É tudo uma questão de contorcer os números e colocar em evidência o que é mais importante, o grupo ou o indivíduo.
O prêmio de Melhor Delegação existe na maioria dos modelos (com exceção do TEMAS ou outros modelos nos quais o conceito de "delegação" não se aplique), e busca, em tese, premiar a melhor delegação daquela conferência. O quê exatamente torna uma delegação a Melhor, é o que trataremos neste post. Na award policy do AMUN encontramos que:
"A 'Best Delegation' award will also be given during the Closing Ceremony. This choice will take into account several factors, including: cohesiveness of the delegations, delegates' individual performances, fidelity to the represented country's image and foreign policy, and member delegates' participation and behavior – individually and as a group – at all times during the five days of the conference."Por sua vez, o UFRGSMUN afirma que:
"For delegations awards, the individual performances of the delegates will be analyzed from a collective perspective, with regard to the delegation's cohesion and coherence."A SOI não possui uma política expressa de premiação em seu site desde 2005, quando dizia, de forma extremamente genérica que:
"Adicionalmente, é conferido à delegação que mais se destacou em todos os comitês o prêmio de Melhor Delegação, em uma escolha feita por decisão colegiada de toda a organização do evento."Essas definições já bastam para aduzirmos algumas características das premiações de melhor delegação: Analisando os conceitos da SOI e do URFRGSMUN, vemos que é uma decisão tomada de forma coletiva ou colegiada. O AMUN não se pronuncia se adota prática semelhante, tampouco esses dois modelos explicitam como seria essa decisão coletiva (por todos os membros do Staff? membros do secretariado? somente diretores administrativos?). A definição da SOI (que eu acho que fui que que escrevi, então digo logo que é culpa minha) não traz muita informação sobre quais os atributos analisados, coisa que as definições do UFRGSMUN e AMUN elaboram melhor. Os gaúchos destacam a coesão e coerência, enquanto o AMUN ainda observa o comportamento dos delegados e seu desempenho individual ao longo de todo o evento.
Prêmios de Melhor Delegação podem ser extremamente contestados, mas gostaria de concentrar a discussão além da subjetividade inerente ao prêmio, muitas vezes considerado até político demais, mas na natureza dessa premiação. O que se busca realmente premiar, quando se confere a uma delegação esse título tão prodigioso? Na minha visão existem duas alternativas: Premia-se o conjunto de melhores delegados ou o melhor conjunto de delegados. A diferença é sutil, e vai bem além da semântica.
O primeiro caso acontece quando a escolha se dá contabilizando qual das delegações possui mais delegados com desempenho individual de destaque. É o que sugere parte da definição brasiliense: a delegação composta pelo maior número de Phelps é a melhor delegação, é o time com craques, que são premiados em seus respectivos comitês. Calcula-se então pelo número de medalhas de ouro. Quem tiver mais medalhas de ouro, leva o Best Delegation/Melhor delegação. É o sistema adotado na maior parte do Brasil atualmente.
A alternativa seria a premiação dada à melhor equipe, o melhor conjunto. Ser o melhor conjunto é justamente como em esportes de equipe como futebol ou vôlei, ter a maior estabilidade e confiabilidade. O futebol, por exemplo, é farto em exemplos de equipes estreladas que se transformam em um apagão. Cada um brilha por si, mas juntos não iluminam ninguém. Muitas vezes uma equipe mais modesta, mas mais coesa e constante pode conseguir um resultado bem mais satisfatório que seus oponentes. Este é, na minha opinião, o sistema que premia quem realmente merece.
A premiação através da coletânea dos melhores delegados é uma convenção preguiçosa que insistimos em manter, mas contradiz o próprio espírito das simulações. Nós, ao buscar a excelência acadêmica, devemos premiar aqueles que a atingem na representação da sua delegação. Em uma análise coletiva, é imperativo que se analise o que cada elemento do grupo conquistou. Como todos sabemos, relações internacionais não são formadas por eventos isolados, mas por uma realidade em que fatos convergem e influenciam diversas áreas ao mesmo tempo. Uma delegação que teve 75% de sua representação brilhante mas uma parcela irreconhecível jamais deveria ser premiada, não importando que o resto tenha feito um trabalho excelente. Aquele delegado que pisou na história e tradição de sua nação comprometeu seus esforços diplomáticos, aquele Estado saiu daquela conferência com uma representação irregular. Por mais que isso possa acontecer na vida real, lá não há prêmio. E, se houvesse, creio que deveria ser concedido às nações que avançaram menos, mas avançaram sempre. Passos pra frente, nenhum passo pra trás.
Deixando minha opinião de lado por um instante, o que existe é o mesmo dilema do quadro de medalhas das Olimpíadas. Vários veículos midiáticos norte-americanos colocaram os Estados Unidos no topo do ranking por ter um número maior de medalhas no geral. O resto do mundo, basicamente, colocou a China, considerando que o ranking é medido pelo número de medalhas de ouro. Qual a grande diferença, além do resultado? O primeiro critério considera que medalhas tem um valor aproximado, independente de suas cores. O segundo afirma que a melhor delegação olímpica é aquela formada pelo maior número de delegados campeões, esportistas em destaque.
A diferença entre o exemplo olímpico e a modelândia é que no caso esportivo não se exige coerência com a delegação. A competição olímpica é de caráter eminentemente individual (salvo no óbvio caso dos esportes coletivos). Nas olimpíadas o seu desempenho não tem rigorosamente nada a ver com o de um atleta de outra modalidade, e seu único vínculo são as cores de sua bandeira e, provavelmente, o bloco de carnaval que vocês desfilam na cerimônia de abertura e encerramento. Ao meu ver, é forte o argumento pelo qual os jogos olímpicos ressaltam a importância de se competir, não de ganhar. Logo, a delegação que participou de mais pódios competiu mais e melhor do que aquela que compareceu menos, mesmo que no lugar mais alto mais vezes. Mas na modelândia, esse argumento é incisivo e, ao meu ver, definitivo: a delegação possui um vínculo de coletividade que ultrapassa o bom desempenho individual. As cores da bandeira que enfeitam broches de lapela unem todos os delegados em um trabalho de equipe que deve ser estimulado, inclusive através dos prêmios. Precisamos avançar do método de premiação matemática que diz que a melhor delegação é aquela que ganhou mais prêmios. A melhor delegação é aquela que representou melhor os interesses do seu país em TODA a conferência. Onde esteve presente, foi bem representada.
Se essa meta é difícil de ser mensurada, aí são outros quinhentos. O que importa é repensar nossos conceitos e enfrentar a realidade que, se queremos formar boas delegações, e de fato estimular as habilidades de trabalho em equipe que buscamos, é o caminho a se seguir.
Uma das primeiras histórias que ouvi, na minha infância modeleira, foi sobre como dois delegados da UFRN conseguiram, certa vez, em um AMUN agora longínquo, fazer dois unmoderated caucuses em seus comitês ao mesmo tempo para negociar simultâneamente entre os dois comitês. Então dois comitês separados viraram comitês em dupla, por um breve espaço de tempo. Certas concessões e negociações foram feitas de forma conjunta, cedendo aqui pra ganhar ali. Como poderiamos favorecer essas práticas? Precisamos inventar novos instrumentos pra favorecer o verdadeiro trabalho de equipe? Ou será que caminhamos rumo ao domínio dos Galácticos?
Já dei minha opinião. E vocês, o que acham?