domingo, 27 de abril de 2008

Vamos colocar o carro na frente dos bois!

Recentemente participei pela segunda vez do Moscow International Model United Nations, desta vez como co-diretor do Security Council.

Não vou entrar em detalhes porque o MUN foi muito parecido com a edição do ano passado, que descrevi aqui no blog modeleiro. A maior diferença é que desta vez o secretariado trouxe um time peso-pesadíssimo de palestrantes, incluindo Hans Blix, Mahmoud Abbas e Yevgeny Primakov, o que reforçou o profissionalismo do modelo mas também encheu a faculdade de agentes do FSB.

(eu quase fui estrangulado por 70 guarda-costas palestinos quando apertei a mão do Abu Mazen com força demais, mas essa é outra história)

Um presidente sem país

O que me interessa aqui é falar sobre uma grande diferença nas regras de procedimento, algo que vira do avesso toda a dinâmica de uma simulação da ONU: no MUN de Moscou, assim como em muitos outros modelos europeus, a resolução é formulada/apresentada no início dos debates e não no final. Os delegados devem apresentar suas draft resolutions ao final da segunda sessão - são oito. Eles vão escolher qual texto vai servir como base de trabalho para o UNSC, e depois disso passar todo o resto do tempo brigando pelas emendas.

Ok, no ano passado eu já citei isso tudo, mas agora quero lançar a pergunta que ficou faltando. Daria certo no Brasil? Dois aspectos determinam a resposta: o realismo e a viabilidade (ou "simulabilidade").

Primeiro, o realismo. Na ONU de verdade, e particularmente no Conselho de Segurança, as resoluções são preparadas com antecedência. Elas às vezes chegam prontinhas de Washington, Moscou ou Pequim, fato que transforma os embaixadores (inicialmente!) em meros mensageiros de seus ministros ou presidentes. Então o UNSC decide (informalmente!) qual texto vai ser adotado como base das negociações. Depois se segue a fase decisiva, quando os embaixadores brigam (secretamente!) para emendar o texto inicial. Apenas no último momento as portas são abertas para a imprensa, os delegados votam a resolução e, se for o caso, fazem pronunciamentos que serão devidamente registrados em seis línguas no site das Nações Unidas.

Como vocês certamente notaram, não é bem isso o que acontece nos modelos da ONU brasileiros. Verdade seja dita, o nosso procedimento padrão em UNSC (uns 10% do tempo total são usados na adoção da agenda, 60% nos debates formais e informais sobre o tema, 25% nas emendas e 5% na votação final - isso sem contar eventuais crises) não tem nada a ver com a vida real. Nos MUNs brazucas, o foco é simplesmente deslocado das ações concretas (i.e. a resolução e suas cláusulas e emendas) para a filosofia e a retórica (i.e. os discursos pomposos).

A "culpa" dessa falta de realismo não é nossa, e sim dos modeleiros americanos de Harvard, cujas regras foram adaptadas no Brasil a partir do AMUN 1998. Seja como for, precisamos admitir que nossas simulações não simulam lá grande coisa.

Segundo ponto, a viabilidade/simulabilidade. Isto é algo mais subjetivo. Os modeleiros brasileiros são atores por excelência, acostumados ao drama e à grandiloqüência, e talvez estranhassem essas regras russas castradoras. Se a resolução fosse apresentada no começo, o que seria das divertidas (embora inúteis) trocas de farpas diplomáticas que povoam a Modelândia?

Mind you, em Moscou os delegados ainda tinham bastante tempo para brigar sobre as emendas e fazer algum teatrinho. Ninguém sai insatisfeito. Mais importante, neste sistema o centro das atenções é a solução, não o problema. A resolução, não a análise do tópico. O comitê deixa de parecer uma sessão de terapia familiar e passa a ter a cara de um processo pragmático de resolução multilateral de conflitos. A ONU deveria ser assim, certo? Nossos modelos também.

Aqui vai mais uma proposta concreta de Representatives of the World para os jovens modeleiros do Brasil afora: experimentem colocar o carro na frente dos bois. Exijam que todos os delegados tragam resoluções (talvez substituindo os documentos de posição) prontinhas para o comitê, e vejam se funciona. Depois me contem se deu certo.

PS: o raciocínio acima vale principalmente para o UNSC, mas pode se adaptar a certos outros comitês também, onusianos ou não, mutatis mutandis.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Dez motivos para manter a premiação em modelos

Adorei o post anterior e concordo com vários dos pontos. Não acho, contudo, que a questão seja "é melhor" ter ou não ter. Minha filosofia, no caso dos prêmios, é que eles trazem vantagens e desvantagens. Tê-los ou não é uma escolha.

Da mesma forma, não acho que comédia é melhor que drama nem vice-versa, tampouco que pizza é melhor que sanduíche. Acho impossível dizer qual é melhor. Acho que comédia, drama, pizza, sanduíche, têm todos seus momentos.

Então vamos a motivos para que VOCÊ, leitor, adote prêmios no SEU modelo.

Motivo 1 - Prêmios criam vendidos

Prêmios estimulam o surgimento de vendidos, e isso é ótimo. Foram vendidos os que:

a) criaram o hábito de chamar o Diretor de "Sr. Presidente", como se faz na vida real, e não de "Diretor" ou "Mesa";
b) trouxeram documentos de posição realistas e parecidos com seus equivalentes reais;
c) chamaram a atenção para o fato de que há mais coisas entre o Céu e a Terra do que produzir resolução;
d) trouxeram para o debate resoluções obscuras e impediram a criação de órgãos e fundos quando os tais já existem,

dentre outros muitos benefícios.

Falo aqui, claro, do vendido cordial brasileiro, e não vendido na definição dada em Vargas (2006).


