeriu uma partida entre Brasil e um combinado de Israel e Palestina. Trata-se de benevolência futebolística (afinal, segundo a notícia, Lula quer jogar de centro-avante) ou de mais um movimento para participar das grandes questões internacionais, visando a uma vaga permanente no UNSC? Que outras medidas poderiam ser tomadas nesse sentido? Fica a pergunta para os modeleiros.
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