segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Reveillon no Conselho de Segurança


Nova Iorque, 31 de dezembro de 2007

Perto de meia-noite....

PRESIDENTE (Itália): Buona sera. Ci sentiamo bene? O Conselho de Seguranza começará su sessione. Há alguns oratori na mia lista. Cedo la palabra ao delegatti da Indonísia.

INDONÉSIA: Terima kasih, sr. Presidente. Em nome do Governo da Indonésia, quero agradecer a todos os presentes por sacrificarem seus reveillons na Times Square para estarem aqui, juntos, para escrevermos nossas resoluções de fim de ano.

ESTADOS UNIDOS: Mr. President, we do not agree with the terms put forward by the Indonesian delegation. Estamos aqui, se muito, para escrever UMA resolução de fim de ano. Não tem isso de "resoluções".

RÚSSIA: Dobry vyecher. Ao mesmo tempo que não estamos sugerindo diretamente a não-produção de resolução alguma, ou parte, não queremos dizer também por outro lado que pela ação ou inação de minha delegação implicaremos necessariamente, ou não, na aprovação ou não de um projeto de resolução por parte deste Conselho.

ESTADOS UNIDOS: Mr. President, a delegação russa está sendo evasiva. Me lembra os discursos de Leonid Brezhnev.

RÚSSIA: Sr. Presidente, peço a V.E. que use sua influência para chamar a atenção de membros que usem de analogias históricas inadequadas.

PRESIDENTE (Itália): Finito! Io tiemo aqui un projeto de resoluciones de fim de ano.

ESTADOS UNIDOS: Resolução. Resolução.

PRESIDENTE (Itália): É mio entendimento que los delegatti si encontro pronto para a votacione. (Pausa). Los delegatti a favor...?

(nesse momento, o relógio bate 00:00. houve-se o *pop* de uma garrafa na outra sala. de repente, cinco seguranças "gorilas" se aproximam de alguns delegados e os arrancam violentamente das cadeiras. ouvem-se protestos furiosos: "hijo de madre!" "rarabichueba!", etc. cinco outros delegados se sentam no lugar. Um delegado se levanta e expulsa o Presidente, que vai se sentar em outro canto).

PRESIDENTE (Panamá): Por ocho votos a favorr, cinco votos contra (Burkina Faso, Costa Rica, Croácia, Líbia e Vietnã) e duas abstenciónes (China e Rússia), as resoluciones de fim de ano foram reprovadas.

ESTADOS UNIDOS: Resolução. Resolução.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

O Natal Mágico dos Modeleiros



Votos de Feliz Natal e Feliz 2008 de modeleiros no Brasil e no mundo! =)

Faremos um novo vídeo somente de Feliz 2008 e queremos sua colaboração.
Mande seu vídeo ou foto para correiodiplomatico@gmail.com até 30 de dezembro.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Evoluir é cooperar

Durante o IX MONU, que terminou domingo em São Paulo, os editores deste blog colaboraram para o jornal do evento com uma coluna diária. Leia abaixo um dos textos publicados.

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No início, havia o verbo. Ou, melhor dizendo, uma conversa simples: "Vamos fazer um modelo da ONU?" "Vamos!". Tudo começava entre aquele grupo de amigos que tinha ido em um AMUN, MONU ou outro modelo em sua cidade ou fora dela. O projeto cresce, eventualmente ganha algum apoio institucional, um patrocínio aqui, outro ali... A história de vários modelos (os próprios AMUN e MONU entre eles, para citar apenas dois exemplos mais conhecidos) começou deste jeito.

Alguns modelos conseguem ter grande sucesso e evoluem no decorrer dos anos se "institucionalizando", como dizemos no jargão da Modelândia. Outros modelos, alguns após experiências com essa institucionalização, outros sem esta oportunidade, e em especial nos últimos anos, têm optado por seguir um caminho diferente: o da cooperação entre faculdades diferentes em torno de um único modelo. O MONU 2007 é o atual exemplo de como a cooperação têm funcionado em modelos, embora não seja nem o primeiro nem o último exemplo - a SiEM, em São Paulo; o SiMUN, no Rio de Janeiro; e recentemente o TEMAS, em Belo Horizonte: outros três exemplos conhecidos de modelos que empregam em seu staff acadêmico e administrativo pessoas de todo um estado ou mesmo de todo o Brasil.

Integrar diversas faculdades na organização de um modelo não é uma tarefa fácil, mas certamente é uma tarefa recompensadora. Assim como a diversidade de delegados com backgrounds totalmente diferentes ajuda muito nas discussões de um comitê, assim também é na sua concepção e estudo. Se a discussão é sobre saúde pública, por que não chamar um estudante de Medicina para explicar princípios básicos a esse respeito? Se estamos discutindo armas nucleares, por que não um estudante de física ou engenharia para discutir os verdadeiros efeitos de uma arma nuclear e como ela funciona? Se é um gabinete discutindo planos militares, por que não um historiador militar para nos explicar táticas militares?

Estes exemplos que citeisão apenas os benefícios acadêmicos. Administrativamente, e também em termos de credibilidade e publicidade de um modelo, juntar várias faculdades ou universidades dá maior solidez e maior possibilidade de apoio a qualquer modelo. Além disso, acelera o ciclo de renovação de modeleiros dispostos a prosseguir na organização: tem-se acesso a pessoas novas não apenas de uma ou duas faculdades, mas de mais de uma universidade inteira. Isso amplia o leque de contatos, o número de pessoas interessadas, a quantidade e a qualidade de idéias para comitês...

Por enquanto, a cooperação entre faculdades na Modelândia está engatinhando, mas o potencial é evidente. Assim como inicialmente os modelos foram formados por grupos de amigos dedicados em partilhar uma cultura apaixonante como a de modelos, a cooperação entre faculdades ainda precisa ser fortalecida, e há bastante espaço para isso. Cooperar é evoluir.

Guilherme F. A. Pereira (guilhermepereira [arroba] gmail [ponto] com) acaba de se formar em Direito pela PUC-SP, escreve regularmente no blog Representatives of the World (http://modeleiro.blogspot.com), e foi Diretor-Geral Acadêmico do MONU 2007.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Os modelos de lendas e as lendas dos modelos

Durante o IX MONU, que terminou domingo em São Paulo, os editores deste blog colaboraram para o jornal do evento com uma coluna diária. Leia abaixo um dos textos publicados.

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Vetusto Douto foi o maior jurista de todos os tempos

Os modelos de lendas e as lendas dos modelos

Prezado diplomata: você acredita em fantasmas? Não? Pois saiba que está por fora. Alguns dias de MONU já se passaram, e certamente você tem agora historinhas pra contar. Algumas você não pode contar pros seus pais ou pro seu chefe para justificar o tempo investido; outras, talvez sim.

