sábado, 31 de maio de 2008

A Escola Gaúcha de Modelagem e Vendidagem

Antes de dar espaço pro Gustavo, um adendo meu: parece que o desafiu surtiu efeito, então eu aproveito a deixa e pergunto CADÊ OS MODELEIROS DA REGIÃO NORTE? E VOCÊS DO CENTRO-OESTE? VÃO DEIXAR O POVO DE BRASÍLIA FALAR POR VOCÊS? HEIN, HEIN? Era só isso, obrigado =)

Pra quebrar o silêncio, uma experiência nova vinda do Sul...

Gustavo Meira Carneiro

Finalmente! Imagino que muitos dirão isso... O último post do Sr. Wagner Arthur finalmente conseguiu me fazer vencer a preguiça e escrever algo para o Representatives em nome do povo modeleiro da UFRGS, tão citado e ao mesmo tempo tão calado nesse blog. Mais integração entre os modelos brasileiros é essencial, e acho que escrever no Representatives é a ferramenta perfeita para melhorar isso (além das festas de modelo, claro). Como uma comunidade modelística fisicamente distante do centro do país, nós da UFRGS acabamos por desenvolver idéias e conceitos um pouco diferentes sobre Modelos, então acho que podemos contribuir e ganhar bastante discutindo mais por aqui.

Passemos ao assunto principal do post, então.

Em muitos posts do blog se vêem menções aos problemas na passagem de gerações de modeleiros, à queda de participação e às dificuldades de integração de pessoas novas nesse mundinho fechado dos MUNs brasileiros. Como parte de toda uma filosofia modelística que não cabe nesse post, o UFRGSMUN de 2008 tomou algumas medidas que, acredito, ajudaram bastante na diminuição dessas dificuldades todas. Uma primeira medida foi a “abertura” do staff (acadêmico e administrativo) do UFRGSMUN para pessoas de todos os cursos da nossa Universidade, que têm contribuído muito para o crescimento do modelo.

Mas o assunto principal desse post é outra idéia que tivemos, e que acredito que possa ser importante para o futuro dos modelos (não é pretensão...): o nosso Curso de Simulações - a “Escola de vendidagem” (sim, nós acreditamos na boa vendidagem, mas essa polêmica fica pra outro post). Montamos um curso de extensão na UFRGS aos sábados pela manhã, aberto a estudantes de todas as áreas e Universidades, para ensinar sobre o que são e como participar de MUNs. Nós mesmos não esperávamos o sucesso que tivemos: foram quase 70 inscritos, na maioria alunos de 1° e 2° semestres. As aulas abordam os temas essenciais para o delegado aproveitar bem um MUN, desde o funcionamento da ONU até a maneira de se dirigir ao chair.

Fazendo uma avaliação posterior (o curso está quase no fim), vejo que ele acabou sendo importante não só pela melhora no nível geral dos delegados, mas também porque despertou em muitos calouros uma grande empolgação pelos modelos que talvez eles não desenvolvessem participando “crus” de um MUN. Outra contribuição importante do curso diz respeito justamente ao tal “conflito de gerações”. Acho que o distanciamento de gerações acontece, em linhas gerais, porque os velhos modeleiros acabam não compartilhando suas histórias e sua experiência, às vezes por arrogância mesmo, às vezes simplesmente por não estarem mais “entre nós”. A existência de um grupo fechado de modeleiros velhos (mesmo que só na aparência) afasta uma parte dos novos delegados e acaba criando um gap.

O que aconteceu no nosso curso foi mais ou menos o oposto disso. Os nossos principais professores eram os velhos vendidos Diego Canabarro, Fernando Bordin e Thomaz Santos, que fazem parte da primeira geração do UFRGSMUN e compartilharam suas histórias e sua experiência de uma forma muito aberta com os alunos. Essa abertura, e a referência constante a histórias de delegados jurássicos (mesmo com a contribuição de alguns membros desse blog) fez com que essa grande turma de novos delegados se sentisse parte do mundo modelístico mesmo sem ter ainda participado de um MUN. A simples troca de histórias, e a própria criação de um role model simpático e acessível do bom delegado, conseguiram aproximar bastante bem essas gerações distintas. Mesmo sem a criação de laços mais profundos de amizade, a simples troca de experiências faz com que se consiga envolver as novas gerações de MUNers de maneira mais profunda, o que permite (assim esperamos) que o modelo tenha continuidade e que as novas gerações se espelhem nos acertos e desviem dos erros das gerações anteriores.

