segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Venda sua alma

Estou aqui preparando um long overdue texto sobre o conceito acadêmico e fenômeno cultural que é a vendidagem nos MUNs brasileiros.

Mas antes, eu quero ouvir um pouco dos leitores qual é a perspectiva deles sobre vendidagem. Sejam sinceros: digam o que acham que é, se ajuda ou atrapalha, se tem cura, ou mesmo se não têm a menor idéia do que seja. Quero juntar estas opiniões ao texto que publicaremos em alguns dias.


sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Você Sabia?

Nessa baixa temporada de modelos é meio complicado pra nós arranjar material novo e interessante para manter nossos amigos modeleiros entretidos. Então vou aproveitar pra compartilhar com vocês um pouco das minhas pesquisas monográficas, direto dos registros oficiais da Conferência de São Francisco (CSF), com as propostas e emendas enviadas pelas mais diversas delegações após a Conferência preparatória de Dumbarton Oaks para a criação da ONU! E realmente temos coisas bizarras e curiosidades inúteis nestes documentos. Afinal...

VOCÊ SABIA?

Tema de hoje: A Composição do Conselho de Segurança!

- Que Honduras e Irã já pediam desde a CSF que fossem 15 os membros no Conselho de Segurança?

- Se bem que Honduras também queria que desses, 3 países fossem latino-americanos...

- Que o Equador, por sua vez, sugeriu 13 membros. Zagallo, anyone?

- Que o Canadá pediu que a referência ao status da França como potência que futuramente deveria ser membro permanente deveria ser *deletada*. Isso mesmo, do verbo deletar. Em 1945? Também não fazia idéia.

- Que o Brasil, pra variar, já queria ser membro permanente?

- Que a França pediu pra que a metade dos membros não-permanentes eleitos fosse escolhida entre os países que "contribuem ativamente para a segurança". Duas perguntas: O que exatamente "contribuir ativamente" quer dizer? E a outra metade, vai no palitinho?

- E o mais chocante: o México já queria 6 membros temporários e 6 semi-permanentes, em adição aos P-Five! Senhoras e senhores, são mais de 60 anos da mesma política externa! Haja firmeza!

domingo, 13 de janeiro de 2008

O Grande Mapa da Modelândia

Os modelos da ONU brasileiros seguem o Princípio das Vantagens Comparativas de David Ricardo. Cada um se especializou em algo: comitês históricos, temas jurídicos, organizações regionais e por aí vai. Já discutimos isso muitas vezes neste blog.

O que menos gente já percebeu é que existem identidades regionais entre os MUNs. Cada Estado brasileiro possui um jeito diferente de simular a ONU, uma filosofia própria, prioridades específicas. A modelagem carioca não tem nada a ver com a modelagem gaúcha, por exemplo.

Sabendo disso, resolvi desenhar um revolucionário Mapa-Múndi da Modelândia, traçando paralelos entre as características modelagem de cada Estado brasileiro e o papel de alguns países no sistema internacional. Cliquem no mapa abaixo e vejam as descrições de cada Estado. Peço perdão pelas generalizações e suplico bom-humor aos leitores!

Mapa da Modelândia
Franco-Brasília

O mais antigo Estado modeleiro na verdade não é um Estado. Trata-se do Distrito Federal. As regras de procedimento, o formato dos comitês, o espírito da modelagem brasileira, tudo isso surgiu em Brasília. No contexto da modelagem brasileira, a posição de Brasília é equivalente à da França - o país que inventou a diplomacia moderna. Assim como Paris já não é o que era antigamente, a influência relativa dos modeleiros do DF diminuiu nos últimos anos, graças à proliferação dos modelos e a jeitos inovadores de simular. Ainda assim, a capital federal continua a ser o centro da Modelândia, o principal padrão de referência dos novos MUNs que surgem a cada ano. O AMUN ainda é o modelo mais cosmopolita do Brasil.

Gaúchos da Helvécia

O Rio Grande do Sul é hoje o principal pólo da modelagem tradicional no Brasil. Nos últimos cinco anos, os gaúchos consolidaram uma reputação de comitês sólidos, confiáveis e convencionais. No Sul se simula apenas o sistema ONU, aquele feijão-com-arroz que alimenta e fortalece. Nada de aventuras arriscadas. A especialidade local é o direito internacional. Na realidade, o RS é um centro modeleiro relativamente pequeno, com apenas um modelo universitário consolidado, o UFRGSMUN, e outro secundarista a caminho, o UM. Pelo legalismo, pelo conservadorismo, pela seriedade e pela influência desproporcionalmente grande em relação ao seu tamanho, o Rio Grande do Sul é claramente a Suíça da modelagem nacional.

