sábado, 1 de dezembro de 2007

Os truques do delegado Schopenhauer


Se Arthur Schopenhauer estivesse vivo e tivesse vinte anos, certamente participaria de modelos da ONU, que são bastante populares na Alemanha. Infelizmente o filósofo ranzinza morreu um século antes da sapatada do Khrushchev, e jamais teve o privilégio de propor uma moção para adiamento da sessão.

Porém, todavia, não obstante, entretanto e contudo, Schopenhauer deixou um testamento para os modeleiros contemporâneos. Em um trecho de seu conhecido livro "The Art of Controversy", ele nos ensina 38 maneiras eficazes de vencer qualquer discussão.

Aqui vão as minhas favoritas, devidamente acompanhadas de um exemplo concreto para os delegados issshpertos. Vamos imaginar que estamos no Conselho de Segurança. O delegado Schopenhauer (em vermelho) representa a China e o delegado Hegel (em azul) representa os Estados Unidos. Pauta: Darfur.


1. Carry your opponent's proposition beyond its natural limits; exaggerate it.
The more general your opponent's statement becomes, the more objections you can find against it.
The more restricted and narrow your own propositions remain, the easier they are to defend.


"O delegado Hegel dos EUA propõe novos embargos contra o Sudão. Suponho que ele também defenda um bloqueio econômico total e irrestrito contra aquele governo, o que aumentaria a miséria no mais extenso país africano, causaria indescritível sofrimento entre a população civil e agravaria a longo prazo o conflito. Como no Iraque dos anos 90! Os senhores concordam com isso?"


11. If the opponent grants you the truth of some of your premises, refrain from asking him or her to agree to your conclusion.
Later, introduce your conclusions as a settled and admitted fact.

"O senhor fala de um "genocídio" em curso no Darfur, senhor delegado dos EUA. Mas não concorda que o total mensal de vítimas do conflito é atualmente bem menor do que em 2004 ou 2005?"

"Sim, isso é verdade."


"Pois então estamos de acordo, senhor Hegel: a situação está melhorando e não existe "genocídio" nenhum. Vamos mudar de assunto!"



27. Should your opponent suprise you by becoming particularly angry at an argument, you must urge it with all the more zeal.
No only will this make your opponent angry, but it will appear that you have put your finger on the weak side of his case, and your opponent is more open to attack on this point than you expected.

"O senhor está protegendo as práticas assassinas do governo sudanês, delegado Schopenhauer! Estou ultrajado!! Isto é um absurdo!!"

"Para quê tanto escandalo? Não se deve gritar em um ambiente diplomático, caro delegado Hegel. Devo concluir que este é um assunto delicado para o governo americano. Será por causa de suas bases militares no Djibuti e de seus interesses no petróleo do Sudão, um Estado soberano?"


"Hein?! Como assim, petróleo? Bases militares?! Não sei do que o senhor está falando! Pare de defender o ditador sudanês!!"


"Agora tudo fica claro. Quando tocamos nos interesses sensíveis da América, a América fica nervosa..."



29. If you find that you are being beaten, you can create a diversion--that is, you can suddenly begin to talk of something else, as though it had a bearing on the matter in dispute.
This may be done without presumption if the diversion has some general bearing on the matter.

"Aqui tenho relatórios da ACNUR que documentam extensivamente as práticas perversas das milícias janjaweed no Darfur. São testemunhos de massacres, estupros, torturas e outras violações massivas dos direitos humanos. O que o senhor tem a dizer, hein, delegado Schopenhauer da China?"

"Mas que coincidência! Eu tenho relatórios do Banco Mundial que demonstram uma alta de 6% da renda média do Sudão - que inclui o Darfur - nos últimos anos. Vamos discutir estratégias para consolidar essa expansão econômica sudanesa, pois a paz é conseqüência da prosperidade."


33. You admit your opponent's premises but deny the conclusion.

Example: "That's all very well in theory, but it won't work in practice."

"O delegado Hegel dos Estados Unidos quer mandar trinta mil peacekeepers para o Sudão. Isso é muito bonito no papel, mas o inferno está cheio de boas intenções. Resoluções passadas já autorizaram grandes contingentes de forças internacionais no Darfur, mas poucos Estados quiseram enviar suas tropas e o próprio governo sudanês se recusou a recebê-las. Não funcionou! Portanto, sejamos pragmáticos. Já que é impossível mandar tropas para a região, vamos colaborar com o governo sudanês para resolver pacificamente o problema!"

8 comentários:

  1. Sim senhor! Como percebeu que se trata de uma montagem? :p

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  2. A gente brinca, mas que tem horas que nós mesmos apelamos pra isso, ah mas tem... :D

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  3. Eu tive uma palestra sobre isso semestre passado na faculdade... São muito divertidos esses estratagemas :D

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  4. Pois saiba que esses são exemplos (quase) reais, Pereira!

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  5. Como sempre digo....com o advento da internet...ficou mais facil para as pessoas aprenderem essas coisas hehehe...

    Napo, ficou muito bom

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  6. "tem horas"?

    Oh c'mon, Pereira, não seja modesto, é óbvio que a gente usa isso, eu pelo menos uso isso TODO modelo!

    E especificamente, os pequenos apostos que viram parênteses que viram colchetes e em pouco tempo já viraram uma outra resolução são uma das melhores formas de se afundar um debate, digo, re-colocar as coisas em seu devido lugar na ordem de debate!

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