Essa conclusão pode levar à discussão do “tradicionalismo” e da inovação nos modelos, algo que temos discutido bastante por aqui. Quem sabe um próximo post?

Fico muito feliz em quebrar nosso silêncio e espero ter contribuído um pouco!

terça-feira, 27 de maio de 2008

Natal: um caso modeleiro brasileiro

"enquanto isso, na sala da justiça, nossos indomáveis heróis discutem modelos de controle de constitucionalidade na constituição federal de 1988"

Para muitos jovens modeleiros que não conhecem as delegações da UFRN, o nome "Natal" está associado a um recanto tropical paradisíaco, uma época festiva do ano ou simplesmente três pontos fáceis no Campeonato Brasileiro. De qualquer forma, o nome evoca estranheza no que tange a modelos, ou simplesmente uma sensação de que é longe demais pra fazer alguma diferença - Assim como pra muita gente falar de Porto Alegre parece distante, quem sabe se alguém do UFRGSMUN escrevesse aqui as coisas ficariam mais fáceis, NÃO É, PESSOAL? [sim gauchada, tou olhando pra vocês].

Enfim, ledo engano! Natal talvez tenha um exemplo curioso para a Modelândia brasileira.

Ah, a história...

A Simulação de Organizações Internacionais - SOI, surgiu em 2001 sob inspiração do AMUN, simulando a OEA. A partir de 2003 passou a ter vários comitês, e de 2004 pra cá tem tido frequentes (não confundir com numerosas) delegações estrangeiras participando dos debates. Desde 2005 é realizada também, de forma separate-but-equal a Mini-SOI, sob inspiração do Mini-ONU, o modelo secundarista da SOI, que acontece paralelamente ao evento universitário. Como a SOI tem em média 5 comitês todo ano - e já vai na oitava edição - vários comitês diferentes já foram simulados. Como tem poucos delegados de fora, as incrições da SOI são geralmente preenchidas só com os delegados "prata da casa", não dependendo de influência externa à UFRN pra se manter. Recentemente tem voltado a ter orientação acadêmica de professores, o que tem resultado numa sensível melhora entre os diretores, conforme informações que apurei com alguns deles - não faço mais parte da SOI, frise-se.

Até aí tudo normal, existem várias cidades do Brasil que possuem modelos Universitários E Secundaristas. Mas a coisa fica mais quente.

Ano passado surgiu a FARNSim, simulação da FARN, uma das universidades privadas de Natal. Totalmente universitário, o órgão escolhido foi o PNUMA. Apesar de ter contado com apoio de membros do Staff da SOI, cresceu com equipe distinta. Este ano discute-se o padrão de crescimento, se será mais uma vez só um comitê, dois, por aí vai. A intenção é que seja realizada em semestre oposto à SOI. De qualquer forma, é uma organização independente, friso este ponto.

Ok, o número de cidades com dois modelos universitários independentes afunila ainda mais a situação. Mas pode-se argumentar que assim como a FARNSim, existem vários modelos em crescimento, então em pouco tempo várias cidades estarão como Natal, com modelos independentes mas cooperativos, sem rusgas político-modelísticas. Mas ainda tem mais.

Em 2005 foi criada a STC, Simulação de Tribunais Constitucionais. Refletindo a vocação da SOI para o Direito, com a ajuda de um ex-membro da SOI e ex-delegado do AMUN, alguns alunos resolveram fazer um spin-off da SOI, uma simulação de STF. Os participantes não representariam países, mas Ministros e Amicus Curiae da Suprema Corte. Se comitês bizarros são as flores da estação, um modelo SOMENTE com uma espécie de formato alternativo-jurídico era algo novo. Mas eles não pararam por aí. Este ano o STC contou com uma Assembléia Constituinte, além do mesmo STF que será simulado no segundo semestre.

O futuro da humanidade é a sofisticação.

O interessante na análise do caso Natalense é a diversidade contida na própria situação. Temos situações encontradas isoladamente em vários lugares do Brasil condensadas em um único ambiente em que - e nisso eu não poderia enfatizar o bastante - NINGUÉM SE MATA. É absurdo ver que em algumas cidades certos modeleiros não entendam a importância de cooperaração para se alcançar seus objetivos, casa de ferreiro espeto de pau.

