
DO CONSELHO?
Ontem a imprensa brasileira foi sacudida por uma bombástica notícia. O Jornal do Brasil e o G1, da Globo, noticiaram que na reunião do BRIC a China mostrou apoio à candidatura do Brasil a membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
Do JB: "A Rússia e a China apoiaram a inclusão do Brasil no Conselho de Segurança da ONU"
Do G1: "Os governos da Rússia e da China apoiaram, pela primeira vez, a candidatura do Brasil para uma vaga no Conselho de Segurança da ONU."
Nós já podemos constatar aqui algumas estranhezas. Na notícia do JB, "Celso Amorim (...) agradeceu o apoio russo". Uai, e porque não agradeceu o apoio chinês? Outra coisa é que sabemos que a Rússia já apóia o Brasil, este apoio não é inédito como diz o G1. Ao apoio russo somam-se o francês e o britânico.
O apoio chinês explícito ao Brasil seria uma incrível vitória do Itamaraty e do Governo Lula. Seria o cala-boca definitivo no argumento de que, quando o Brasil reconheceu a China como economia de mercado na OMC, levou uma rasteira dos mandarins.

A forma de apurar a história é ver o tal comunicado conjunto final dessa que foi
a primeira reunião do tal BRIC, conceito inventado por um analista do Banco Mundial.
Ora, o comunicado tem a típica linguagem diplomática a que nós modeleiros estamos acostumados:
"Os Ministros da Rússia e da China reiteraram que seus países atribuem importância à posição da Índia e do Brasil no sistema internacional, e compreendem e apoiam (sic) as aspirações da Índia e do Brasil para desempenharem papel de maior relevo nas Nações Unidas. "
Quer dizer... Pequim apóia sim "aspirações a papel de maior relevo". Não apóia sequer papel de maior relevo, só a aspiração! Tipo: "legal que você tem esse sonho, cara. Show de bola".

CONCLUSÃO: Não foi dado apoio explícito chinês ao Brasil como membro permanente, ao contrário do que noticiaram G1 e JB.
Mas não estamos sozinhos. O jornal indiano The Hindu também lamenta a posição chinesa, e afirma até que a China teria apoiado a Índia num encontro bilateral anterior e agora voltou atrás. E o também indiano TimesNow entende que a China apoiou a Índia no encontro de quinta-feira, que foi só RIC e não BRIC.
Com jornalistas otimistas assim, estamos muito bem-servidos.
Um dos problemas do jornalismo nestes tempos de internet é a difusão acelerada dos erros. Se um jornal ou site razoavelmente confiavel diz uma coisa, outros tantos vão automaticamente repeti-lo (mudando as palavras, é claro...) sem verificar os fatos, a menos que se trate de algo inverossimil. Azar do leitor se não for verdade.
ResponderExcluirIsso é particularmente grave no noticiario internacional, que não é levado a sério pela maioria dos jornais. Como quase ninguém tem correspondentes proprios, todo mundo terceiriza o trabalho duro para as grandes agências noticiosas. Eu tomo muito cuidado quando vejo um "com agências internacionais" em um texto...
Dito isso, acho que a linha do Itamaraty esta certissima, e que seria dificil fazer melhor nas circunstâncias de hoje. Mesmo que o apoio chinês seja superficial, o efeito politico desse encontro do BRIC foi bom para todo mundo: criou-se a imagem de que os EUA estão bloqueando quase sozinhos a reforma do Conselho (o que obviamente não é verdade, mas foi dito ipsis litteris pelo Lavrov). Com isso, aumenta a pressão pra que a proxima administração americana mude sua politica a respeito.
Ganhos pequenos, 'baixadô, mas duraveis!
Eu estou cansado demais para raciocinar claramente sobre o tema, mas o meu ultimate dream de modelagem é representar o Brasil como membro permanente do UNSC.
ResponderExcluir1. Napozêra: isto não acontece muito freqüentemente, hem, mas concordo você até a última vírgula.
ResponderExcluir2. Phil: mas como apenas modelagem ou como simulação mermo =p? Se só modelagem, o Brasil já foi membro permanente em simulações estrangeiras passadas no futuro, e este ano no MINI haverá um CS em 2025 no qual o Brasil também é membro permanente.
Bem... Agora que você falou... Pode ser nos dois "mundos" mesmo :)
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