Como diferentes posturas da mesa diretora influenciam no debate
Todos nós estamos cansados e, talvez, um pouco calvos de saber que a boa mesa diretora consegue levar o debate para o assunto ou ênfase de seu interesse, através de crises, cartas de governo, sutis sugestões para certas delegações-chave, etc. Daí algumas pessoas dizerem que diretores também têm um pouco de puppet master em si (e eu me incluo nesse grupo).
Como quase tudo no mundo modelístico, esse tipo de atitude pode ser utilizada tanto para o bem quanto para o mal. Intervenções na hora errada, crises malucas (vide este post), golpes repentinos em países que, até cinco minutos atrás, estavam em relativa paz e harmonia... Tudo isso é feito por mesas diretoras despreparadas, e prejudica o bom andamento do debate. Da mesma maneira, há mesas que, por omissão, deixam o comitê degringolar, apenas para alcançar um ideal inviável de realidade na simulação (afinal, no “mundo real”, os moderadores não intervêm em coisa alguma no debate).
Isso dito, na minha percepção, há duas “correntes” de mesas diretoras: a intervencionista e a neoliberal/“mesa mínima”, ambas com seus respectivos extremos e tons de cinza.
A corrente intervencionista argumenta que a mesa diretora deve intervir no debate sempre que houver um desvio do plano original das discussões. Isso se daria através da modificação do ambiente objetivo da simulação – ou seja, o contexto internacional. Afinal, é para isso que os diretores controlam as “notícias” e cartas de governo. Em suma: se algo vai mal, é necessário corrigir antes que isso prejudique o trabalho do comitê.
Já a teoria da “mesa mínima” defende que, se a China quiser discutir a questão da educação básica no Haiti no Conselho de Segurança, a mão invisível de Kelsen (ou seu teórico predileto) retornará a discussão à normalidade. Ora, se John Bolton resolver falar de moscas da Patagônia no UNSC, não vai ser a presidência da vez que vai impedir. O ideal de que “o rumo do comitê é definido pelos delegados e não é passível de modificação” guia a mesa diretora “mínima”.
Ambos os lados têm argumentos válidos. Todavia, já dizia o velho Aristóteles: “o justo não está nos extremos, mas nos meios”. Ou seja: deve haver uma terceira via, capaz de navegar entre essas duas correntes, maximizando os efeitos positivos de uma intervenção e mitigando os negativos.
Concluindo: avaliar a hora certa de introduzir uma crise ou intervir de qualquer forma é uma capacidade do bom diretor de comitê. Mas é preciso compreender que também faz parte do jogo aquilo que nós, juristas, chamamos de alea – sorte, acaso, imprevisibilidade dos acontecimentos futuros. Coisas que não aconteceram como planejado ou deram errado ocorrem nos melhores comitês – nos piores também, mais freqüentemente – mas os diretores devem decidir se vale mais a pena tentar salvar o comitê por meio de uma intervenção, ou se no fim o status quo não planejado será benéfico para a produção do comitê.