Modelos surgem de formas diversas buscando alcançar objetivos diferentes. Mais uma vez, assim como aprendemos nas simulações, importar - veja que ironia - modelos de gestão e de projetos não é uma boa idéia. O modelo precisa ser um ser vivo, que pulsa e evolui para as necessidades locais. Tem cantos em que cabe um TEMAS, outros cabe um MONU. A SOI é organizada por alunos de Direito, não RI. Logo, tem comitês que pendem pro Direito, e isso é mais que normal, é desejável. Nós não podemos querer ensinar a vocês Clausewitz sob pena de incorrermos em achismos, ou simplesmente de deixarmos de aproveitar o que temos de bom em nossa formação. Resultado: Tivemos uma simulação excelente do Tribunal de Nuremberg (com direito a testemunhas, ossadas, laudo psiquiátrico e tudo), temos uma tradição de ILC (assim como a UFRGS, que fez antes e de quem aprendemos a fazer). E qual a melhor forma dessa vocação se traduzir que na propositura de um novo modelo, mais específico?

O debate do STC para mim foi incrível por vários aspectos. O principal foi por eu identificar uma mecânica de simulação adaptada naturalmente - imagine que uma dona de casa vai pegar o filho no OnuJr ou na SiEM, vê de relance como funciona um comitê, e mais tarde, na reunião do condomínio, sugere que o mediador adote uma lista de oradores. É simples faz a diferença, e é inteiramente natural. É disso que estou falando, guardadas as proporções. - por pessoas que viram na mecânica das simulações de relações internacionais uma forma de propiciar o ensino. e não é esse nosso interesse? Aprender mais através das simulações? Então porquê simulações jurídicas assim são tão raras? E a participação de alunos de Ciências Sociais? Qual o motivo de projetos como o Senado Brasileiro da Revolta da Vacina da SiEM passada não inspirar um modelo somente para atividades políticas internas? Precisamos continuar evoluindo, e pode ser que seja o caso em que a especificação seja justamente a nossa sofisticação.

E mais que investir somente na sofisticação, precisamos na verdade continuar no feijão com arroz e fazer ainda mais. Ainda há muito campo de melhora, a seara é grande e temos muito a fazer. Os modeleiros de hoje já são bem melhores que os da época do primeiro AMUN, justamente como fruto desta evolução. Mas a diversidade e amplitude dos desafios à nossa porta mostram que exemplos como o de Natal na verdade são somente o que eu já falei: a reunião de vários fatores que afetam a nós todos, combinados em um contexto muito próximo. Mais que aprender com Natal, precisamos crescer com Natal, mostrando que nossa sofisticação é muito mais que discursos populistas, que somos os trópicos paradisíacos da modelândia global, com água de coco e tudo mais.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Holanda leva o WorldMUN 2009. E o Brasil?

A cidade da Haia, que é sede do governo (mas não a capital!) da Holanda e que organiza a maior simulação da ONU da Europa, vai receber a edição 2009 do WorldMUN de Harvard, o modelo mais famoso da Terra. A notícia saiu há poucas horas. Haia havia ficado em segundo lugar na corrida pelo WorldMUN 2008, perdendo para Puebla, no México.



A nomeação da cidade neerlandesa confirma a tendência, descrita por nosso blog há um ano, de um revezamento entre sedes européias e não-européias do WorldMUN. Para quem não sabe, este é um enorme modelo itinerante, com 1400 a 1800 delegados por ano, que cada vez ocorre em um lugar diferente. Belo Horizonte organizou a edição 2002. Depois disso os brasileiros tomaram um chá de sumiço, mas de dois anos para cá voltaram a mandar boas delegações para o WorldMUN.

Como Representatives of the World repete constantemente, as simulações da ONU organizadas no Brasil estão entre as melhores do mundo em termos acadêmicos, de criatividade pedagógica e de realismo. Porém, o resto da humanidade modeleira não sabe disso. A boa notícia neste setor é que o XI AMUN - que vai ter delegados até da Sibéria! - será certamente o modelo brasileiro com mais estrangeiros nos últimos três anos. Mas não é suficiente. No geral, a Modelândia brasileira continua a ser uma ilha.