Mas acontece que algumas dessas historinhas que você vive em modelos, caro leitor, podem acabar sendo contadas e recontadas em modelos futuros, e não apenas em São Paulo. Elas podem tomar proporções épicas. São chamadas “lendas dos modelos”. Alguns modeleiros são verdadeiras lendas vivas: você já deve ter ouvido falar do “Cara do Veto” ou dos “dezoito e um violão”. Outros personagens não são delegados, mas também estão no folclore: pergunte ao modeleiro mais velho do seu comitê, ou aos Diretores, sobre a Babá Egípcia ou sobre o saudoso Professor Vetusto Douto.

Todo mundo conhece a historinha: um delegado qualquer termina o discurso dizendo “é impossível agradar a gregos e troianos”. É aí que o delegado da Grécia pede a palavra: “à Grécia, a decisão agrada. A delegação de Tróia que se manifeste”.


Babás egípcias estão por trás de grandes eventos internacionais

Já esta aqui aconteceu comigo: a Mesa cedeu o tempo para o delegado da Argentina, que foi à frente e ficou um tempão em silêncio. Após vários segundos, foi interrompido pelo diplomata chinês: “questão de privilégio pessoal. Eu não consigo escutar o delegado!” Risadas de todo o SpecPol. A Mesa insiste: “senhores, o delegado pode usar o tempo como quiser, e terá seu tempo restituído (!)”. Novamente aquele momentão de silêncio. O Diretor bate o martelo, toc. E o argentino finalmente brada: “este silêncio representa o que foi conseguido por este comitê. Nada!”

Por isso, caro leitor, não se surpreenda quando alguma historinha na qual você estava ganhar as conversas nos corredores. Não é fofoca; é meramente a construção de uma lenda. E se você ainda assim não acredita em fantasmas, olhe no espelho do hotel à noite e chame a Babá Egípcia.

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** Cedê Silva (doidimaiscorporation[arroba]gmail[ponto]com) é um dos colunistas do blog Representatives of the World (http://modeleiro.blogspot.com) e escreve de Belo Horizonte.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

A modelagem criativa e o cinto de utilidades modeleiro

Durante o IX MONU, que terminou ontem em São Paulo, os editores deste blog colaboraram para o jornal do evento com uma coluna diária. Leia abaixo um dos textos publicados.

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A modelagem criativa e o cinto de utilidades modeleiro

Saudações, modelândia! Sua primeira simulação? Não? Ótimo, já é um modeleiro experiente. Sim? Melhor ainda! Todo mundo aprende a fazer muitas coisas em uma simulação. Aprende a falar, discutir, redigir, espernear, negociar, ceder, demandar. Mas isso não basta. Existem coisas úteis que todo novato precisa saber e os veteranos não podem esquecer.

Uma das primeiras dicas que todo modeleiro em busca do sétimo sentido deve lembrar é: aprenda as regras. Parece bobagem, mas saber direitinho o fluxo do debate e quais as moções e questões certas te deixam mais seguro para desempenhar o seu papel com tranqüilidade. Sem falar na estratégia: você sabia que moção que empata não passa? Pense nisso, use em seu favor!

Outra dica: participe sempre. Não se preocupe, todo mundo se sente inseguro às vezes, e é justamente participando que essa sensação some. Opine sempre que tiver algo a acrescentar e não tenha pena de reclamar toda vez que discordar. Disposição de agir para fazer a diferença é o um verdadeiro combustível do modeleiro.

Ah, você não é muito do tipo metralhadora giratória que sai disparando contra todo mundo? É, nem eu. Não seja esse um problema, grande parte da ação dos modelos, assim como na vida real, acontece nos bastidores. Chame o delegado do Paquistão e a delegada da Índia pra acertar os pontos, converse com a União Européia procurando um consenso. Sempre há um jeito de colaborar. Não me venha reclamar de resolução Frankenstein depois, fique de olho!

Outra lição básica pro modeleiro de sucesso: se prepare pra envelhecer dez anos em menos de uma semana. Durante a simulação você precisa ser incansável, nem que isso signifique perder a festa pra fazer resolução. Ok, perder a festa não rola, mas dormir meia dúzia de horas por dia é padrão, gaste todas suas energias e deixe pra relaxar só na DPS. Não sabe o que é isso? Não se preocupe, se você fizer tudo certinho você vai descobrir.

E afinal, a grande arma secreta: A diplomacia criativa! O que é isso? Bom, é tipo tirar leite de pedra. Dar nó em pingo d’água, fazer a vaca tossir um sonoro bom dia e achar as botas do Judas. Significa ultrapassar os limites, o que os delegados do UNSC chamariam de “think outside the box”. É ela que vai te permitir discutir com quarenta pessoas que estão há dois dias travadas no mesmo projeto de resolução divididas em cinco blocos antagônicos e inimigos se juntarem, chegarem a um consenso e ainda te pagarem uma rodada no bar pra comemorar ao final. Sim, mas onde eu consigo esse troço e o que isso faz?

Diplomacia criativa é você tentar pensar diferente pra solucionar seus problemas. Não é bem uma dica ou uma ação, é um modo de pensar. Sempre que você encontrar uma crise sem precedentes, pense que só quem vai resolver seu problema é a sua criatividade. Então aqueça as turbinas e se prepare: os próximos dias com certeza serão inesquecíveis.

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Wagner Artur Cabral (setzerknight@gmail.com) é um dos colunistas do blog Representatives of the World (http://modeleiro.blogspot.com) e escreve extraordinariamente de Haia, Holanda, mas geralmente escreve de Natal, Rio Grande do Norte.

A União faz a Força, o Açúcar e o MONU

Durante o IX MONU, que terminou ontem em São Paulo, os editores deste blog colaboraram para o jornal do evento com uma coluna diária. Leia abaixo um dos textos publicados.

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A União faz a Força, o Açúcar e o MONU

A frase é clichê, mas vale neste caso: a história do MONU se confunde com a trajetória das simulações da ONU no Brasil. Criado em 1999, na época em que a humanidade temia o bug do milênio mais do que o aquecimento global, o modelo passou por diversas metamorfoses até se tornar o MONU atual.

O MONU já aconteceu em todos os lugares possíveis – hotel, faculdade, centro de convenções e até auditório de museu. Já simulou debates convencionais e comitês mais excêntricos, oscilando entre conservadorismo e inovação. Mais importante, ele reinventou sua identidade duas vezes.

O modelo nasceu MONU-PUC, vinculado umbilicalmente ao curso de Relações Internacionais da Católica. Mais tarde, divorciou-se da universidade e passou a ser organizado pelo GSPRI, uma associação de modeleiros puquianos. A partir de 2004, diretores de outras faculdades ganharam espaço, mas ainda sob a tutela dos alunos da PUC. E agora, em 2007, o MONU atinge sua maturidade: deixa de ser a simulação dos alunos da PUC para se tornar o modelo da ONU do Estado de São Paulo, uma parceria entre todas as potências modeleiras paulistas.


Esta história não foi nada linear. Pelo contrário: como tudo o que é humano, o MONU evoluiu de crise em crise, superando sua maior convulsão em 2004-2005 – quando um certo desleixo em padrões acadêmicos feriu a reputação do modelo – para recuperar, hoje, seu lugar de direito na linha de frente da modelagem nacional.

Assim como o AMUN, de Brasília, o MONU já foi importante por ser antigo. Durante longos anos, estes dois eventos eram o alfa e o ômega da modelagem no Brasil: todo modelista ia ao Distrito Federal em julho e a São Paulo em dezembro, até porque não havia outras opções. Mas o duopólio AMUN-MONU terminou, e hoje o MONU é importante por ser moderno. Ele está lançando tendências que logo provavelmente serão seguidas pelas demais simulações da ONU em nosso país.

O que a experiência do MONU pode ensinar a outras simulações das Nações Unidas? Primeiro, que tamanho realmente não é documento: vale mais investir na coesão e na qualidade do que na quantidade de comitês e delegados. Segundo, que toda fronteira é burra: um modelo da ONU fica melhor e mais interessante se organizado por diversas faculdades e com a participação de alunos de diversos cursos, não apenas Direito e RI. Terceiro, que toda regra nasceu para ser quebrada: o que é certo hoje pode ser errado amanhã.

Thomaz Napoleão, participante e organizador do MONU entre 2002 e 2006, escreve de Moscou, Rússia.

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Se você gostaria de ter textos personalizados do Representatives of the World para o jornal do seu modelo, entre em contato conosco.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Os truques do delegado Schopenhauer


Se Arthur Schopenhauer estivesse vivo e tivesse vinte anos, certamente participaria de modelos da ONU, que são bastante populares na Alemanha. Infelizmente o filósofo ranzinza morreu um século antes da sapatada do Khrushchev, e jamais teve o privilégio de propor uma moção para adiamento da sessão.

Porém, todavia, não obstante, entretanto e contudo, Schopenhauer deixou um testamento para os modeleiros contemporâneos. Em um trecho de seu conhecido livro "The Art of Controversy", ele nos ensina 38 maneiras eficazes de vencer qualquer discussão.

Aqui vão as minhas favoritas, devidamente acompanhadas de um exemplo concreto para os delegados issshpertos. Vamos imaginar que estamos no Conselho de Segurança. O delegado Schopenhauer (em vermelho) representa a China e o delegado Hegel (em azul) representa os Estados Unidos. Pauta: Darfur.


1. Carry your opponent's proposition beyond its natural limits; exaggerate it.
The more general your opponent's statement becomes, the more objections you can find against it.
The more restricted and narrow your own propositions remain, the easier they are to defend.


"O delegado Hegel dos EUA propõe novos embargos contra o Sudão. Suponho que ele também defenda um bloqueio econômico total e irrestrito contra aquele governo, o que aumentaria a miséria no mais extenso país africano, causaria indescritível sofrimento entre a população civil e agravaria a longo prazo o conflito. Como no Iraque dos anos 90! Os senhores concordam com isso?"


11. If the opponent grants you the truth of some of your premises, refrain from asking him or her to agree to your conclusion.
Later, introduce your conclusions as a settled and admitted fact.

"O senhor fala de um "genocídio" em curso no Darfur, senhor delegado dos EUA. Mas não concorda que o total mensal de vítimas do conflito é atualmente bem menor do que em 2004 ou 2005?"

"Sim, isso é verdade."


"Pois então estamos de acordo, senhor Hegel: a situação está melhorando e não existe "genocídio" nenhum. Vamos mudar de assunto!"



27. Should your opponent suprise you by becoming particularly angry at an argument, you must urge it with all the more zeal.
No only will this make your opponent angry, but it will appear that you have put your finger on the weak side of his case, and your opponent is more open to attack on this point than you expected.

"O senhor está protegendo as práticas assassinas do governo sudanês, delegado Schopenhauer! Estou ultrajado!! Isto é um absurdo!!"

"Para quê tanto escandalo? Não se deve gritar em um ambiente diplomático, caro delegado Hegel. Devo concluir que este é um assunto delicado para o governo americano. Será por causa de suas bases militares no Djibuti e de seus interesses no petróleo do Sudão, um Estado soberano?"


"Hein?! Como assim, petróleo? Bases militares?! Não sei do que o senhor está falando! Pare de defender o ditador sudanês!!"


"Agora tudo fica claro. Quando tocamos nos interesses sensíveis da América, a América fica nervosa..."



29. If you find that you are being beaten, you can create a diversion--that is, you can suddenly begin to talk of something else, as though it had a bearing on the matter in dispute.
This may be done without presumption if the diversion has some general bearing on the matter.

"Aqui tenho relatórios da ACNUR que documentam extensivamente as práticas perversas das milícias janjaweed no Darfur. São testemunhos de massacres, estupros, torturas e outras violações massivas dos direitos humanos. O que o senhor tem a dizer, hein, delegado Schopenhauer da China?"

"Mas que coincidência! Eu tenho relatórios do Banco Mundial que demonstram uma alta de 6% da renda média do Sudão - que inclui o Darfur - nos últimos anos. Vamos discutir estratégias para consolidar essa expansão econômica sudanesa, pois a paz é conseqüência da prosperidade."


33. You admit your opponent's premises but deny the conclusion.

Example: "That's all very well in theory, but it won't work in practice."

"O delegado Hegel dos Estados Unidos quer mandar trinta mil peacekeepers para o Sudão. Isso é muito bonito no papel, mas o inferno está cheio de boas intenções. Resoluções passadas já autorizaram grandes contingentes de forças internacionais no Darfur, mas poucos Estados quiseram enviar suas tropas e o próprio governo sudanês se recusou a recebê-las. Não funcionou! Portanto, sejamos pragmáticos. Já que é impossível mandar tropas para a região, vamos colaborar com o governo sudanês para resolver pacificamente o problema!"

terça-feira, 20 de novembro de 2007

O papel do "nacionalismo transferido" em modelos


Que modeleiro nunca cantou o hino do seu país, ao menos em uma de suas viagens?

Que modeleiro nunca empunhou com orgulho uma bandeira estrangeira, cumprimentou o Presidente na língua oficial, experimentou algum prato da culinária do país que representava, encorajou a delegação a cantar uma música típica...?

O nacionalismo têm um papel importante em modelos. Evidentemente, não o nacionalismo-padrão, do contrário (quase) todos torceriam pela delegação do Brasil, até nos comitês em que o Brasil não está!

Estou falando do nacionalismo transferido. Uai, mas existe isso?

Bem, digamos que, em 1945, a Carta das Nações Unidas não foi o único documento internacional importante produzido. Também tivemos Notes on Nationalism, um ensaio do mestre George Orwell. O autor explica o que é nacionalismo, quais são seus efeitos, e quais os principais tipos de nacionalismo que existiam à época.

Para Orwell, o nacionalismo tem três elementos:

I) Obsessão - "As nearly as possible, no nationalist ever thinks, talks, or writes about anything except the superiority of his own power unit. It is difficult if not impossible for any nationalist to conceal his allegiance. The smallest slur upon his own unit, or any implied praise of a rival organization, fills him with uneasiness which he can relieve only by making some sharp retort."

Entram aqui as mil questões de privilégio pessoal nem sempre bem-vindas ou corretas, os insultos, as críticas ao "modo de vida" dos outros, os provérbios chineses, as expressões em francês, os porta-vozes do Mundo Livre ou do Movimento dos Não-Alinhados, etc.

II) Instabilidade / Transferabilidade - "One quite commonly finds that great national leaders, or the founders of nationalist movements, do not even belong to the country they have glorified. Sometimes they are outright foreigners, or more often they come from peripheral areas where nationality is doubtful. Examples are Stalin, Hitler, Napoleon, de Valera, Disraeli, Poincare, Beaverbrook".

Isto é importante em MUNs, porque Orwell diz que "for an intellectual, transference has an important function which I have already mentioned (...) It makes it possible for him to be much more nationalistic — more vulgar, more silly, more malignant, more dishonest — that he could ever be on behalf of his native country, or any unit of which he had real knowledge." Isto é, eu posso ser muito mais ferventemente nacionalista sobre o Nepal ou a Indonésia do que sobre meu Brasil brasileiro.

III) Indiferença à Realidade - "All nationalists have the power of not seeing resemblances between similar sets of facts. A British Tory will defend self-determination in Europe and oppose it in India with no feeling of inconsistency. Actions are held to be good or bad, not on their own merits, but according to who does them (...)"

Este talvez seja o começo do conceito de doublethink, que Orwell criaria no livro 1984. Fundamental em modelos. A França sob Chirac falou mal dos Estados Unidos pela invasão no Iraque, mas entrou na Costa do Marfim sem pedir autorização a ninguém. Rússia e China falam em "paz" enquanto massacram a moçada, e falam em "responsabilidade" ao mesmo tempo que vetaram incluir Burma / Myanmar na agenda do CS em janeiro deste ano (deu no que deu). O Brasil falava muito em etanol, e pá, "de repente virou a Arábia Saudita", como muito bem disse Diogo Mainardi no Manhattan Connection.

O LANCE - A questão é que o nacionalismo transferido realmente existe, mesmo fora dos modelos - conheço pessoas que certamente demonstram serem nacionalistas transferidos themselves. (Não sei se é um mal da moçada de RI.)

Mais do que isso, ele é um fenômeno concreto nos modelos - por muito tempo após o MONU 2005, eu sempre dava uma certa razão aos monarquistas quando lia notícias sobre o Nepal, de tanto ter me embrenhado no ponto de vista do Rei Gyanendra. Ainda penso um pouco assim - afinal, os inimigos são os terroristas maoístas!

Da mesma forma, ainda guardo um certo carinho pelo Zimbábue e pelo Chile, embora eu tenha ojeriza ao Mugabe e não goste da Bachelet. E morro de saudades da minha Indonésia, mesmo nunca tendo estado lá. E juro, às vezes chego mesmo a acreditar que o programa nuclear iraniano é pacífico e que a fatwa do Líder Supremo dizendo que as bombas atômicas são anti-islâmicas é sincera.

Perguntas:

I) Em que medida você acha que o nacionalismo transferido te influencia(ou) em seu desempenho como delegado e no avanço dos interesses do país?
II) Em que medida ele ajuda(ou) na coesão da delegação?
III) E em que medida ele torna(ou) o modelo mais divertido?

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Troca-troca no Conselho?


Há exatamente um mês foi anunciada a composição do Conselho de Segurança em 2008. Foram eleitos Burkina Faso, Costa Rica, Croácia, Líbia e Vietnã.

É verdade que os EUA não consideram mais a Líbia um estado patrocinador do terrorismo, que a Costa Rica não é nenhuma Cuba, e que eu não tenho a mínima idéia de quais são as relações entre EUA e Burkina Faso.

Mas vou lançar aqui uma hipótese: rolou negociata entre os P-5 nessa eleição, para eleger uma "rodada mais pró-EUA" em 2006 e especialmente 2007, e agora chegou a vez das Líbias e Vietnãs da vida.

Cito aqui uma análise da Strafor de outubro de 2006:

Ghana, Slovakia and Peru, particularly after Peruvian presidential elections this summer, are openly pro-American. Qatar provides a few complications because of its concerns over Iran, but so long as Qatar remains the single largest destination for U.S. investment in the region, as well as the headquarters for U.S. Central Command, Qatar can certainly be considered a firm ally, albeit not a mindless pawn. That leaves only the Republic of the Congo as a wild card (...)

(...) Belgium and Italy, though currently led by governments that are certainly not pro-Bush, are still NATO allies, and rarely break with Washington on anything truly important. Indonesia and the United States are once again moving toward a formal alliance; relations are now warmer than they have been at any time since the Cold War. And in general, Washington gets along with South Africa so long as the United States broadly defers to Pretoria in issues in the South African neighborhood. (Considering the oftentimes sketchy nature of that neighborhood, Washington almost always prefers to support whatever Pretoria is doing (...)

Quer dizer, a composição não-permanente do Conselho em 2007 é o paraíso pros EUA: "It went about as well as Washington could have possibly hoped", segundo a mesma análise.

2008 está chegando - saem Qatar, Eslováquia e Peru (no lugar entram Vietnã, Croácia e Costa Rica), os amigões mais pró-Washington. Entra uma moçada mais róquenrrou.

Pra mim, rolou um acordão - elege-se uns mais pró-EUA uma hora, depois libera-se para a moçada "do mal".

Que vocês acham?

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(p.s. eu estou ciente de que os P-5 NÃO PODEM vetar a eleição de um membro não-permanente, na qual a AG manda e pronto.)

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Resolucionismo

(Ante scriptum: crédito pela idéia deste post vai a Amanda Caldeira e Frederico Bartels, ambos modeleiros da Vetusta Casa da PUC-MG, que fizeram a discussão original a respeito deste tópico, e com quem pude trocar algumas idéias a respeito durante o UFRGSMUN 2007. Kudos!)

Nós não nos damos conta, mas boa parte dos modeleiros brasileiros são resolucionários.

Não, não foi um erro de digitação. O termo é "resolucionário" mesmo. Resolucionismo é uma tendência de MUNs, não só no Brasil mas também fora, segundo a qual todo comitê, para ser considerado bem-sucedido, tem que aprovar necessariamente uma resolução ou coisa que o valha como prova de que a simulação foi um sucesso.

Alguns diriam que essa é uma característica dos modelos - afinal, temos que ter algum resultado concreto para justificar todo o trabalho que nós tivemos para montar comitê, escrever guias de regras e de estudos, moderar e ficar em uma sala por cinco dias... Essa questão "objetivista" do MUN faz bastante sentido, se considerássemos um MUN como algo fechado em si mesmo (o que desvirtua toda a noção de simulação, mas isso é outra discussão).

O que muitos modeleiros, delegados e diretores, esquecem é que é completamente normal um comitê não aprovar uma resolução após tantos dias de trabalho. Um comitê não se reúne quatro ou cinco dias por ano como um MUN faz. Nós sabemos muito bem que, na vida real, se nada for aprovado hoje, paciência, amanhã é outro dia, tentaremos de novo. Mas eu duvido que algum leitor deste blog não tenha passado por aquela pressão que se monta em uma simulação na última sessão do modelo, a meia-hora do almoço, quando ainda não há resolução pelo menos em discussão ou em processo de emenda.

Outra circunstância possível é a aprovação de resoluções muitas vezes sem conteúdo algum ou pouco relevantes apenas pela "satisfação " de ter aprovado alguma coisa. Isso é ainda mais prejudicial do que não aprovar nada, pois necessariamente implica em muitos delegados "abstraírem" de suas políticas externas em prol do resolucionismo do modelo.

Esta característica de modelos é bastante comum, e é infinitamente mais evidente nas simulações do Conselho de Segurança da ONU Brasil e mundo afora. Um veto é quase sempre visto com maus olhos - tudo bem que há casos e casos de vetos desnecessários ou mal-utilizados, mas mesmo naqueles em que um veto é completamente justificável por razões de Estado, o coitado do delegado tem que suportar uma pressão imensa de todos os lados para deixar o texto passar "em nome da cooperação". Só que nós sabemos muito, muito bem que não é assim que funciona. Por que, então, insistimos tanto no resolucionismo?

Uma explicação possível é a necessidade de mostrar algum resultado da conferência a patrocinadores ou apoiadores institucionais - que, muitas vezes, são incapazes de compreender que não aprovar nada em simulações como essas pode ser normal e até desejável academicamente. (Falo por mim quando digo que aprendi mais nas vezes em que nada foi aprovado do que quando tudo passou por consenso.) Mas eu não sei até que ponto isso pode ser uma real influência no comportamento.

Outra explicação, um pouco mais simples, seria apenas as pessoas não encaixarem bem na cabeça a idéia de que estão na ONU, e não em um lugar que simula a ONU - em outras palavras, realmente assumir que estão role-playing. Sou pessoalmente partidário desta posição, pois sempre há muita gente nova que não pega bem o espírito da coisa logo na primeira viagem, e aqueles que compreendem o espírito da coisa não conseguem dar conta de fazer o comitê funcionar 100% como uma simulação por conta disso.

Obviamente, há casos em que a não-aprovação de uma resolução realmente é algo tenebroso e fora do comum, mas são poucos - principalmente em simulações de gabinetes e organismos menores (como o G8, por exemplo).

Há também a possibilidade de aprovação de outros tipos de documentos - o presidential statement dos UNSC simulados no Brasil de uns anos para cá é um bom exemplo: um documento sem a mesma força (e necessidade de trabalho intelectual) de uma resolução, fato, mas muito mais realista e plausível do que uma resolução toda vez que uma situação muda.

De onde vem essa mania nacional, então? Será que o resolucionismo é necessariamente algo prejudicial, ou mesmo inerente a qualquer modelo?

Sound off, readers!

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Perspectivas e Práticas: Parte I

Em um post há alguns meses atrás eu comentei sobre a questão do espaçamento (ou a falta dele) entre os modelos, e naquela análise ficou claro que o período Setembro-Outubro era o mais crítico da modelagem nacional.

Chegando ao final do mês de outubro - restando somente o UFRGSMUN e o MONU dos chamados "grand slam" - começam a se desenhar perspectivas pro ano vindouro. Na mesma semana é anunciado o novo Secretário-Geral do AMUN (Rodrigo Wiese Randing, a quem interessar possa) e MIRIN (Daniel Q. Edler), a SiEM prepara para escolher seu novo secretariado, assim como a SOI, que deve fazê-lo até o final da próxima semana.

Em momentos assim, de virada de página, nós modelistas nos deparamos com muitas perguntas complicadas e incontornáveis, desde a natureza da sucessão de um Secretariado (um dos exemplos mais claros na Modelândia de como ser e dever ser não se conjugam nem como rima), Como escolher comitês e tópicos a simular, e, claro, qual será a boa de 2008. Até agora somente o TEMAS pôs as cartas na mesa. What comes next?

Fear not, camarada modeleiro! Este blog metamorfo vai apresentar a seguir algumas sugestões, críticas e opiniões que nós gostaríamos de ler e ouvir na hora de organizar um modelo. O leitor pode se sentir à vontade para contribuir, como já o fez de costume. Com a participação de toda a comunidade, com certeza teremos um ano novo devidamente planejado para nos levar a caminhos inexplorados e desafiadores.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A Biblioteca de Guias de Estudo

Contagem atualizada: 144 Guias. (23/10)

O Blog Modeleiro/Representatives gostaria de iniciar um projeto ambicioso que visa a congregação de todos os Guias de Estudo já produzidos no Brasil em uma única fonte, para pesquisa e usufruto de toda a comunidade modeleira.

Interessados em colaborar, por favor enviem os arquivos dos Guias de Estudo pro e-mail correiodiplomatico@gmail.com com o nome da simulação, ano e temas (para facilitar na designação de palavras-chave).

Este post será fixado na lateral do blog para uso futuro.

Reafirmamos a importância que toda a comunidade modeleira colabore para termos o acervo mais completo possível. Dentro de alguns meses já será possível traçar alguns padrões com base no material reunido (comitês e temas mais simulados, ONU ou não, Históricos ou Atuais, etc.).

Chefes de simulações com interesse de colocar todos os seus guias de uma vez em nossos arquivos por favor entrem em contato.

RSS: Para informações sobre adições à Biblioteca, inclua o endereço http://www.box.net/public/8p2ubrmgz7/rss.xml em seu leitor de RSS favorito.



O glorioso retorno!

Camaradas da Modelândia!

