terça-feira, 25 de outubro de 2011

Itamaraty: O quanto vale uma carreira diplomática?

Por Sophie Crockett

Cada vez mais, a concorrência para entrar na prestigiosa carreira do Itamaraty fica brutal e intensa. Mas, o que realmente se esconde atrás do concurso mais concorrido do pais? Segundo estatísticas da globo.com “O concurso deste ano (2011) para o Instituto Rio Branco (...) começou com 276 concorrentes para cada uma das 26 vagas disponibilizadas pelo Itamaraty.” Agora, o que leva 7176 pessoas a disputarem essas vagas concorridíssimas para, fundamentalmente, um cargo publico?

Márcio Rebouças, um dos diplomatas responsáveis pela organização do concurso Rio Branco, acredita que o aumento da concorrência se deva também à maior relevância do Brasil no cenário internacional: “O crescimento é função da contínua abertura do país ao exterior e da maior relevância que as relações internacionais vêm apresentando em tempos recentes para a sociedade brasileira”, consta. Outro angulo possível de analisarmos esse aumento é na remuneração financeira que o cargo traz. A remuneração prevista para os aprovados na seleção atual desta ano é de R$ 12,9 mil. Nada mal para um recém formado sem experiência verdadeira no mercado de trabalho, não?

Com o aumento da remuneração dos diplomatas, a indústria dos cursos especializados em concursos já está chegando com força nesta área, antes tão elitista e distante do público geral. De acordo com um aluno que passou por este processo “as estatísticas favoráveis aos cursos mais caros não refletem uma relação de causalidade perfeita entre o que foi ensinado no curso e a aprovação dos candidatos. Num curso para concursos, a base de conhecimento nós que teremos que fazer, pois cursos preparatórios servem mais como guia de estudos e local para solução de dúvidas e prática de exercícios, do que propriamente 'ensino'.” Um concurso para diplomata demanda o concorrente a ter uma boa e ampla base nas várias disciplinas relacionadas ao concurso, e isso requer a superação de incontáveis lacunas originadas na Universidade e Escola. Essa superação pode levar, até para os melhores formandos, anos de esforço e dedicação. O candidato a diplomata, segundo especialistas, deve apresentar características como flexibilidade, rápida adaptação a novos desafios, capacidade de trabalhar em grupo e facilidade de comunicação. Eles aconselham que antes de tentar a carreira, deve-se organizar com antecedência um plano de estudos para cobrir toda a bibliografia exigida no concurso. Ter disciplina será útil tanto na preparação para as provas como na carreira.

Mas essa dedicação não termina na aprovação ao Instituto Rio Branco. Para ingressar e prosseguir ao cargo de segundo ou primeiro secretário é preciso de um esforço incondicional, especialmente nos primeiros anos de serviço, visto que a promoção aos maiores cargos são á base de mérito, avaliado pelos seus superiores imediatos.

A carreira de diplomata tem passado por profundas transformações ao longo das últimos décadas, mas ha sempre uma sensação de estabilidade na carreira. O Ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso fez a seguinte reflexão: "... há coisas que, por sua própria natureza, possuem uma vocação de permanência, de tradição, de contato com o passado. A diplomacia ... é certamente uma delas.” Hoje em dia, a diplomacia deixou de ser uma atividade de gabinetes, cercada por segredos de Estado a ser um exercício público de defesa dos interesses nacionais no plano externo. Nada mais nobre e bem-visto.

Sophie Crockett é undergraduate de Politics and International Relations em Royal Holloway, University of London, e diretora do 1º Comitê da Assembléia Geral do NMUN-NY.


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