O que podemos fazer para integrar melhor os MUNs brasileiros ao resto do mundo? Uma opção ambiciosa seria tentar trazer o WorldMUN 2010 para o país, mas isso apenas será possível se muitos modeleiros experientes de uma mesma cidade grande (eg Brasília, São Paulo, Rio ou Porto Alegre) fizerem bonito no WorldMUN 2009, na Holanda, e ainda montarem um projeto administrativo muito forte, no mínimo com apoio do governo. Mas existem outras comunidades modeleiras não-européias, por exemplo na Austrália e na India, que gostariam de fazer o mesmo e portanto seriam nossas rivais.

Há alternativas. Vamos fazer um brainstorm e sacar um pouco da nossa ginga criativa tropical. Pense comigo, caro leitor: muitas faculdades brasileiras, que organizam bons MUNs, já possuem parcerias acadêmicas com universidades modeleiras do Hemisfério Norte. Que tal transferir esses laços institucionais para as simulações da ONU correspondentes? Exemplo: USP, PUC-SP, UnB, UFRGS e FGV-SP mantém intercâmbios ou mestrados conjuntos com a francesa Sciences Po, que organiza o PIMUN. Basta ligar os pontos.

Outra idéia. Surgiu recentemente uma rede européia de modelos da ONU, envolvendo simulações de Paris, Moscou, Salamanca, Haia e Milão que trocam diretores e delegados entre si, além de ajuda com a hospedagem e descontos recíprocos na taxa de inscrição. O que raios nos impede de criar uma aliança semelhante, digamos, com MUNs da Argentina, da Venezuela, do México e até de Cuba? Hein? Garanto que eles não recusariam.

Pode ser mais difícil para os modelos em português, mas em Portugal também há MUNs, tanto universitários como secundaristas. Procurem no Google.

Não estou falando de nada utópico. Essas são coisas que qualquer secretário-geral com um pouco de ambição e visão pode conseguir, desde que mande alguns e-mails para as pessoas certas. Passar pela Federação Mundial de Associações da ONU e pela sua sucursal brasileira ANUBRA (leia-se Raquel Mozzer) também ajuda.

Quando nossa Modelândia vai sair do casulo, meus amigos?

sábado, 17 de maio de 2008

Versões contraditórias

AFINAL, A CHINA APÓIA OU NÃO O BRASIL COMO MEMBRO PERMANENTE
DO CONSELHO?

Ontem a imprensa brasileira foi sacudida por uma bombástica notícia. O Jornal do Brasil e o G1, da Globo, noticiaram que na reunião do BRIC a China mostrou apoio à candidatura do Brasil a membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.

Do JB: "A Rússia e a China apoiaram a inclusão do Brasil no Conselho de Segurança da ONU"

Do G1: "Os governos da Rússia e da China apoiaram, pela primeira vez, a candidatura do Brasil para uma vaga no Conselho de Segurança da ONU."

Nós já podemos constatar aqui algumas estranhezas. Na notícia do JB, "Celso Amorim (...) agradeceu o apoio russo". Uai, e porque não agradeceu o apoio chinês? Outra coisa é que sabemos que a Rússia já apóia o Brasil, este apoio não é inédito como diz o G1. Ao apoio russo somam-se o francês e o britânico.

O apoio chinês explícito ao Brasil seria uma incrível vitória do Itamaraty e do Governo Lula. Seria o cala-boca definitivo no argumento de que, quando o Brasil reconheceu a China como economia de mercado na OMC, levou uma rasteira dos mandarins.



A forma de apurar a história é ver o tal comunicado conjunto final dessa que foi
a primeira reunião do tal BRIC, conceito inventado por um analista do Banco Mundial.

Ora, o comunicado tem a típica linguagem diplomática a que nós modeleiros estamos acostumados:

"
Os Ministros da Rússia e da China reiteraram que seus países atribuem importância à posição da Índia e do Brasil no sistema internacional, e compreendem e apoiam (sic) as aspirações da Índia e do Brasil para desempenharem papel de maior relevo nas Nações Unidas. "

Quer dizer... Pequim apóia sim "aspirações a papel de maior relevo". Não apóia sequer papel de maior relevo, só a aspiração! Tipo: "legal que você tem esse sonho, cara. Show de bola".



CONCLUSÃO: Não foi dado apoio explícito chinês ao Brasil como membro permanente, ao contrário do que noticiaram G1 e JB.

Mas não estamos sozinhos. O jornal indiano The Hindu também lamenta a posição chinesa, e afirma até que a China teria apoiado a Índia num encontro bilateral anterior e agora voltou atrás. E o também indiano TimesNow entende que a China apoiou a Índia no encontro de quinta-feira, que foi só RIC e não BRIC.