Os editores desde vetusto blog pedem mil perdões, ele tem estado às moscas, mas isto está prestes a mudar. Em breve faremos algumas reformas de cunho visual e operacional, nada grave. Após um combo de modelos seguidos em nos quais nós fizemos parte individualmente ou em grupo (AMUN-SiEM-GC-SOI) e mais alguns que em que visitaremos ainda este ano (UFRGSMUN e mais especialmente o MONU, participação especial!) andamos cheios de material para debater com os senhores.

Todavia, nunca é demais ressaltar que permanecemos abertos a colaborações externas, fora dos editores fixos. Nós inclusives precisamos de mais colaboradores eventuais que tenham interesse em se fixar conosco, nossos quadros andam voláteis com as viagens e ocupações acadêmicas de nossa equipe.

Temos dois projetos especiais para revelar aos senhores, e o faremos em breve. Enquanto isso, pode espalhar ao modeleiro amigo que estamos à todo vapor!

Nos vemos em breve!

Wagner Artur

sábado, 29 de setembro de 2007

Profissão: modelista

Entre muitas outras coisas, modelos da ONU são uma ferramenta de aperfeiçoamento profissional. Com eles aprendemos a negociar, escrever documentos formais e falar em público, três habilidades importantes para quase qualquer carreira. Mas as simulações também podem gerar empregos? Podemos ver a modelagem como uma atividade econômica? É possível ganhar dinheiro organizando MUNs?

Sim, tudo isso é possível.

No Brasil existem cerca de dez pessoas que literalmente trabalham (ie ganham a vida, recebem salário) organizando modelos da ONU. Elas geralmente labutam em microempresas ou em ONGs educacionais, como a Internationali Negotia (IN), que organiza diversos modelos secundaristas em Brasília, a UNIR Consultoria Educacional, que é de Belo Horizonte mas trabalha principalmente com o Fórum FAAP, e a Associação das Nações Unidas do Brasil (ANUBRA), responsável pelo Global Classrooms São Paulo. Isso sem contar os alunos que recebem bolsas de estudos para organizar MUNs, mas que tecnicamente não são profissionais.

Não se deve idealizar a "profissão modelista". O trabalho nestes lugares é em grande parte burocrático e consiste em lidar com patrocinadores exigentes, chefes ignorantes, fornecedores instáveis e professores barulhentos, entre outras categorias sociológicas durkheimianas. Ganha-se pouco. Mesmo assim, ça vaut la chandelle. Pode-se aprender bastante e conhecer muita gente interessante. Eis uma boa alternativa de emprego ou estágio para estudantes e recém-formados que possuam longa experiência prévia em MUNs.

Se a tendência atual se mantiver, e os MUNs continuarem a se consolidar no Brasil, os modelistas profissionais vão se multiplicar. Conhecendo um pouco o setor, creio que existe mercado para isso em pelo menos seis ou sete Estados da federação. Faz todo o sentido capitalizar o know-how dos mais antigos para transformar a modelagem em uma atividade cada vez mais sólida, séria e estável.

Até aqui tudo parece maravilhoso, mas o surgimento da modelagem profissional traz dois problemas, um ético e outro concreto.

Não é errado ganhar dinheiro, não é errado organizar modelos da ONU e não é errado ganhar dinheiro organizando modelos da ONU. No entanto, o espírito original da modelagem inclui uma boa dose de voluntariado idealista, e seria no mínimo triste reduzí-la a um serviço como outro qualquer.

O risco concreto é ainda mais grave. Chama-se dependência. Se for preciso contratar uma consultoria de modelistas antes de organizar qualquer MUN, assim como é necessário contratar a Sabesp para instalar o encanamento, estaremos perdidos.

Como diriam Robert Heinlein e o Camarada Mao, especialização é para os insetos - andemos com nossas próprias pernas! Assinam embaixo, caros leitores?

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Jack Bauer: Missão Vaticano [atualizado]



Babá Egípcia, Jack Bauer Cearense, a criatividade modeleira não tem limites.

Encenado, editado, bolado, convocado e patrocinado pelo pessoal da
SONU-CE.

PS: Participantes do Concílio Vaticano II da SiEM argumentariam que anjos com espadas de fogo são bem mais eficientes - e também falam latim.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

As tribulações de ser um Secretário-Geral

(Ante scriptum: a idéia da abordagem neste post é fruto de uma conversa de MSN com nosso amigo Diego Canabarro, ex-Secretary-General do UFRGSMUN. Kudos!)

Há duas frases que podem resumir bem o que é o trabalho de um Secretário-Geral de um modelo brasileiro. A primeira frase é de quem o Cedê considera ser o maior filósofo da Humanidade, Ben Parker: With great power comes great responsibility. A segunda frase é quase tão velha quanto o tempo – no pain, no gain.

O caso prático em questão é o da minha aventura (e a dos outros integrantes deste blog) na SiEM 2007, modelo do qual eu fui o Secretário-Geral Acadêmico (posto ocupado ano passado pelo Napoleão). Não falarei especificamente do modelo em si aqui – quem quiser procurar em outros lugares mais apropriados irá achar. Quero dar uma breve visão sobre o que é ser um SG.

A melhor maneira de falar sobre o cargo e a responsabilidade de um SG é vê-lo como um maestro, um condutor. Organizar um modelo é lidar com uma miríade de pessoas de backgrounds parecidos mas diferenciados, todos trabalhando em prol de um bem comum. Essa é uma constatação potencializada, no caso específico da SiEM, por termos diretores do Brasil inteiro – algo único nos modelos daqui. Diretores e staff formam o corpo de músicos, cada qual se subdividindo em "mini-orquestras" - cada comitê sendo simulado e o staff administrativo que permeia todo o evento.

Como todo maestro, não somos nós que tocamos os instrumentos. Isso seria fisicamente impossível, é claro. Nosso maior trabalho como SG é balancear as forças e limitações de todo um grupo para que todos, sem exceção, façam seu melhor, garantindo não apenas o sucesso individual de Fulaninho como diretor ou staff (e, assim, incentivando-o a voltar para os modelos), mas também o sucesso coletivo de todo o modelo (que empolga nossa platéia participativa – os delegados – e cria nossa "clientela" de modelos).

Do lado acadêmico, que é o que focarei aqui dada minha posição, cada comitê é uma sinfonia com seus movimentos. Diretores e delegados fazem suas partes de modo a deixar a sinfonia mais ou menos sincronizada, de acordo com suas competências. Cabe a nós, pobres SGs, colocar ordem na casa para que a sinfonia saia bem ou não.

Algumas sinfonias têm mais movimentos, outras menos; mais instrumentos ou menos instrumentos; músicos mais capazes ou músicos menos capazes. A variedade de situações e problemas que temos que enfrentar pode ser estonteante, pois nunca há uma solução mágica única para todos os comitês. Por isso é importante que o maestro saiba de cor e salteado cada um dos movimentos previstos, obviamente um trabalho considerável.

