Para os que não sabem eu sou um proponente da profissionalização das crises. É um termo infeliz, mas a idéia é a de que se for pra fazer crise, faça direito. Não tem NADA pior do que uma crise mal feita, comitês já faliram graças a elas. Mais sobre este tópico pode ser encontrado em postagens mais antigas neste mesmo blog.
A proposta agora é identificar os tipos de crise bizarras que existem na fauna modelística brasileira. Puxei de memória causos que vivenciei e que ouvi, alguns dos exemplos abaixo são reais, e tentei separar os tipos recorrentes. Cheguei a cinco tipos diferentes de crises aos quais dediquei algum tempo para batizá-los de modo adequado (e divertido). O resultado foi o seguinte:
Crise “Jack Bauer”
É a crise onde os acontecimentos são tão detalhados e pouco relacionados à esfera política que o comitê, para não perder a viagem, se transforma num grande jogo de “Detetive”. Quando você começa a discutir coisas como o tempo de vôo de um avião de transporte que vai resgatar aquele oficial da ONU seqüestrado no meio do Sudão, você sabe que está numa crise Jack Bauer. É ótima para comitês de gabinete; as vezes funciona em comitês normais, mas isso só acontece quando os delegados tem a mente (muito) aberta, já que, convenhamos, não tem NADA de verossímil nessas discussões.
Crise “História Sem Fim”
É na realidade um pacotão de crises, do tipo, compre 1 e leve 12. Ela começa e não acaba nunca. Quando os delegados estão apresentando um projeto de resolução para resolver a questão A, acontece uma situação B que invalida aquela resolução e assim por diante. Os delegados NUNCA vão conseguir resolver a situação porque o desenrolar dos acontecimentos é inumanamente rápido. Dependendo de como for feito pode ser interessante, os delegados podem ficar 100% do tempo em discussões boas e interessantes. Mas se os eventos forem chatos corre-se o risco de a situação cansar rapidamente e os delegados perderem o interesse pelo comitê.
Crise “Whatever”
É aquela que, quando acontece, ninguém percebe. Ou se perceber, ficam se perguntando: “estamos em crise?”. É aquela situação que chega até você, com um pronunciamento do Secretário-Geral da ONU, mas que não justificaria nem mesmo uma reunião no CS. Um exemplo? A população de Porto Príncipe sai ás ruas para fazer uma manifestação pacífica contra a MINUSTAH. Convenhamos, a melhor definição para esse acontecimento é: “whatever”...
Crise “Bomba”
É aquela que, quando acontece, faz você se sentir em um episódio de “Além da Imaginação”. Pode ser chamada alternativamente de Crise “Crack pipe”. Nem os livros do Tom Clancy são tão descolados da realidade política mundial. Algo do tipo: Hugo Chávez e Fidel Castro financiam uma milícia rebelde para criar a República Socialista (Soviética, por que não?) do Haiti. Lembram da folclórica Babá Egípcia? Nada mais a declarar.
Crise “Armageddon”
Sabe quando o mundo está acabando? Ou que, na realidade era pra ter acabado mas não acabou, ninguém sabe como (nem mesmo o diretor)? É aquela situação worst case scenario que não está nem mesmo nos treinamentos de crise do NORAD. Algo como uma guerra entre Irã e Israel, com o Iraque ocupado no meio. Adicione armas nucleares (pros iranianos) e PIMBA! Temos um cenário perto do apocalíptico. Cenários que beiram o apocalipse são interessantes, mas não quando você ultrapassa a linha do remotamente plausível.
Algumas palavras finais são necessárias. Primeiro de tudo, esses tipos de crise não são necessariamente ruins. Alguns funcionam muito bem em gabinetes (como o Armageddon e o Jack Bauer), outros não. Alguns são simplesmente perigosos e precisam de MUITO cuidado - e de uma boa dose de sorte - para funcionar; como o tipo “História Sem Fim” (que funcionou no CS do TEMAS deste ano). Por enquanto é só pessoal.