Motivo 2 - Prêmios estimulam a competição entre indivíduos e formação de lideranças

Prêmios estimulam pessoas a falar mais. A conversar com os delemudos e trazê-los para o debate. A tomarem lideranças. A botar a coisa pra frente. A continuar discordando e insistir em impasses mesmo quando já encheu o saco. Competição positiva faz muito bem: basta comparar a Alemanha Ocidental com a Oriental, a Coréia do Sul com a do Norte.

A competição não é sempre atomista. Delegações vendidas se aliam. Os árabes; o mundo livre; os não-alinhados; os latinos do Foro de São Paulo; Londres e Washington; os OPEPs; o Mercosul, etc. E isso é realista, e bom.

Pense nos comitês que você foi e em quem ganhou prêmio. Note a freqüência com a qual aliados ganham prêmio juntos.

Motivo 3 - Prêmios estimulam "dream teams"

Prêmios estimulam pessoas empolgadas a buscarem outras pessoas empolgadas e a formar a "melhor equipe possível" da universidade. Em muitas ocasiões, isto tem o péssimo efeito colateral de interromper qualquer ciclo de formação de novos delegados e solidificar uma panelinha. Não obstante, algumas poucas delegações muito motivadas, especialmente de países-chave, podem fazer muito bem a um modelo.

A rivalidade entre grupos pode também ser saudável e positiva. O Galo joga muito melhor quando o adversário é o Cruzeiro.


Motivo 4 - Prêmios obrigam Mesas a avaliarem delegados

A melhor forma de avaliar delegados que já vi é o relatório da SiEM 2007. Também conhei boletins bons ou razoáveis em outros modelos (4º MINI-ONU, SiNUS, modelos da UNIR).

Mesmo reconhecendo isto, levo em conta dois fatores.

Primeiro, é mais coerente e socialmente aceitável que universitários avaliem alunos de Ensino Médio do que outros pares.

Segundo, alguns modelos não têm recursos humanos, experiência, ou capacidade de avaliarem muitos delegados em vários aspectos detalhados. Isto será tanto mais verdade quanto mais equiparados os delegados forem (todos péssimos ou todos ótimos), quanto mais delemudos existirem, quanto menos freqüentes forem os debates não-moderados, quanto mais delegados existirem no comitê, quanto mais gritantes as assimetrias entre os países, e quanto menor for o staff.

Por isso, prêmios podem ser a única forma plausível (ou a mais plausível) de avaliar os delegados.

(Pode-se argumentar que, ceteris paribus, quando as assimetrias entre os países são MAIS gritantes, é melhor usar os boletins do que os prêmios. Concordo.)

Parece mas não é.


Motivo 5 - Prêmios podem gerar resoluções e/ou resultados melhores

A competição entre indivíduos e grupos estimula uma redação melhor. Mais coerente com os textos de verdade, e mais coerente com as capacidades do comitê. Também cria mais pontos de veto e assegura que não será qualquer bobagem que vai ser aprovada, a menos em caso de lideranças excepcionais que forcem cláusulas goela abaixo porque têm a maioria necessária.

(Case in point: SpecPol UFRGSMUN 2007, no qual eu, como Irã, me dei muito mal, porque o eixo Washington-Paris-Sionistas levou o comitê na coleira, feliz. Pensei em mais dois casos no qual este motivo 5 não deu certo exatamente por causa do funcionamento do comitê, mas aí basicament
e é o motivo 2 em ação).

Motivo 6 - É possível criar e manter critérios coerentes de premiação
ou:
Prêmios criam "modelos" nos modelos


Prêmios criam modelos, role models, exemplos de conduta, tradições. Tudo isso parece péssimo: gera estrelismo e solidifica práticas nem sempre razoáveis.

Contudo, modelos e tradições também são bons, porque provém orientação às pessoas. Eles permitem responder à desesperada pergunta: "interessei e vou prum modelo. Mas o que vou fazer lá?"

Os modelos que nós queremos e criamos - os exemplos que resolvemos premiar - dizem muito sobre o comportamento que nós queremos ver em modelos. E embora nem sempre o premiado corresponda a isso, queremos acreditar que queremos delegados que estudam bastante antes, conversam também com delemudos, encorajam pessoas, são geralmente polidos, negociam nos não-moderados (e não só falam bonito), trabalham com afinco, conhecem o comitê (e não só o tópico e a política externa), são empolgados e aprenderam algo da cultura e da língua do país, etc.

MAIS: o principal critério de premiação deve ser sempre o resultado final do comitê. Isto é, para além de expressar em discursos a verdadeira política externa do país, o delegado teve jogo de cintura, lábia, conhecimento e etcéteras para que o resultado seja interessante ao país dele. Cláusulas que condenem o país dele o fazem perder pontos; se a resolução omite um assunto, mais ou menos pontos, dependendo do lance; etc.

A dificuldade maior aqui não a vendidagem, e sim as assimetrias. Os países mais poderosos têm mais facilidade de forçar uma resolução boa, principalmente quando alguns têm poder de veto e outros não (notem que a expressão "comitê com veto" ou "país com veto" não é suficiente, já que existem comitês onde TODOS têm veto). É aqui que os Diretores têm de aplicar o olho clínico.

Motivo 7 - Não se premia os bonzinhos

Acontece de serem premiados os bonzinhos. Acontece de serem premiados os novatos. Nem sempre é assim, e não deve ser assim. Delegados de ditaduras sanguinárias e com retórica agressiva (Irã, Venezuela, União Soviética) podem e são premiados.

Motivo 8 - Prêmios existem na vida real

Como o Ortega já disse aqui e eu sempre pensei, prêmios existem na vida real. São dados não pelos foros internacionais, mas em casa. É quando o Secretário vira Conselheiro; o Ministro, Embaixador. Um determinado diplomata vai chefiar uma missão numa capital mais importante ou assumir um posto bacana no Ministério. Ou pode ser simplesmente uma medalha ou comenda, ou o mero reconhecimento pelos seus pares e elogios entusiasmados.

Pode-se pensar no prêmio invisível. Dias depois do modelo, o delegado recebe um e-mail do seu MRE dizendo que ele foi promovido. (pensei nisso na minha OTAN 2006 mas acabei procrastinando demais). Nada de estrelismo, tudo de motivação e "feeling good inside".

Motivo 9 - Prêmios não são obrigatórios em cada comitê

Alguns modelos não obrigam todos os comitês a dar prêmio. Pode ser o caso dos prêmios existirem, e serem dados na maioria dos comitês, mas os Diretores terem a liberdade de não concedê-los. Caso imediato que me vem a mente: MINI-ONU.


Motivo 10 - Prêmios não são obrigatórios em modelos

Finalmente, prêmios são uma opção de cada modelo. A SiNUS e o TEMAS jamais os tiveram, e a SiEM os erradicou a partir da segunda edição. Preferir modelo com ou sem prêmios é como escolher comédia ou drama: é uma questão de gosto, não de um ser melhor.

Uma vantagem do modelo sem prêmio é que a universidade-sede se exime desde já de politicagens nesse sentido, já que não tem nada a oferecer "em troca". É o caso de Minas Gerais, cujo modelo universitário, o TEMAS, não tem prêmios nem sequer delegações, de forma que quando a PUC-Minas ganha o AMUN - e já o fez cinco vezes - não é por ter prêmios ou países a dar em troca.

Obrigado, Madame Presidente.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Dez motivos para extinguir a premiação em modelos


>>>UPDATE<<<
Para facilitar o debate sobre as idéias propostas pelo autor do post e os ilustres comentaristas do blog, os comentários organizados por pontos que forem colocados aqui serão agregados ao próprio post pra facilitar a leitura comparada.

Vou encarar de frente uma velha polêmica que o Pereira citou lateralmente há dois meses. Jogarei sal em certas feridas. Respirem fundo antes de ler.

Há algo de podre no Reino da Modelândia. São os prêmios. Quando eu era mais moço, idealista e via a modelagem com lentes rosas, achava que esses simpáticos diplomas e certificados eram uma coisa boa. Ledo engano. Vou sistematizar os dez principais argumentos contra essa prática nociva, inclusive os tabus.

Motivo 1 - Prêmios criam vendidos

Este é o problema mais conhecido. Logicamente, a distribuição de prêmios estimula a proliferação de delegados que os caçam - ainda que para isso eles precisem atropelar as regras, o bom-senso, a própria política externa e, às vezes, o comitê inteiro.

Pode-se argumentar, de boa fé, que a vendidagem existe independentemente da premiação, pois ocorre mesmo em modelos prizeless, como TEMAS e SiNUS. Isso é uma verdade parcial. O problema é que a vendidagem é filha da premiação. Nem mais, nem menos. Quando o termo "vendido" foi criado, em 2003, era uma crítica direta a um delegado que (na opinião de outro delegado) era um caça-prêmios. O vocábulo "vendido" não existiria em modelos se não houvesse prêmios.

Nos modelos sem prêmios também existem vendidos, mas a vendidagem nasce nos modelos com prêmios. Se a síndrome da vendidagem se alastra facilmente, é porque existem prêmios na maioria das simulações.

Pereira:

Velho dilema do ovo e da galinha. Talvez seja mais correto que os prêmios CRIARAM os vendidos, mas hoje a vendidagem tomou vida própria. Não sei mais se apenas excluir os prêmios desestimulará a proliferação da vendidagem; talvez sim, mas é um processo extremamente lento.

Ortega
:

Concordo com o que o Pereira disse sobre o motivo 1. O prêmio criou a vendidagem, mas ela cresceu, se formou em Relações Internacionais e Direito e se tornou independente. Pra matar a vendidagem é preciso muito mais que simplesmente eliminar o prêmio. É discutível, inclusive, se as premiações ainda são o maior estímulo para a vendidagem. Podem até ser nos modelos de Ensino Médio. Nos universitários, tenho minhas dúvidas.


Motivo 2 - Prêmios estimulam a desonestidade

Este é um pouco diferente do anterior. Como qualquer modeleiro sabe, uma das formas mais eficazes de obter prêmios é escrever os principais textos do comitê, sobretudo a resolução. Para alguns delegados de moral dúbia, isso justifica o plágio de documentos, o roubo de cláusulas e artigos, ou nos piores casos a sabotagem pura e simples do trabalho alheio - apagar arquivos, retirar laptops da tomada, esconder chaves USB e safadezas afins.

Infelizmente, nem todos os diretores percebem essas trapaças, e até o mais vil dos larápios tem chances consideráveis de levar um troféu pra casa, desde que seja discreto.

O que se deve fazer para evitar que seu banco seja assaltado? Basta não deixar nenhum tesouro no cofre - e avisar os bandidos disso com uma placa na porta. Na modelagem é parecido. Quando não houver mais prêmio em jogo, o crime modeleiro vai deixar de compensar.

Pereira:

True. Embora não saiba de nenhum caso em que um desonesto tenha ganhado um prêmio de fato.


Motivo 3 - Prêmios exageram as rivalidades

Uma certa competição é saudável em quase todos os setores da vida humana. Mas quando a disputa descamba para o desprezo coletivo justamente em uma atividade acadêmica e cooperativa, algo esta errado. Um modeleiro da USP que zomba outro da PUC-SP, um mineiro que tira sarro de um gaúcho, tudo isso é normal. Mas outras coisas não são normais.

Em bom português, algumas universidades têm relações muito ruins com certos modelos. Isso não é culpa exclusiva dos prêmios, mas em muitos casos eles foram o fermento das inimizades.