É uma operação consideravelmente complexa, exigente e muito cansativa. Mas o alívio que se sente quando tudo acaba sem maiores problemas (ou com tudo sob controle) é apaixonante, e é o que faz lembrar o porquê de participarmos de modelos in the first place: é a convivência.

Mas repetir a posição de SG em um mesmo modelo não é algo bom. Primeiramente, a renovação faz parte da evolução da cultura. Segundamente (sic), não faria sentido que uma mesma pessoa fosse SG de novo por qualquer motivo - é algo cansativo demais para que alguém tope fazer pela segunda vez...

sábado, 15 de setembro de 2007

Separating for Peace

Dizem que a evolução leva à especialização. As Ciências Naturais um dia se cindiram em Física, Química, Astronomia, Geologia e afins. Os Modelos da ONU deveriam seguir o mesmo caminho?

Isso é o que tem acontecido no exterior. Na Europa e no Oriente Médio, nem toda simulação se chama Model United Nations: algumas conferências se denominam Model European Union, Model G-8 ou Model Arab League, por exemplo. Ou o Model OAS, mais perto do Brasil. As regras e a dinâmica são quase iguais, mas a idéia é concentrar tanto o trabalho acadêmico (pesquisa) como a labuta administrativa (fundraising) em torno de uma única organização internacional que não necessariamente seja a ONU.

Pensem no que já existe no Brasil. Três exemplos. Na SIMUN, os comitês propriamente onusianos foram apenas 55% neste ano (5 comitês em 9), e no ano que vem serão 37% (3 em 8). O TEMAS teve 40% de ONU neste ano (2 comitês em 5) e na próxima edição vai ter meros 20% (1 em 5). A ONU representou 50% da SiEM em 2006 (3 comitês em 6) e, pasmem!, somente 14% dos comitês deste ano (1 em 7).

SIMUN, TEMAS e SiEM são realmente Modelos da ONU? Com exceção da SIMUN, que tem "Nações Unidas" em seu nome, eles oficialmente preferem se chamar Simulações de Organizações (ou Negociações) Internacionais (ou Nacionais). Será este o primeiro passo rumo à separação entre MUNs e não-MUNs? Entre Modelos da ONU e Modelos Bizarros?

Acho que não. Estes modelos, e os outros que os estão imitando, não se especializaram em alguma organização internacional. Não haveria nada a ganhar com uma cisão. Enquanto um Model European Union pode tentar o patrocínio da própria Comissão Européia e atrair estudantes interessados em trabalhar para a UE, quais seriam os ganhos de um Modelo da ONU que decidisse se tornar simplesmente um "Modelo Não-ONU"?

Entretanto, é impossível garantir que a atual diversificação dos MUNs brasileiros não leve, algum dia, à criação de outras atividades/conferências estudantis e paralelas, mais ou menos como o Jessup, para os alunos de Direito, a Simulação do Congresso que existe em Brasília, para os politólogos, ou os Debating Clubs que são muito populares na América do Norte.

Concordam? A árvore da modelagem ainda vai dar frutos com novos sabores?

sábado, 25 de agosto de 2007

A vida imita a arte


NORFOLK, Va. – NATO leaders and Headquarters Surpreme Allied Commander Transformation staff members will participate in the Modelling and Simulation World 2007 Conference & Expo Sept. 11-13 at the Virginia Beach Convention Center, located in Virginia Beach, Va.

MODSIM WORLD is the premier international conference and exposition for collaboration and transfer of modelling and simulation knowledge, new research, development and applied technology across all public and private sectors to support and enhance leadership and management decision-making.
(...)
The conference will include presentations, exhibits and business meetings for professional societies. Contributions to the technical programme will be in the areas of modelling, simulations and gaming applied to four programme tracks: medical, transportation, homeland security and defence, education and training.
(...)
For more information about the MODSIM World conference, visit the conference web site: http://www.modsimworld2007.com/.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Modelagem bizantina


Mais um episódio da saga "modelando pelo mundo".

Eis que seis brasileiros doidivanas resolveram simular a ONU no Oriente. Sim, Oriente, pois o Istanbul International Model United Nations acontecia na metade asiática da Cidade de Constantino. E, de qualquer modo, essa história de Turquia "laica-portanto-ocidental" é conto da carochinha.

Modelo pequeno mas aconchegante, com cheiro de comida da vovó. Duzentos delegados instalados em cinco comitês tradicionais. Esta foi a primeira edição do IIMUN, mas a Modelândia turca já possui uns sete anos de idade, quase empatando com a nossa. A proporção de delegados estrangeiros era extraordinariamente alta para um MUN no seu primeiro ano: uns 60% de forasteiros, naturais de vinte diferentes países, da Holanda a Cingapura.

Agora pasmem, amigos modeleiros: todos os organizadores do IIMUN, sem exceção, estavam no administrativo. Simplesmente não havia equipe acadêmica até sete semanas antes do modelo, quando os diretores e assistentes foram selecionados por application online. Eu fui recrutado pra presidir o Conselho Europeu.


Este método tem um lado bom: o corpo de diretores era rico e variado, muito melhor do que os adolescentes espinhudos e levemente bêbados que moderam os comitês do Harvard WorldMUN. Em compensação, a liberdade acadêmica dos diretores estrangeiros é quase nula. Eu fiquei meio irritado por ter que escrever um guia de estudos sem ao menos poder escolher os tópicos de meu comitê; eles foram definidos antecipadamente pelo secretariado.

Meu comitê funcionou bem e estável, sem maiores sobressaltos. Em compensação, o nível foi fraco no DISEC - onde estavam a gauchissima Lena Jornada e o paulista Heitor Miranda - e especialmente no UNSC, onde nosso delegado era o garoto-prodígio Guilherme Pastore. Resoluções ilógicas e ultra vires, diretores que interrompem delegados para falar bobagem na hora errada, usw.

O que realmente estragou os comitês do Istanbul MUN foi a infeliz parceria do secretariado com uma certa Comunidade de Modelistas Independentes. Este nome pomposo designa um clube de modeleiros turcos que reproduzem pateticamente uma hierarquia militar, consideram-se "chanceleres" e "conselheiros" e desfilam orgulhosamente com medalhinhas de papel que representam a experiência ganha em MUNs. Em uma frase, eles são o equivalente modeleiro dos trekkers: gente que leva um hobby a sério demais, caindo no ridículo. Estes neonerds do Oriente Médio foram designados para coordenar todo o setor acadêmico da simulação. Foram os responsáveis pelo fracasso do UNSC e do DISEC, citados acima. Apelidamos o chefe do grupo, homem deveras espaçoso, de "Nhonho Otomano". Ele lembrava vagamente a Babá Egípcia.

