sábado, 29 de setembro de 2007

Profissão: modelista

Entre muitas outras coisas, modelos da ONU são uma ferramenta de aperfeiçoamento profissional. Com eles aprendemos a negociar, escrever documentos formais e falar em público, três habilidades importantes para quase qualquer carreira. Mas as simulações também podem gerar empregos? Podemos ver a modelagem como uma atividade econômica? É possível ganhar dinheiro organizando MUNs?

Sim, tudo isso é possível.

No Brasil existem cerca de dez pessoas que literalmente trabalham (ie ganham a vida, recebem salário) organizando modelos da ONU. Elas geralmente labutam em microempresas ou em ONGs educacionais, como a Internationali Negotia (IN), que organiza diversos modelos secundaristas em Brasília, a UNIR Consultoria Educacional, que é de Belo Horizonte mas trabalha principalmente com o Fórum FAAP, e a Associação das Nações Unidas do Brasil (ANUBRA), responsável pelo Global Classrooms São Paulo. Isso sem contar os alunos que recebem bolsas de estudos para organizar MUNs, mas que tecnicamente não são profissionais.

Não se deve idealizar a "profissão modelista". O trabalho nestes lugares é em grande parte burocrático e consiste em lidar com patrocinadores exigentes, chefes ignorantes, fornecedores instáveis e professores barulhentos, entre outras categorias sociológicas durkheimianas. Ganha-se pouco. Mesmo assim, ça vaut la chandelle. Pode-se aprender bastante e conhecer muita gente interessante. Eis uma boa alternativa de emprego ou estágio para estudantes e recém-formados que possuam longa experiência prévia em MUNs.

Se a tendência atual se mantiver, e os MUNs continuarem a se consolidar no Brasil, os modelistas profissionais vão se multiplicar. Conhecendo um pouco o setor, creio que existe mercado para isso em pelo menos seis ou sete Estados da federação. Faz todo o sentido capitalizar o know-how dos mais antigos para transformar a modelagem em uma atividade cada vez mais sólida, séria e estável.

Até aqui tudo parece maravilhoso, mas o surgimento da modelagem profissional traz dois problemas, um ético e outro concreto.

Não é errado ganhar dinheiro, não é errado organizar modelos da ONU e não é errado ganhar dinheiro organizando modelos da ONU. No entanto, o espírito original da modelagem inclui uma boa dose de voluntariado idealista, e seria no mínimo triste reduzí-la a um serviço como outro qualquer.

O risco concreto é ainda mais grave. Chama-se dependência. Se for preciso contratar uma consultoria de modelistas antes de organizar qualquer MUN, assim como é necessário contratar a Sabesp para instalar o encanamento, estaremos perdidos.

Como diriam Robert Heinlein e o Camarada Mao, especialização é para os insetos - andemos com nossas próprias pernas! Assinam embaixo, caros leitores?

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Jack Bauer: Missão Vaticano [atualizado]



Babá Egípcia, Jack Bauer Cearense, a criatividade modeleira não tem limites.

Encenado, editado, bolado, convocado e patrocinado pelo pessoal da
SONU-CE.

PS: Participantes do Concílio Vaticano II da SiEM argumentariam que anjos com espadas de fogo são bem mais eficientes - e também falam latim.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

As tribulações de ser um Secretário-Geral

(Ante scriptum: a idéia da abordagem neste post é fruto de uma conversa de MSN com nosso amigo Diego Canabarro, ex-Secretary-General do UFRGSMUN. Kudos!)

Há duas frases que podem resumir bem o que é o trabalho de um Secretário-Geral de um modelo brasileiro. A primeira frase é de quem o Cedê considera ser o maior filósofo da Humanidade, Ben Parker: With great power comes great responsibility. A segunda frase é quase tão velha quanto o tempo – no pain, no gain.

O caso prático em questão é o da minha aventura (e a dos outros integrantes deste blog) na SiEM 2007, modelo do qual eu fui o Secretário-Geral Acadêmico (posto ocupado ano passado pelo Napoleão). Não falarei especificamente do modelo em si aqui – quem quiser procurar em outros lugares mais apropriados irá achar. Quero dar uma breve visão sobre o que é ser um SG.

A melhor maneira de falar sobre o cargo e a responsabilidade de um SG é vê-lo como um maestro, um condutor. Organizar um modelo é lidar com uma miríade de pessoas de backgrounds parecidos mas diferenciados, todos trabalhando em prol de um bem comum. Essa é uma constatação potencializada, no caso específico da SiEM, por termos diretores do Brasil inteiro – algo único nos modelos daqui. Diretores e staff formam o corpo de músicos, cada qual se subdividindo em "mini-orquestras" - cada comitê sendo simulado e o staff administrativo que permeia todo o evento.