Com jornalistas otimistas assim, estamos muito bem-servidos.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

A little less conversation, a little more action, please

Comentário nonsense antes que inspirou o título: Elvis Presley seria um bom delegado em um gabinete.


Atualmente a menina dos olhos de boa parte dos modeleiros brasileiros, comitês em estilo gabinete são uma interessante variação das simulações diplomáticas que a maioria das conferências brasileiras oferecem. Qual é a graça? Diferentemente dos MUNs convencionais, os delegados não se restringem apenas a discussões - é esperado que eles decidam, que ajam, que tomem medidas (às vezes drásticas) para solucionar o problema que lhes é apresentado, e lidar com as conseqüências.


Pessoalmente, pude participar de quatro simulações em estilo gabinete (uma vez como diretor, nas outras como delegado). Cada uma delas teve seus atrativos e suas falhas, suas vantagens e desvantagens. Mas o principal chamativo de qualquer gabinete é aquela sensação de "pá-pum" quando se toma alguma decisão. Não basta apenas aprovar uma resolução, uma ordem ou uma recomendação – alguma coisa tem que acontecer depois disso.


Em geral, no entanto, ocorre um fenômeno curioso nos gabinetes. Talvez por conta das rotinas com as quais estamos acostumados em modelos, é muito difícil aceitar que as coisas sejam decididas sem discussões ou sem consultas a vozes dissidentes. As explicações para isso variam.


Eu não sei se há um motivo exato para explicar esse fenômeno, mas vou arriscar e puxar um fio que o Cedê certa vez mencionou sobre algo que falta aos modelos: o ensino da responsabilidade (lembrando do filósofo Ben Parker: "com grande poder vem grande responsabilidade").


Ano passado tive o privilégio de participar do TEMAS 2007 na qualidade do então President of the United States, Richard Nixon, em 1970, durante a Guerra do Vietnã. A decisão final (entre outras tantas que tomamos) era se bombardearíamos ou não o Camboja, em um dos episódios mais críticos da Guerra. Por uma série de motivos, optou-se por seguir a História real ao invés de mudá-la: fizemos queijo suíço da fronteira Camboja-Vietnã. Embora quem assinasse a ordem final em muitos casos fosse eu, e em termos estruturais eu fosse a pessoa "responsável" por um dado ato, ninguém queria assumir a responsabilidade de ter mandado bombardear um país neutro na guerra.


Salvo pelos outros gabinetes em que eu participei, em nenhum outro modelo eu me senti tão pressionado e preocupado com as conseqüências de um papel que assinei. É difícil nós vermos em um comitê da Assembléia Geral, por exemplo, qualquer traço de accountability pela postura de um delegado ou pelas decisões que o próprio comitê toma. Em simulações do UNSC, pelo menos de uns anos para cá, isso vem mudando principalmente por conta de uma nova dinâmica de funcionamento, mas como há tantos outros tipos de comitês por aí, o Conselho e os gabinetes são as exceções à regra.


Determinados organismos têm que lidar com a imprensa constantemente (seja de uma forma democrática, como a OTAN, ou autoritária, como no Conselho de Segurança Nacional de 1968). Outros têm que lidar com a possibilidade de demissão de algum de seus membros (como pude presenciar em duas ocasiões, no NSC de 1970 supracitado e o Conselho de Ministros do Império do Brasil, em 1868, do TEMAS 2006). De qualquer forma, esses aspectos remontam à questão da responsabilidade de um jeito ou de outro (cuidado com o que você fala à imprensa, ou dados sigilosos podem vazar; reverter uma demissão não é algo fácil, e indica que alguma coisa não está bem azeitada na máquina decisória; etc.).


Tudo isso forma um conjunto que faz com que gabinetes sejam, na maioria das vezes, algo mais atrativo a quem quer mais emoção no seu modelo. A inserção do accountability na simulação torna as coisas bem mais interessantes e, naturalmente, mais tensas. Essa dose extra de tensão pode espantar alguns delegados, mas geralmente atrai aqueles que já participaram de alguns modelos e querem algo diferente.


A questão do accountability não é o único chamativo dos gabinetes, claro, mas após matutar sobre o assunto, eu acredito ser o mais importante, embora o menos visível em um primeiro momento. O que acham?