Mas a organização, ah, meus amigos! Essa foi digna dos caprichos do Sultão. Festas no Bósforo. Piscina para os delegados. A balada do Michael Schumacher. Transporte eficiente para as massas modeleiras. Alojamento confortável e barato para todo mundo no campus da universidade, onde ocorria a simulação. Apenas uma falha séria: em pleno verão turco, ninguém providenciou ventiladores, muito menos ar-condicionado.


Enfim, o turista-correspondente-modeleiro que vos escreve trouxe uma certeza da Turquia, confirmando impressões adquiridas em outros MUNs internacionais. Os modelos brasileiros estão na vanguarda mundial em termos acadêmicos, embora ainda possam evoluir um pouco rumo ao profissionalismo administrativo das simulações do Hemisfério Norte. A Modelândia nacional já está maduríssima, quase passando do ponto. Agora precisamos globalizá-la. O mundo tem muito a aprender conosco.

Modelos da ONU. Entre todas as artes, será justamente essa a nossa especialidade? O Brasil é mesmo uma pátria de atores.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Simulações de CSNU e as Regras Específicas

(post de Frederico Bartels, da Puc-MG)

Um dos avanços mais significativos no mundo de modelagem e simulação, após as regras comuns AMUN-UFRGSMUN, foi a mudança que as simulações de CSNU sofreram do AMUN 2006 para frente. Se minha memória não me engana, no AMUN 2005, foi introduzida a possibilidade dos delegados presidirem as sessões do CSNU, porém as mudanças maiores foram no AMUN 2006. Resumidamente, as sessões do CSNU agora eram fechadas ao público, conduzidas pelos próprios delegados e o debate não-moderado era o padrão. As sessões só eram abertas para o público durante o processo de votação, quando se tem uma lista de oradores pequena destinada a comentários sobre a resolução que será votada.

Essas mudanças dinamizaram o CSNU em um nível não esperado e realmente mudaram a maneira que os organizadores de modelo pensam uma simulação do CSNU. Após 3 CSNU recentemente (UFRGSMUN 2006, MONU 2006 e AMUN 2007), arrisco dizer que a forma antiga de se simular o CSNU está ultrapassada. O CSNU do MONU 2006 não fez uso das inovações que já tinham sido utilizadas no AMUN e no UFRGSMUN do mesmo ano e, sinceramente, não parecia um CSNU, parecia mais uma simulação de algum comitê da AGNU com uma dinâmica bem engessada. O paradigma realmente mudou. Pessoalmente, não consigo mais imaginar a moderação sendo exercida pelos diretores de comitê em um CSNU.

Há agora uma consolidação das mudanças que a simulação do CSNU vem sofrendo ao longo do tempo, sempre buscando o passo além em busca da inalcançável perfeição. Até mesmo o CSNU do TEMAS 2007, mesmo com um dos diretores bastante conservador a respeito destas mudanças, aplicou as novas regras com êxito. No AMUN 2007, houve ainda uma outra inovação que foi o chamado programme of work, que oferecia uma nova dinâmica ao CSNU colocando limitações temporais aos debates sobre cada tópico. O programme of work enfrentou alguns problemas devido à forma como foi trabalhado nas regras[1], contudo é uma inovação importante.

Porém, ainda há um grande caminho a ser percorrido. Principalmente sobre como os delegados do CSNU vêem o comitê, tive a impressão genuína durante o AMUN 2007, que muitos dos delegados não conheciam outros meios de ação do CSNU que não uma resolução, além de um grande receio de não aprovar uma resolução. Receios estes que vêm, em sua maior parte, do constrangimento temporal imposto pela simulação em si. Não consigo ver a não aprovação ou a não votação de uma resolução como um problema, o CSNU está reunido sempre e vai retornar a questão em momento posterior.

O próximo passo rumo é justamente soltar as amarras do pensar como um modeleiro e não como um representante real de seu país naquela instância. Além de, obviamente, corrigir as falhas que foram encontradas nas regras específicas recentemente. O importante agora é explicitar os erros e acertos dos modelos para que eles não sejam cometidos em modelos futuros.

Frederico Bartels, 20 anos, RI/PUC.Minas.



[1] Caso o leitor deseje um comentário mais profundo sobre essa e outras questões pontuais das regras específicas do CSNU, envie-me um e-mail (frederico.bartels@gmail.com) que envio um documento de minha autoria que aborda estas questões mais profundamente.

sábado, 4 de agosto de 2007

Quadros de Medalhas XAMUN

TERCEIRA E ÚLTIMA TABELA (segunda dia 6, 15:01)

Quadro de Medalhas XAMUN – Os Estados Campeões

Estado

Prêmios

Menções Orais

1º Minas Gerais

10

5

2º São Paulo

6

6

3º Rio Grande do Sul

5

2


NOVA TABELA! (segunda dia 6, 14:43)


Quadro de Medalhas XAMUN – Critério Nº de Prêmios

País

Prêmios

Menções Orais

1º Estados Unidos (PUC-Minas)

6/6

0

2º Reino Unido (UFRGS)

4/7

2

3º Indonésia (UFMG + PUC-Minas)

3/6

1

4º Brasil (UFMG)

1/5

2

5º Cuba (UFAM)

Japão (USP)

Peru (PUC-SP)

1

1

6º Alemanha (PUC-SP)

Anistia Internacional (USP)

Dinamarca (USP)

Federação Russa (PUC-Rio + Estácio)

Malta (UnB)

Turquia (USP)

Venezuela (UFRGS)

1

0

Total

24 (5+19)

8 (16-8)

QUADRO DE MEDALHAS XAMUN – Critério Pan-Americano de Ranqueação

País

Ouro (Best Delegate)

Prata (Menção Honrosa)

Bronze (Menção Oral)

1º Estados Unidos (PUC-Minas)

2

4

0

2º Indonésia (UFMG + PUC-Minas)

1

2

1

3º Alemanha (PUC-SP)

Turquia (USP)

1

0

0

4º Reino Unido (UFRGS)

0

4

2

5º Brasil (UFMG)

0

1

2

6º Cuba (UFAM)

Japão (USP)

Peru (PUC-SP)

0

1

1

7º Anistia Internacional (USP)

Dinamarca (USP)

Federação Russa (PUC-Rio + Estácio)

Malta (UnB)

Venezuela (UFRGS)

0

1

0

8º Colômbia (UNESP)

0

0

2

9º Chile (USP)


Gana (PUC-Minas)

Israel (UnB)

Itália (PUC-SP)

Romênia (CeuB)

Sudão (PUC-Minas)

0

0

1

Total

5

19

16