Os ressentimentos acumulados por premiações injustas podem suscitar boicotes (alunos da Unitrotsky se recusam a ir ao modelo da Unistalin e vice-versa) ou, pior, preconceitos que levarão anos para desaparecer. Outra conseqüência possível: em boa parte por culpa dos prêmios, faculdades inteiras abandonaram a modelagem. Paulistas talvez saibam de quem estou falando.

Com os secundaristas é ainda mais grave. Certos diretores de escolas, que precisam de prestígio para compensar alguma coisa (Freud explica), gostam de colecionar troféus, medalhas, diplomas e outros badulaques. Quando enviam seus alunos para modelos, às vezes pagando a inscrição, eles exigem uma contrapartida, paga em prêmios. Isso alimenta algumas guerras não-declaradas entre "clãs escolares" que existem em modelos Brasil afora.

Tudo isso é uma afronta ao aprendizado coletivo que as simulações oferecem. Modelos da ONU não são os Jogos Jurídicos ou as Engenharíadas! Prêmios alimentam uma luta fratricida entre as faculdades e escolas. Eles são um grande fator de desunião da Modelândia inteira. Eles semeiam a cizânia!

Pereira:

Aí não sei. Acho que isso é mais uma questão de personalidade de quem ganha o prêmio do que um problema do prêmio em si. E, também, é um caso que se aplica em muito maior escala às escolas paulistas (PUC e USP, principalmente), talvez no RJ (Estácio e PUC-RJ). Ainda é um fenômeno meio localizado.

Ortega:

O motivo 3 realmente foi um problema sério em um caso específico em SP. Mas mesmo esse caso - se for o que estou pensando - teve um ponto final no ano passado. Pra falar claramente, o Mackenzie voltou ao MONU, não? Eu não conheço outras rixas tão sérias envolvendo universidades inteiras, mas posso estar enganado...



Motivo 4 - Prêmios causam rixas pessoais

Não confundir com o item acima; aqui estou falando de indivíduos e não de grupos. Quantas amizades já foram feridas, quantas turmas rachadas, até mesmo namoros arruinados, por causa de vaidades e egos envolvidos em uma premiação de modelo? Os seres humanos são suficientemente fúteis para levar essas coisas a sério.

Esse problema tende a ser pior entre os secundaristas, que estão em uma fase mais delicada do desenvolvimento psicossocial (olha a tucanagem!), mas ocorre entre universitários também. O tempo todo.

Pereira:

Faz sentido. Eu pessoalmente nunca presenciei esse fenômeno nos comitês em que fui, mas ocorre.


Motivo 5 - Prêmios são uma camisa-de-força para os diretores

Sabem aquela hora, durante a cerimônia de encerramento, em que os diretores chorosos dizem que "foi muito difícil escolher os delegados que receberiam os prêmios"? A frase soa demagógica, mas geralmente é sincera.

Acontece assim. Quase todos os modelos fazem muitas reuniões internas durante o evento. E o último ou penúltimo desses encontros, invariavelmente, é a Hora H dos prêmios: os diretores devem anunciar os vencedores ao secretariado, que vai imprimir os diplomas antes do encerramento. Esse é um momento de tensão entre o SG, que exige um numero unificado de prêmios por comitê (geralmente três ou quatro) e os diretores, que querem premiar 8 ou 10 delegados se o comitê foi bom, ou 1 ou 2 delegados se o comitê foi ruim.

Algumas simulações até permitem que os diretores decidam quantos delegados serão premiados. Mas pouquíssimos modelos toleram que os diretores escolham se haverá prêmio ou não em seus respectivos comitês - nisto o AMUN 2005 foi uma exceção positiva. No MONU 2006, a UNPO apenas não teve prêmio porque os diretores desobedeceram frontalmente o secretariado e se recusaram a entregar qualquer menção. Foi arriscado. Se fosse o Exército, daria Corte Marcial.

Como os diretores raramente têm autonomia sobre os prêmios, surge uma camisa-de-força. Ou a mesa é obrigada a recompensar delegados fracos, ou opostamente ela é forçada a não entregar prêmio para excelentes modeleiros. Isso não é exceção, não. É a regra. Se você acha que todas as suas três ou quatro menções honrosas foram merecidas, think again...


Pereira:

Assino embaixo. Uma experiência assim na SiEM 2006 foi o que me motivou a optar pela substituição dos prêmios pelas avaliações individuais na SiEM 2007.


Motivo 6 - Prêmios são intrinsecamente injustos


Vamos lá, um brainstorm: o que faz um bom delegado? Nos MUNs brasileiros, estamos acostumados a valorizar principalmente a oratória, e em segundo lugar a capacidade de produção de documentos. Isso tudo é importante em uma negociação, mas não é o que realmente conta.

O que realmente conta, tanto na vida real como nas simulações, é o trabalho de backstage. O lobby que acontece durante o almoço e até nas festas, as discussões entre os P-5 no cantinho do Conselho de Segurança durante o unmoderated caucus, as resoluções escritas pelos principais delegados no quarto de hotel, etc.

Você realmente acha que os diretores, por mais onipresentes e oniscientes que sejam, são capazes de acompanhar isso tudo? Claro que não. Mesmo que a mesa se esforce, nunca vai conseguir avaliar corretamente a atuação de cada delegado. Prêmios são sempre injustos, e na melhor das hipóteses refletem as pessoas que se destacaram em uma ou duas habilidades especificas.

Pereira:

Aí eu discordo. Tudo bem, você tem que mostrar profissão de fé na existência de diretores que saibam escolher bem os delegados a serem premiados, mas há a possibilidade sim de prêmios serem muito justos. O problema é que ainda não sabemos estabelecer direito os critérios para isso, então premiamos as pessoas erradas.

Motivo 7 - Prêmios permitem a politicagem

Esse argumento pode irritar muita gente, mas vou evitar citar nomes e datas. Que fique claro que se trata de um problema estrutural, e não apenas algo que aconteceu em um ou dois modelos recentes.

Trata-se do seguinte: prêmios podem ser usados, e freqüentemente o são, como se fossem presentinhos. Para cimentar as boas relações entre o modelo ABCMUN e o modelo XYZMUN, o secretário-geral do modelo XYZMUN ganha um prêmio de melhor delegado no modelo ABCMUN, ainda que tenha sido um negociador fraco. Os modeleiros da Unitabajara são amiguinhos do pessoal da Unicreysson; por isso, os delegados da Unicreysson recebem o troféu de Melhor Delegação no modelo organizado pela Unitabajara, e vice-versa. Assim todo mundo fica feliz, não é?

Digam sinceramente: quem nunca viu isto?

Insisto, não me refiro a um caso em particular. Quase todas as principais universidades e centros modeleiros do Brasil já se envolveram neste tipo de politicagem, em maior ou menor grau. Já recebi reclamações de muita gente, de diferentes Estados, sobre esta prática. Mais importante, já ouvi diversos diretores e até secretários-gerais admitirem que os fatores políticos "pesaram um pouquinho" na seleção dos premiados. Obviamente é impossível calcular com precisão esse tipo de coisa, mas eu diria que nos últimos anos os critérios políticos determinaram 20 a 30% dos prêmios individuais, e 50 a 60% dos prêmios coletivos. Ou mais.

Não quero parecer moralista, mas a persistência deste fenômeno é uma vergonha para a Modelândia e macula a seriedade de nossas atividades acadêmicas. Existe apenas um jeito de impedir que prêmios sejam usados como moeda de troca política: extinguí-los.

Ah, e não adianta sonhar com a criação de "um critério transparente e objetivo de premiação" que possa inibir a politicagem. Quem garante a transparência deste critério? Vamos criar uma Missão Nacional de Verificação das Menções Honrosas sob o comando do Mohammed El-Baradei? Não, não. Enquanto existirem, prêmios sempre serão subjetivos. Portanto, sujeitos a manipulação.

Pereira:

Essas histórias sempre fizeram parte do underground da Modelândia: é aquela coisa que todo mundo acha que tem certeza, ou certamente acha, que acontece, mas ninguém jamais conseguirá provar ou admitir. Seria muito ingênuo, though, acreditar que os prêmios não têm peso político na Modelândia. Mas concordo que sempre serão subjetivos.

Ortega:

Quanto ao Motivo 7, concordo em parte. Na verdade, concordo completamente com o fato de os prêmios permitirem politicagem (vide MONU 2005), mas o final dos prêmios não acabaria com ela. Na verdade, a politicagem acontece muito mais escancaradamente na distribuição dos países que nas premiações. Pra mim, a a questão aqui é como acabar com o problema da politicagem como um todo nos Modelos. O prêmio é o vetor, não a doença.


Motivo 8 - É impossível criar e manter critérios coerentes de premiação

Sim, é impossível. Que categorias costumam servir (oficialmente) de critério? São principalmente quatro: coerência com a política externa, capacidade de expressão oral e escrita (incluindo position papers), conhecimento do tema e a tal "postura diplomática". Alguns modelos usam palavras diferentes, mas quase todos dizem avaliar esses fatores.

Agora vamos supor que os diretores são experientes, sabem distinguir vendidos (ler motivo 1), conseguem detectar delegados desonestos (motivo 2), não se metem em preconceitos coletivos (motivo 3) nem rixas pessoais (motivo 4), possuem autonomia para decidir sobre a quantidade de prêmios (motivo 5), não se dobram à politicagem (motivo 7) e até conseguem estar em todos os lugares ao mesmo tempo (motivo 6). Mesmo esses superdiretores não vão conseguir aplicar de forma coerente os critérios de premiação. Por quê? Pois cada um dos 192 países deste planetinha enxerga a diplomacia de modo diferente dos demais. O que um norte-coreano chama de "sigilo", um canadense chamaria de "mentira"

Os diplomatas do mundo seguem códigos éticos e culturais totalmente diferentes, e é impossível enquadrar toda essa diversidade sob o guarda-chuva da "postura diplomática". Simplesmente não dá pra avaliar com o mesmo critério.

Exemplo simples: imaginem um gentil e articulado embaixador do Myanmar, que colabora com o comitê e não ataca ninguém mesmo que seja acusado de crimes contra a humanidade. Ele é um bom delegado? Não! No entanto, seria um forte candidato a uma menção honrosa segundo as regras de todos os MUNs.

Notem a diferença entre política externa e postura nacional. Um bom delegado birmanês ou zimbabuense não apenas bloquearia qualquer discussão sobre os direitos humanos em seu país (= politica externa), mas faria isso de forma agressiva, brigando com trinta países ao mesmo tempo e chamando o Ocidente inteiro de imperialista (= postura nacional). No entanto, nos modelos brasileiros esse diplomata teria poucas chances de conseguir qualquer prêmio...

E os prêmios coletivos? Aqui geralmente pesam duas coisas: o total de prêmios individuais ganhos pelo país e a coesão da delegação. A primeira coisa é teoricamente fácil de somar, embora o calculo seja às vezes distorcido pelas considerações políticas que já citei. Mas como medir de verdade a coesão de uma delegação? Alguém estava em todos os comitês ao mesmo tempo? Na pratica esse fator é freqüentemente "esquecido" pelos secretariados. A Melhor Delegação, se não corresponder a uma escolha política do SG, pode acabar sendo um grupo Frankenstein, uma confederação de vendidos que provavelmente não estudaram juntos e talvez nem se conheçam direito. Assim era nosso grupo na SiONU 2005.