Como todo maestro, não somos nós que tocamos os instrumentos. Isso seria fisicamente impossível, é claro. Nosso maior trabalho como SG é balancear as forças e limitações de todo um grupo para que todos, sem exceção, façam seu melhor, garantindo não apenas o sucesso individual de Fulaninho como diretor ou staff (e, assim, incentivando-o a voltar para os modelos), mas também o sucesso coletivo de todo o modelo (que empolga nossa platéia participativa – os delegados – e cria nossa "clientela" de modelos).

Do lado acadêmico, que é o que focarei aqui dada minha posição, cada comitê é uma sinfonia com seus movimentos. Diretores e delegados fazem suas partes de modo a deixar a sinfonia mais ou menos sincronizada, de acordo com suas competências. Cabe a nós, pobres SGs, colocar ordem na casa para que a sinfonia saia bem ou não.

Algumas sinfonias têm mais movimentos, outras menos; mais instrumentos ou menos instrumentos; músicos mais capazes ou músicos menos capazes. A variedade de situações e problemas que temos que enfrentar pode ser estonteante, pois nunca há uma solução mágica única para todos os comitês. Por isso é importante que o maestro saiba de cor e salteado cada um dos movimentos previstos, obviamente um trabalho considerável.

É uma operação consideravelmente complexa, exigente e muito cansativa. Mas o alívio que se sente quando tudo acaba sem maiores problemas (ou com tudo sob controle) é apaixonante, e é o que faz lembrar o porquê de participarmos de modelos in the first place: é a convivência.

Mas repetir a posição de SG em um mesmo modelo não é algo bom. Primeiramente, a renovação faz parte da evolução da cultura. Segundamente (sic), não faria sentido que uma mesma pessoa fosse SG de novo por qualquer motivo - é algo cansativo demais para que alguém tope fazer pela segunda vez...

sábado, 15 de setembro de 2007

Separating for Peace

Dizem que a evolução leva à especialização. As Ciências Naturais um dia se cindiram em Física, Química, Astronomia, Geologia e afins. Os Modelos da ONU deveriam seguir o mesmo caminho?

Isso é o que tem acontecido no exterior. Na Europa e no Oriente Médio, nem toda simulação se chama Model United Nations: algumas conferências se denominam Model European Union, Model G-8 ou Model Arab League, por exemplo. Ou o Model OAS, mais perto do Brasil. As regras e a dinâmica são quase iguais, mas a idéia é concentrar tanto o trabalho acadêmico (pesquisa) como a labuta administrativa (fundraising) em torno de uma única organização internacional que não necessariamente seja a ONU.

Pensem no que já existe no Brasil. Três exemplos. Na SIMUN, os comitês propriamente onusianos foram apenas 55% neste ano (5 comitês em 9), e no ano que vem serão 37% (3 em 8). O TEMAS teve 40% de ONU neste ano (2 comitês em 5) e na próxima edição vai ter meros 20% (1 em 5). A ONU representou 50% da SiEM em 2006 (3 comitês em 6) e, pasmem!, somente 14% dos comitês deste ano (1 em 7).

SIMUN, TEMAS e SiEM são realmente Modelos da ONU? Com exceção da SIMUN, que tem "Nações Unidas" em seu nome, eles oficialmente preferem se chamar Simulações de Organizações (ou Negociações) Internacionais (ou Nacionais). Será este o primeiro passo rumo à separação entre MUNs e não-MUNs? Entre Modelos da ONU e Modelos Bizarros?

Acho que não. Estes modelos, e os outros que os estão imitando, não se especializaram em alguma organização internacional. Não haveria nada a ganhar com uma cisão. Enquanto um Model European Union pode tentar o patrocínio da própria Comissão Européia e atrair estudantes interessados em trabalhar para a UE, quais seriam os ganhos de um Modelo da ONU que decidisse se tornar simplesmente um "Modelo Não-ONU"?

Entretanto, é impossível garantir que a atual diversificação dos MUNs brasileiros não leve, algum dia, à criação de outras atividades/conferências estudantis e paralelas, mais ou menos como o Jessup, para os alunos de Direito, a Simulação do Congresso que existe em Brasília, para os politólogos, ou os Debating Clubs que são muito populares na América do Norte.

Concordam? A árvore da modelagem ainda vai dar frutos com novos sabores?