Estados Unidos Paulistas

Graças ao seu peso econômico e demográfico, São Paulo é, para o bem ou para o mal, o equivalente dos Estados Unidos entre os MUNs nacionais. Assim como os EUA concentram uns 20% de toda a economia mundial, pelo menos 1/4 de todos os modelos brasileiros acontecem em SP - não apenas na capital, mas também em cidades como Franca, Santos e São José dos Campos. A terra de Obama está rachada entre democratas e republicanos de todas as tendências; do mesmo jeito, em São Paulo convivem modelos tradicionais e outros mais excêntricos, que de vez em quando brigam entre si mas depois se reconciliam. Assim como a atitude americana em relação ao resto do mundo oscila sempre, SP às vezes hesita entre a liderança e o isolacionismo na Modelândia. Porém, como Brasília, tem uma posição privilegiada no sistema.

Indocarióquia

Já o Rio de Janeiro está para a modelagem brasileira como a Índia está para as relações internacionais. É um centro modeleiro que demorou um pouco para se organizar, mas que nos últimos anos demonstrou uma vitalidade impressionante, crescendo muito rápido e se estabelecendo entre os principais pólos de MUNs de nosso Brasil Varonil. Note que eu comparo o Rio à Índia e não à China: ao contrário do boom chinês, que é controlado por um governo autoritário, o boom indiano acontece em clima de saudável e alegre bagunça. É parecido no RJ, onde a coordenação entre os modelos pode ser um enorme desafio, mas onde não falta criatividade e inovação na hora de definir comitês e temas. À imagem dos sociáveis indianos (mas não dos disciplinados chineses), os modeleiros cariocas são os mais festeiros do Brasil.

Minas Russas

Podemos comparar Minas Gerais à Rússia. Assim como os diplomatas russos, capazes de entortar o direito internacional e ganhar qualquer discussão, os modeleiros de Minas são famosos pelo alto desempenho. A Escola Mineira de Vendidagem é a mais reputada do Brasil, e provavelmente detém o recorde de prêmios individuais e coletivos. A Rússia não tem condições de superar a economia americana ou o prestígio europeu, mas possui triunfos suficientes para ser um centro alternativo de poder. Do mesmo jeito, Minas não tem como organizar mais modelos do que SP ou RJ, mas conseguiu se afirmar como um pólo crucial da modelagem nacional e participa de todas as discussões sobre a integração dos MUNs. Além disso, o mineiro Vetusto Douto foi amigo e conselheiro de Vladimir Lenin, como todo mundo sabe.

África Grande do Sul-Norte

O Rio Grande do Norte, pioneiro e por muito tempo solitário entre os modelos da ONU no Nordeste, ocupa a posição da África do Sul no nosso tabuleiro. Assim como a terra de Mandela em relação às grandes potências, os potiguares estão geograficamente isolados, e enfrentam problemas estruturais para o crescimento, como a relativa escassez de universidades locais e as dificuldades de transporte. O RN é um Estado bem menor e menos rico do que os grandalhões do Sudeste. Ainda assim, na linha da África do Sul pós-apartheid, os modeleiros potiguares encontraram soluções criativas para seus problemas. A SOI soube conciliar comitês tradicionais com experiências novas, ganhou a fama de modelo mais hospitaleiro e alegre do Brasil e hoje possui um lugar de direito na Távola Redonda dos MUNs nacionais.

Tai-Bahia, Piauegito e Cearenses do Chapolim

A recompensa pelo esforço potiguar veio nos últimos três anos, quando surgiram novos centros modeleiros nordestinos. Eles são descendentes da modelagem do RN, mas também possuem relações com as simulações do Centro-Sul. Estas jovens escolas de modeleiros estão na Bahia, no Ceará e no Piauí, que vou comparar a algumas economias emergentes deste mundão. Na falta de parâmetro melhor, digamos que a Bahia é a Tailândia por causa da comida picante e da beleza das praias; que o Ceará é o México por causa do sotaque engraçado e da beleza das praias; e que o Piauí é o Egito por causa do calor absurdo e (guess!) da beleza das praias.

Ex-Iugoslavos do Pantanal, Grão-Ducado de Paranaburgo, Manezinhos da Ilha dos Lêmures e República Cazacapixaba

Ainda não acabou. Existem relatos de simulações das Nações Unidas em outros Estados brasileiros, especificamente no Espírito Santo, no Paraná, no Mato Grosso do Sul e em Santa Catarina. São MUNs bastante isolados, que raramente se comunicam com o resto da Modelândia e geralmente não possuem sites próprios. Vamos comparar esses modelos misteriosos a países igualmente enigmáticos. Digamos que em termos modeleiros o Espírito Santo é o Cazaquistão, pois é um satélite natural de Minas Gerais/Rússia; o Paraná é Luxemburgo, um lugar tranqüilo demais para ser interessante; Santa Catarina é Madagascar, um paraíso para modeleiros surfistas; e o Mato Grosso do Sul é a Antiga República Iugoslava da Macedônia, pois não tem litoral e possui um nome irritantemente comprido.