Mesmo que a Melhor Delegação realmente seja um grupo coeso de amigos modeleiros competentes, eles provavelmente se comportaram de forma muito heterogênea. O cara do Conselho de Segurança é malvado e chantageou todo mundo, a garota do Conselho de Direitos Humanos é meiga e distribuiu flores, et cetera. Coerência, cadê?

Pereira:

Talvez seja impossível entre diversos modelos, mas acho que dentro de um mesmo modelo é possível chegar perto de um critério que não permita numerosas premiações equivocadas.

Motivo 9 - Não adianta querer premiar os bonzinhos

Continuação lógica do anterior.

Certos modeleiros bem-intencionados encontraram uma estratégia alternativa e politicamente correta de premiação. O objetivo é evitar a vendidagem sem abrir mão dos prêmios. No lugar de recompensar os vendidos clássicos, que monopolizam o comitê para massagear o ego, a idéia é premiar os delegados cooperativos e altruístas - em suma, o "espirito diplomático" passa a ser O critério principal. Essa é a política oficial do WorldMUN, e tem sido informalmente seguida por um número crescente de modelos no Brasil. Por isso, a moda agora é distribuir prêmios para delegados novatos e calmos, não-vendidos, que representam paisecos e só falam de vez em quando, mas que possuem um avançado "espirito diplomático".

"Como os delegados da China e da Alemanha são vendidos e passaram o modelo inteiro brigando e fazendo teatro, vamos premiar o delegado do Luxemburgo, que não xingou ninguém!" - assim pensa o diretor de puro coração.

Isto é um erro. Recusar-se a premiar o líder do comitê conduz a premiações inverossímeis e ilegítimas, que apenas irritam o restante do comitê - não apenas o vendido que saiu de mãos abanando, mas também os delegados que consideram que o vendido deveria ter recebido o prêmio e foi sacaneado pela mesa. A cerimônia de encerramento fica cheirando a marmelada e a imagem do modelo sai arranhada.

Diplomacia não é o Fair Play da FIFA! O inferno pode estar cheio de boas intenções, mas a politica internacional não está! Não é o "espirito diplomático" que vai substituir outras qualidades mais importantes. Não é assim que a banda toca, meus amigos...

Pereira:

Não sei se concordo. Na maioria dos casos, espera-se de um delegado que ele seja minimamente respeitoso. Veja bem: na maioria dos casos. Exceções são bem essas que o Napoleão citou em um outro motivo: o Zimbábue nunca será bonzinho, nem a Coréia do Norte, nem a URSS, dadas as situações corretas. Mas acho que caberia confiar no bom senso da diretoria (again, eu tenho fé que o bom diretor existe). Mas tem um ponto válido que deveríamos discutir: "espírito diplomático" é se comportar como aquele modelo ocidental de diplomata, pomposo, elegante e bem-educado, ou é se comportar como o diplomata do país que representa na situação apresentada (i.e., ser malvado quando couber)?


Motivo 10 - Prêmios são absurdos

Back to the basics: o que significa a palavra "modelo"? O que você entende por "simulação"? Trata-se de uma imitação, um ersatz, um simulacro, uma recriação de alguma coisa, certo? E MUNs são exatamente uma recriação realista das negociações multilaterais nacionais e internacionais, não é mesmo?

Pois bem, em nenhuma negociação diplomática, em qualquer lugar do mundo, existe um prêmio para o "melhor embaixador", "melhor ministro" ou "melhor presidente". Imaginem o Nicolas Sarkozy, todo pimpão e sorridente, com a Carla Bruni a tiracolo, recebendo da Assembléia Geral da ONU o certificado de "melhor orador da sessão 2007". Não é absurdo? Então por que isso acontece nas simulações que organizamos?


Pereira:

Assino embaixo também. Ainda acho que o melhor prêmio pra qualquer delegado é aprovar a resolução do jeito que você espera que seja.


Ortega:


Discordo também do motivo 10. Tá bom, eu nunca vi o Kofi Annan chamando o delegado do Turcomenistão à frente pra receber uma menção honrosa, mas diplomatas são sim premiados, de outras formas, por seus próprios governos. Boas atuações podem render frutos pessoais aos delegados, e acho que é isso que as premiações dos Modelos querem emular.

Moral da história


Admito, existem algumas (poucas) virtudes nas atuais políticas de premiação, como a possibilidade de estimular o surgimento de jovens e talentosos modeleiros. Mas essas vantagens são esmagadoramente menos importantes do que as desvantagens dos prêmios.

Sei que o fim dos prêmios não resolveria automaticamente todos os nossos problemas acadêmicos, como a falta de delegados, o despreparo das mesas, guias de estudos fracos, etc. Mas seria um importante avanço rumo a uma Modelândia mais aberta, cooperativa, honesta e realista. Cada modelo é livre para fazer o que quiser a respeito, mas acho que a experiência de dez anos de MUNs é mais do que suficiente para demonstrar que prêmios são contraproducentes na maior parte dos casos.

Apelo para os delegados, diretores e secretários-gerais entre os leitores: em nome do bom-senso, mandem os prêmios para a Lata de Lixo da História!

terça-feira, 8 de abril de 2008

Modelos e TI, follow-up

Modelos e TI, follow-up
Philip Hime


Primeiramente, gostaria de congratular os autores deste blog por um ano de total sucesso na comunidade modelística. Que este blog continue sendo referência nacional para discussão das questões mais importantes do Maravilhoso Mundo dos Modelos!

Em um texto enviado para este blog há quase um ano, falei sobre a tendência tecnológica dos modelos e suas possíveis conseqüências. Correio diplomático eletrônico, esfriamento dos debates... Um pouco de tudo foi discutido nos comentários. Entretanto, no mundo da informática, tudo muda rapidamente, o que me leva a escrever esse “follow-up” do meu post anterior, baseado em minhas novas experiências do mundo modelístico digital.

