domingo, 6 de dezembro de 2009

Duelo de Titãs!

Foram sorteados, nesta sexta-feira, os grupos da primeira fase da Copa do Mundo do ano que vem. “Não acredito que o RotW tá noticiando isso” deve ser o que está passando na cabeça de alguns de vocês agora, mas eu prometo que tenho um propósito ao falar disso.


Bingo!

Brasileiros que somos, sabemos que rivalidades em qualquer campo (político, econômico, tecnológico) têm reflexo nos outros, inclusive o esporte. Basta ver nossa animosidade com nuestros hermanos cá do sul: segunda maior nação do continente, chegou a iniciar estudos para o desenvolvimento de uma bomba atômica para ter poder de deterrence contra o Brasil (e o mesmo aconteceu deste lado da fronteira). Hoje em dia, a rivalidade é puramente econômica e desportiva.

O futebol, em geral, e a Copa do Mundo, em especial, não são exceções à transferência de rivalidades geopolíticas para dentro de campo. Inglaterra e Argentina (Ilhas Falkland/Malvinas, 1982) fazem verdadeiras batalhas quando se encontram. Cá pelas bandas da América do Sul, fora nossa rivalidade com a Argentina, Chile e Bolívia não vão muito com a cara um do outro desde que o Chile cortou o acesso ao mar dos bolivianos. El Salvador e Honduras lutaram a chamada "Guerra do Futebol" em 1969, cujo estopim foi uma partida das eliminatórias para a Copa de 1970.

Não apenas de amplificação de conflitos vive o futebol. Na Copa de 1998, houve um grande exemplo de aproveitamento geopolítico do esporte, como uma ferramenta de soft power (meios intangíveis de influenciar a política de um país, como cultura ou ideologias), embora pouco lembrado. Estados Unidos e Irã foram sorteados para o mesmo grupo, que ainda incluía Iugoslávia e Alemanha. No dia da partida, após a execução dos hinos nacionais, os jogadores iranianos presentearam os americanos com flores, e ambos os times posaram para a foto oficial juntos.


Final da partida: EUA 1:2 Irã

A ação não teve muito impacto real na política dos dois países, já que, dez anos mais tarde, ambos continuam com relações diplomáticas cortadas, mas é o exemplo mais evidente de que rivalidades políticas transbordam, sim, para o esporte, mas este também serve como uma ferramenta de influência na política.

Voltando a 2009, a partida de repescagem entre Argélia e Egito gerou sentimentos nacionalistas em ambos os lados da fronteira, levando a desentendimentos entre governos normalmente alinhados, mas o sorteio para a Copa, em si, não proporcionou grandes conflitos para a primeira fase. O pessoal do UN Dispatch apontou, acertadamente, que existem alguns conflitos entre ex-colônias e metrópoles, mas o único com mais notoriedade futebolística é Brasil vs. Portugal.

Talvez o mais interessante desta Copa seja a participação de ambas as Coréias, o que daria um conflito épico. Mas, como ambas estão em lados opostos da chave do mata-mata, a única possibilidade seria uma final ou semi-final coreana, o que é menos provável do que o candidato do PSTU ganhar as eleições presidenciais do ano que vem.

Concluindo, futebol é uma ferramenta de soft power interessante de ser utilizada, e, nesse sentido, o Brasil vem se saindo muito bem, obrigado. Além do Jogo pela Paz, realizado no Haiti em 2004, a "marca" do Brasil é muito bem difundida por todo o globo: o nome "Ronaldo" é imediatamente associado ao jogador do Corinthians em qualquer lugar, assim como Brasil é associado ao futebol bonito. Nosso presidente recentemente sugeriu uma partida entre Brasil e um combinado de Israel e Palestina. Trata-se de benevolência futebolística (afinal, segundo a notícia, Lula quer jogar de centro-avante) ou de mais um movimento para participar das grandes questões internacionais, visando a uma vaga permanente no UNSC? Que outras medidas poderiam ser tomadas nesse sentido? Fica a pergunta para os modeleiros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário