terça-feira, 27 de maio de 2008

Natal: um caso modeleiro brasileiro

"enquanto isso, na sala da justiça, nossos indomáveis heróis discutem modelos de controle de constitucionalidade na constituição federal de 1988"

Para muitos jovens modeleiros que não conhecem as delegações da UFRN, o nome "Natal" está associado a um recanto tropical paradisíaco, uma época festiva do ano ou simplesmente três pontos fáceis no Campeonato Brasileiro. De qualquer forma, o nome evoca estranheza no que tange a modelos, ou simplesmente uma sensação de que é longe demais pra fazer alguma diferença - Assim como pra muita gente falar de Porto Alegre parece distante, quem sabe se alguém do UFRGSMUN escrevesse aqui as coisas ficariam mais fáceis, NÃO É, PESSOAL? [sim gauchada, tou olhando pra vocês].

Enfim, ledo engano! Natal talvez tenha um exemplo curioso para a Modelândia brasileira.

Ah, a história...

A Simulação de Organizações Internacionais - SOI, surgiu em 2001 sob inspiração do AMUN, simulando a OEA. A partir de 2003 passou a ter vários comitês, e de 2004 pra cá tem tido frequentes (não confundir com numerosas) delegações estrangeiras participando dos debates. Desde 2005 é realizada também, de forma separate-but-equal a Mini-SOI, sob inspiração do Mini-ONU, o modelo secundarista da SOI, que acontece paralelamente ao evento universitário. Como a SOI tem em média 5 comitês todo ano - e já vai na oitava edição - vários comitês diferentes já foram simulados. Como tem poucos delegados de fora, as incrições da SOI são geralmente preenchidas só com os delegados "prata da casa", não dependendo de influência externa à UFRN pra se manter. Recentemente tem voltado a ter orientação acadêmica de professores, o que tem resultado numa sensível melhora entre os diretores, conforme informações que apurei com alguns deles - não faço mais parte da SOI, frise-se.

Até aí tudo normal, existem várias cidades do Brasil que possuem modelos Universitários E Secundaristas. Mas a coisa fica mais quente.

Ano passado surgiu a FARNSim, simulação da FARN, uma das universidades privadas de Natal. Totalmente universitário, o órgão escolhido foi o PNUMA. Apesar de ter contado com apoio de membros do Staff da SOI, cresceu com equipe distinta. Este ano discute-se o padrão de crescimento, se será mais uma vez só um comitê, dois, por aí vai. A intenção é que seja realizada em semestre oposto à SOI. De qualquer forma, é uma organização independente, friso este ponto.

Ok, o número de cidades com dois modelos universitários independentes afunila ainda mais a situação. Mas pode-se argumentar que assim como a FARNSim, existem vários modelos em crescimento, então em pouco tempo várias cidades estarão como Natal, com modelos independentes mas cooperativos, sem rusgas político-modelísticas. Mas ainda tem mais.

Em 2005 foi criada a STC, Simulação de Tribunais Constitucionais. Refletindo a vocação da SOI para o Direito, com a ajuda de um ex-membro da SOI e ex-delegado do AMUN, alguns alunos resolveram fazer um spin-off da SOI, uma simulação de STF. Os participantes não representariam países, mas Ministros e Amicus Curiae da Suprema Corte. Se comitês bizarros são as flores da estação, um modelo SOMENTE com uma espécie de formato alternativo-jurídico era algo novo. Mas eles não pararam por aí. Este ano o STC contou com uma Assembléia Constituinte, além do mesmo STF que será simulado no segundo semestre.

O futuro da humanidade é a sofisticação.

O interessante na análise do caso Natalense é a diversidade contida na própria situação. Temos situações encontradas isoladamente em vários lugares do Brasil condensadas em um único ambiente em que - e nisso eu não poderia enfatizar o bastante - NINGUÉM SE MATA. É absurdo ver que em algumas cidades certos modeleiros não entendam a importância de cooperaração para se alcançar seus objetivos, casa de ferreiro espeto de pau.

Modelos surgem de formas diversas buscando alcançar objetivos diferentes. Mais uma vez, assim como aprendemos nas simulações, importar - veja que ironia - modelos de gestão e de projetos não é uma boa idéia. O modelo precisa ser um ser vivo, que pulsa e evolui para as necessidades locais. Tem cantos em que cabe um TEMAS, outros cabe um MONU. A SOI é organizada por alunos de Direito, não RI. Logo, tem comitês que pendem pro Direito, e isso é mais que normal, é desejável. Nós não podemos querer ensinar a vocês Clausewitz sob pena de incorrermos em achismos, ou simplesmente de deixarmos de aproveitar o que temos de bom em nossa formação. Resultado: Tivemos uma simulação excelente do Tribunal de Nuremberg (com direito a testemunhas, ossadas, laudo psiquiátrico e tudo), temos uma tradição de ILC (assim como a UFRGS, que fez antes e de quem aprendemos a fazer). E qual a melhor forma dessa vocação se traduzir que na propositura de um novo modelo, mais específico?

O debate do STC para mim foi incrível por vários aspectos. O principal foi por eu identificar uma mecânica de simulação adaptada naturalmente - imagine que uma dona de casa vai pegar o filho no OnuJr ou na SiEM, vê de relance como funciona um comitê, e mais tarde, na reunião do condomínio, sugere que o mediador adote uma lista de oradores. É simples faz a diferença, e é inteiramente natural. É disso que estou falando, guardadas as proporções. - por pessoas que viram na mecânica das simulações de relações internacionais uma forma de propiciar o ensino. e não é esse nosso interesse? Aprender mais através das simulações? Então porquê simulações jurídicas assim são tão raras? E a participação de alunos de Ciências Sociais? Qual o motivo de projetos como o Senado Brasileiro da Revolta da Vacina da SiEM passada não inspirar um modelo somente para atividades políticas internas? Precisamos continuar evoluindo, e pode ser que seja o caso em que a especificação seja justamente a nossa sofisticação.

E mais que investir somente na sofisticação, precisamos na verdade continuar no feijão com arroz e fazer ainda mais. Ainda há muito campo de melhora, a seara é grande e temos muito a fazer. Os modeleiros de hoje já são bem melhores que os da época do primeiro AMUN, justamente como fruto desta evolução. Mas a diversidade e amplitude dos desafios à nossa porta mostram que exemplos como o de Natal na verdade são somente o que eu já falei: a reunião de vários fatores que afetam a nós todos, combinados em um contexto muito próximo. Mais que aprender com Natal, precisamos crescer com Natal, mostrando que nossa sofisticação é muito mais que discursos populistas, que somos os trópicos paradisíacos da modelândia global, com água de coco e tudo mais.

8 comentários:

  1. Napozêra já havia feito um post sobre a inevitável especialização de cada modelo, mas suas experiências pessoais narradas aqui são inestimáveis.

    2. Cooperação é bom e aqui em BH acontece muito entre os modelos internos de colégios.

    3. "modelo somente para atividades políticas internas"? Ano passado trabalhei em um, no Colégio Pitágoras de BH. Simulamos quatro comissões da Câmara dos Deputados. O projeto deve crescer.

    4. Em tempo: em julho tem Gabinete do Sérgio Cabral na SiEM!

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  2. O papel de Natal na Modelândia é mesmo crucial. Além de tudo o que Artur disse, é bom lembrar que a SOI inspirou o surgimento de outras simulações no Nordeste, especialmente no Ceara, na Bahia e mais recentemente no Piaui. Se não fosse pelos modeleiros de Natal, MUNs ainda seriam provavelmente restritos ao Centro-Sul no Brasil.

    Dificil entender a participação tão fraca de alunos de Ciências Sociais em modelos. Em boa parte é um problema de mentalidade: muitos futuros sociologos são academicamente puristas, e hesitam em participar de atividades paralelas que não sejam simposios cientificos. Outros são ideologicamente vesgos e pensam que "modelos da ONU são um brinquedo burguês" - sim, ja ouvi essa frase na USP. Seja como for, eles saem perdendo. Claro que existem exceções, e conheço alguns modeleiros que estudam Sociais, mas ainda são uma pequena minoria.

    Ah! Reuniões de condomínio! Essa é a proxima fronteira da Modelândia!

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  3. Discordo de você, Napô, acho que o problema com Ciências Sociais é a falta de contato mesmo. É campo inexplorado que ainda não conseguimos desbravar.

    E nem falei sobre a vocação de difusão regional, com os "filhos" do SONU, contrariando a marginalidade que o RN tem diante tanto do Ceará quanto de Pernambuco (que nem modelo tem)

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  4. Quem vai ser o pioneiro estudante de Recife (ou Olinda?) que vai decidir criar o primeiro modelo de Pernambuco, hein?

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  5. Meninos...
    1. Aqui em Brasília já houve uma simulação do Congresso, organizada pelos alunos de ciência política. Eu não sei detalhes, mas sei que não deu certo (uón uón uón).

    2. Aguardem a simulação-do-direito mais aloprada, inédita, do barulho, muito louca e etc. que vocês jamais viram ;) Quem quiser fazer parte do projeto é bem-vindo!

    Quem viver verá

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  6. Concordo totalmente que deve-se explorar novos campos da Modelândia. Acho que a SiEM é a prova disso, até porque lá são simulados comitês totalmente diferentes, mas que dão certo.

    Em relação a essa camaradagem entre modelos, isso tá começando a acontecer aqui em São José dos Campos. Acho que no máximo ano que vem, teremos o primeiro modelo aberto da cidade \o/

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  7. WA, concordo com seu comentario sobre a falta de contato/divulgação. Isso vale pra muitas areas acadêmicas que estão quase ausentes da Modelândia. Apenas quis citar alguns problemas especificos dos alunos de Sociais. O pessoal que faz Administração, por exemplo, tem motivos diferentes para participar pouco.

    Se eu não me engano, a simulação do Congresso em Brasilia era organizado pela Internationali Negotia, a microempresa do Emiliano e do Leandro, que fundaram a SiNUS seis anos atras. Mas não sei que fim levou o projeto.

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  8. Thomaz, semana passada um aluno da UFPE pediu a nós da SOI informações sobre o projeto, pois estão com a idéia de implantar um modelo lá. Acabamos de começar o contato, espero que dê certo!

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