Recentemente, fui a Belo Horizonte participar do TEMAS da Guerra como Minister of the Foreign and Commonwealth Office do British Cabinet. Primeiramente, fiquei impressionado ao perceber que todos os delegados do meu comitê possuíam notebooks (ok, um deles tinha um Palm com um teclado externo, mas é praticamente a mesma coisa). Em seguida, minha cabeça explodiu (metaforicamente): havia internet via Wi-Fi para todos.

O uso da tecnologia que fizemos no British Cabinet se tornou, com toda a certeza, um caso a ser estudado e um exemplo a ser seguido nos modelos. Já ouviram falar em Google Docs? Pois deveriam. Todos os documentos que produzíamos, inclusive a nova National Security Strategy do governo Brown, eram imediatamente enviados ao Docs e compartilhados com todos os outros delegados. Isso reduziu a circulação de papel e até mesmo pendrives a um mínimo. Além disso, alterações feitas nos documentos eram automaticamente vistas por todos, evitando reclamações de que o delegado estaria com a “versão antiga” do documento.

Além do Docs, outro instrumento bastante usado foi o MSN. É, eu sei, MSN em sessões é praticamente um tabu do mundo modelístico. Como eu disse, nos comentários do post antigo, é “mais fácil dois delegados papearem online sobre a festa do dia anterior do que sobre o documento de trabalho que acaba de ser entregue”. No entanto, este foi outro ponto no qual me surpreendi positivamente. No British Cabinet, o MSN foi utilizado estritamente para enviar arquivos entre os notebooks (evitando o trânsito de pendrives) e para compartilhar informações: “look, I’ve found this site, I think it will help in the document you’re writing”. Obviamente, nada é perfeito, e houve um papinho batido com delegados de outros comitês, mas creio que a quantidade se manteve dentro dos níveis aceitáveis. Por níveis aceitáveis, entendam o mesmo nível de delegados que se encontram no corredor e batem um papinho antes de voltarem às respectivas salas.

Realmente, chegamos a um ponto no qual a digitalização dos modelos é, creio eu, inevitável. Vejo que a tendência da internet nos comitês será seguida (fontes seguras do BennettMUN, já me asseguraram dessa possibilidade), e já pude ver, em primeira mão, que essa ferramenta será usada com muita eficácia pelos delegados, ao menos em modelos de ensino superior.

Philip Hime é aluno do 3º período de Direito da PUC-Rio e diretor do Conselho de Segurança Nacional dos EUA do III SIMUN e da Organização dos Estados Americanos no VI ONU Jr.

domingo, 6 de abril de 2008




O MARKETING DOS 2 TÓPICOS

Uma das diferenças entre modelos de Ensino Médio e universitários é que, de forma geral, os primeiros têm um só tópico por comitê, e os segundos, dois.

Claro que existem mil exceções. Eu já fui Diretor no MINI-ONU de uma OTAN com três tópicos, e na SiEM de um Foro de São Paulo com quatro. E os sensacionais comitês do TEMAS têm, na maioria, um tópico só.

Mas permanece o fato. Dos 8 comitês do Shi'aMUN, sete têm dois tópicos. No UFRGSMUN deste ano, vários dos comitês também têm dois tópicos. Et cétera.

MARKETING MALDOSO? - De um ponto de vista mal-humorado, dois tópicos são uma tremenda propaganda enganosa, uma jogada de marketing. Isso acontece por duas razões:

(a) a escolha de qual tópico vai primeiro é votada na primeira sessão. Não há uma agenda;
(b) na maioria das vezes, os delegados - alguns de propósito, outros não - esticam e alongam a discussão do primeiro tópico;

o que resulta em

(c) o outro tópico jamais é discutido, ou resta apenas uma sessão para ele.

É claro que espera-se que os delegados, ao se inscreverem pro evento, já saibam disso. Ir para um comitê com UM tópico que você ache interessante é sempre um risco. O único jeito é você ir prum comitê no qual você goste dos dois. O que nem sempre é possível, inda mais porque normalmente os tópicos são bem diferentes.

Exemplo mais clássico: AMUN 2004, no qual, para frustração da dupla do Chile e outras, o CS preferiu discutir tribunais ad hoc em vez da situação na Coréia do Norte. Imaginem um calouro de RI/Economia e outro de Medicina discutindo jurisdimentos quando estavam sedentos por ação na península coreana!

Nesse mesmo AMUN, fui Chile no SpecPol e tive de discutir PKOs na África quando tudo o que eu queria era o tópico das armas não-convencionais, que jamais foi discutido. Além da preferência pessoal, o Chile tinha muito mais destaque neste tópico do que no africano.

OUTRA VANTAGEM CAPCIOSA - Mais um aspecto negativo dos dois tópicos é que permitem que um aluno que pouco liga pra modelos obtenha uma publicação (o Guia) e depois pouco se lixe pro simulação. Já o Diretor responsável pelo outro tópico tem que carregar o comitê nas costas.

Isto é raro, mas acontece. O principal indicador é o tópico com nome de monografia, especialmente se tiver dois pontos (:).

Claro que na maior parte das vezes a divisão de trabalho entre os responsáveis pelo tópico A e os do B é bem-executada. Mas que já vi caso em que realmente ficou parecendo que um Diretor só fez Guia pela publicação e não tava nem aí pro modelo, ah, isso já.

TEM CONSERTO? - É perfeitamente legítimo argumentar que a situação não precisa de conserto, porque os delegados sabem que ir prum comitê de dois tópicos é sempre um risco. O modelo não tem e nunca teve obrigação nenhuma de satisfazer você com o tópico que você queria. Se você perdeu a motion to set the agenda, que pena. O jeito é fazer o melhor possível na discussão do outro tópico.

Não obstante, soluções tem surgido. Não vou falar aqui de nenhuma teoria, apenas de soluções que testemunhei (ou fiz) na prática. Vamos a elas.

A agenda imutável - dois dias do evento são pro tópico A. Os outros dois dias são pro B. Não há apelação. Sch, calaboca. Usada com bons resultados na OSCE do TEMAS deste ano.

A agenda mutável - As primeiras X sessões são pro tópico A. As restantes, pro B. Ao final de cada sessão, você pode mover para adiar o tópico A por mais uma sessão (pode fazer isto mais de uma vez). Também é possível apresentar um documento com outra divisão de sessões. Ambas as táticas exigem nove votos no CS. Usada com excelentes resultados para a Indonésia no CS do XAMUN.

Grupos de trabalho! - Pelo menos uma sessão inteira é debate não-moderado com delegados produzindo documentos, divididos em dois, três ou quatro grupos. Os grupos podem discutir sub-tópicos do tópico A (caso do SciTech no 8º AMUN), para acelerar a resolução, e depois fazer o mesmo com o B. Ou podem discutir, cada grupo, um dos tópicos na agenda (Foro de São Paulo na SiEM e OTAN do 6º MINI), para tentar matar tudo ao mesmo tempo.

E você? Acha que dois tópicos precisam de "conserto", ou não? Se não: porquê? Se sim: quais as melhores formas de "consertar"?

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Redes Sociais, Amigos e Horizontes

P-A-R-I-r?


Existem duas formas de se participar de simulação, no que tange a local. Uma opção - que atualmente é relativamente fácil - é simular em "casa", na sua própria cidade. Se há cinco anos isso seria um privilégio de três ou quatro cidades no país, hoje existem modelos na maior parte das cidades grandes do Brasil. Outra possibilidade é simular fora, a chamada modelagem "estrangeira". Viajar pra simular é uma experiência sem dúvida gratificante, que traz benefícios incríveis pro modelista - esse é um argumento que provavelmente nunca vamos enfatizar um bastante: um diretor que não tem contato com o mundo lá fora, com outras simulações, SEMPRE é prejudicado, especialmente se encontrar delegados "estrangeiros" - mas também traz uma carga desfavorável. Por mais incrível que possa parecer pra nós, convencer as pessoas que viajar pra participar de um evento acadêmico e fazer amigos tem ficado cada vez mais difícil. Aqueles velhos argumentos do custo e do tempo são disparados constantemente.

Tendo em vista a recente discussão que se tem feito sobre como atrair novos delegados, é importante reforçar um dos aspectos mais legais da modelagem: viajar é MUITO bom, e não cansa dizer: pro modeleiro é BEM MAIS FÁCIL que um mero mortal nao-iniciado nas artes modelísticas.

Recentemente estive viajando e pude conferir mais uma vez o que já pude usufruir em várias ocasiões. Encontrei com vários alunos da PUC-SP e USP em Paris (Sim, a Laura Redondo é um "s") e fizemos um mega-tour guiados por Aline Martins (PUC-SP) e Thiago Nogueira (USP), ambos residentes na cité lumiére. Fizemos roteiros turísticos, Código-DaVincianos, Gastronômicos e tudo mais. Ao final de alguns dias de estadia imaginei como nós acabamos por formar uma rede social - pra usar um termo da moda - peculiar. Em tempos de Orkut, MySpace e Facebook, a Modelândia acaba servindo não só de uma extensa rede de contatos (um networking poderoso, alguns diriam, por contar com vários formadores de opinião) que facilita desde acesso a material de pesquisa, até suas viagens. Eu já simulei em vários estados, e só fiquei em hotel uma única vez, no AMUN 2003, meu primeiro modelo. De lá pra cá, em todos meus modelos como delegado pude aproveitar a hospitalidade de outro modeleiro ciente da complicação que se é vir do nordeste pra simular no sudeste (ou mesmo ir pra outro estado do nordeste, no caso do SONU, do Ceará).

Da mesma forma, tive a oportunidade de receber amigos (ou não, conheci gente espetacular que apareceu na minha casa sem nenhum conhecimento prévio, como Bernardo Moretzsohn) que vieram pra SOI. Inclusive é a nossa eterna disposição de receber quem quiser vir que possibilitou que tivéssemos vários delegados de vários estados do Brasil mesmo a imensa maioria achando que é caro demais ir pra esquina, quem dirá ir pro nordeste. Não fiz uma pesquisa formal nesse sentido, mas vocês que vieram podem comentar se o oferecimento de estadia foi ou não um fator decisivo na sua opção de comparecer a um modelo aqui em Natal.

Essa rede de amigos acaba gerando efeitos ainda mais positivos que a hospedagem em um modelo ou outro. Não é raro você ouvir falar de um modeleiro isolado (ou não) em outra cidade, ou até em outros países. Da Rússia à Suécia, da Suiça ao Canadá, de Portugal à Escócia, faça a experiência: próxima vez que você for viajar pra qualquer lugar, faça uma sondagem de modeleiros, use seus contatos e você muito provavelmente vai encontrar alguém perto de você disposto a viajar e passear pelas redondezas. Mais uma vez: esse é um luxo que pouca gente tem. E conhecer gente assim, diferente, é mais um atributo extremamente positivo desse nosso hobby, e não pode ser esquecido quando vamos tentar convencer alguém a participar de um modelo. Especialmente quando vamos formar delegação pra modelar fora: esse contato com o "mundo lá fora" pode ser crucial pra a sedimentação de um delegado engajado em aprender e participar da nossa adorável modelândia, ao contrário de um delegado que acha que participar do seu modelo da sua cidade ou da cidade vizinha é o bastante. Talvez seja uma lição a meditar, se ainda pretendemos alcançar novos horizontes com as simulações no Brasil.