domingo, 22 de março de 2009

A Teoria Cognitiva e os MUN's

Comunicação. Do latim "communicare", que significa tornar comum, compartilhado. Sem ela não há entendimento entre duas ou mais pessoas e, logicamente, não haveria modelos.

A Teoria Cognitiva vem do campo da psicologia, criada por Piaget, e trata, basicamente, sobre os processos de aprendizagem e desenvolvimento das pessoas (não me aventurarei nestas searas da psicologia, tentando explicar em detalhes, senão na área das negociações). Ainda simplificando as coisas, esta teoria possui duas abordagens: uma em que a pessoa recebe a informação sem questionamentos, com base naquilo que ela já conhece/possui; outra onde há, de fato, questionamentos a respeito daquela informação obtida - esta que nos interessa!!

OK, what the hell isso tem a ver com negociações e (pior ainda) com modelos?! Calma, vamos lá!

A Teoria Cognitiva tem grande importância para as Relações Internacionais, sendo aplicadas no entendimento e estudo das negociações, dando ênfase na análise processual destas.
Você pode estar pensando "esse negócio não chegará a lugar nenhum", mas tenha fé, vamos desenrolar mais ainda.



Toda negociação é formada por pessoas. E como boas (ou más) humanas que são, elas possuem estruturas de conhecimento pré-existentes: cultura, educação, preconceitos etc. Desta forma, os diplomatas de todo o mundo chegam às salas de negociação munidos de suas diretrizes de política externa E dos seus conceitos e preconceitos pessoais. O mesmo acontece com os modeleiros. E mesmo que muitos possam vir a discordar, isso influencia muito e é pouquíssimo comentado nas rodas de bate-papo modelísticos. Vejamos algumas situações, ainda utilizando esta teoria e colocando-a em análise ao cenário modeleiro brasileiro.

Nos "Grand Slams" (tanto por tamanho quanto por importância) dos modelos brasileiros temos participação de delegados de todo o Brasil e mesmo de alguns outros países. Isso por si só já facilitaria que o processo de comunicação entre eles, que defendem instituições diferentes (muitas com rixas homéricas), de cursos diferentes (idem) e são originários de estados diferentes (ibidem). "Pessoal daquela Universidade é tudo folgado", "Ô estadinho de gente &^#@³¤€", "Só tem #@&*¥× naquele curso" podem ser exemplos do que estou a falar.

Isto pode acontecer por uma associação por critério de semelhança, interpretando-se o todo por uma parte, estereotipando (exemplo didático: brasileira (ou brasileiro, para as mulheres leitoras) loira, alta, olhos claros é o estereótipo da sulista, mas ela pode ter nascido em qualquer outra parte do país).
Ou por correlação com eventos anteriores e demais memórias (exemplo didático: fui a Brasília e fui mal recebido, maltratado e odiei. Anos depois, ao voltar a Brasília, existe a expectativa de acontecer o mesmo que anteriormente).

Além disso, tem o país que aquela pessoa está a representar. O delegado, antes de delegado, é pessoa. E como pessoa possui um acumulado pessoal de idéias e julgamentos a respeito daquele(s) país(es) que está(ão) na contenda. E isso dissimula seu jeito de negociar, por mais que ele seja o super-defensor-estou-agindo-exatamente-como-manda-minha-política-externa, pois este tipo de ação e reação não é calculada, é inerente ao ser humano. A mesma comparação pode dar-se sobre temas a serem negociados (Direitos Humanos, Economia, Segurança etc).

Também entra aí a importante questão da interpretação e da leitura do que o outro está falando/fazendo, ou do que você está falando, gesticulando, expressando...

Sendo assim, por meio desta teoria podemos identificar mudanças ou manutenção de certos comportamentos em delegados, seja de acordo com países ou áreas temáticas em que estejam inseridos e quem são os que estarão "contra" ou "a favor" deles. E isso tudo também serve para a mesa!!!

Como toda teoria, esta não explica tudo, mas traz à tona um aspecto bem importante/interessante sobre todo delegado e staff: (quase) todos são humanos e estão sujeitos às imperfeições desta condição.

O que os senhores e senhoras embaixadores acham do uso desta teoria para o estudo das negociações? Algum acontecimento nos MUN's mundo afora onde compartamentos como os falados aqui influenciaram nas negociações de modo substancial?

2 comentários:

  1. 1. Gostei da idéia de usar a teoria de Piaget para falar de preconceitos e mal-entendidos em MUNs. Contudo, a idéia é apenas sugerida, introduzida no post, mas sem exemplos concretos além dos "delegada loira" e "mal-recebido em Brasília". Esses estereótipos e traumas já podem ser compreendidos com senso comum - já diz o ditado, "gato escaldado", etc.

    Portanto, para elaborar mais, o post precisaria ir mais além.

    2. Não entendi a frase "Além disso, tem o país que aquela pessoa está a representar. O delegado, antes de delegado, é pessoa. E como pessoa possui um acumulado pessoal de idéias e julgamentos a respeito daquele(s) país(es) que está(ão) na contenda. E isso DISSIMULA seu jeito de negociar..."

    o verbo pretendido era mesmo "dissimular"? Não seria "influencia"?

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  2. Cedê,

    essa teoria é usada na disciplina de Negociação, pelo fato de negociações serem multidisciplinares. É bem interessante, mas como eu disse, aborda uma parte do problema e não o todo (como toda teoria, apesar dos teóricos não admitirem isto...). Como ela é realmente utilizada no estudo das negociações, em âmbito acadêmico (deixei a referência do autor ao final do post), pensei em trazê-la para o mundo dos modelos.

    Vamos às respostas:

    1. Os "exemplos didáticos" são exemplos para se entender rapidamente as duas formas que a teoria entende como a pessoa recebe a informação e a processa, sem ter que estender a discussão em termos técnicos (ficaria um saco de post).

    Vale dizer que aqui ainda não está a teoria em sua completude, mas sim uma grande parte dela. Como o post já estava grande, resolvi deixar a outra parte para depois (sobre a construção/descontrução da imagem negativa, em grande parte). Mas somente o que está escrito já dá a entender e, pelos posts antigos que vi aqui (vi todos) e pelos papos com as pessoas por aí, nunca tinha ouvido falar numa discussão sobre isto. Mas não se prenda àqueles exemplos, são só inferências explicativas de como a teoria entende a interceptação e interpretação da informação. Há possibilidade de se complexificar os exemplos, mas não imaginei ser tão importante.

    2. O intuito dessa fração de texto era elucidar o seguinte: em geral, as pessoas escolhem seus países pela sua ligação de intimidade, identidade etc, com tal país. Mas nem sempre, ainda mais em simulações que não sejam estas grandes. Vou tentar desembolar: há simulações universitárias feitas dentro de uma sala de aula, com uma turma, proposta pelo professor. Ele delega as funções e quem exercerá as reprentações. Uma pessoa que tem que defender a política externa de um país em que não se sente à vontade (seja por não gostar ou mesmo por desconhecer, entre outros motivos), dissimula sua representação. Dissimula, no sentido de encobrir sua ideologia e seguir o que manda o figurino ou mesmo de "pouco se lascar" e sair fazendo qualquer coisa. Isso em modelos montados é mais difícil, já que escolhemos por ordem de preferência a quem queremos representar, mas era uma situação em que eu não podia deixar de comentar, pois já vi acontecendo e também já fui "vítima".

    Enfim, espero que vc tenha me entendido!! Só repetindo que esta é uma teoria, não uma verdade e é assim que a vejo. Como uma peça a mais para entendermos, brincarmos e fuçarmos nos modelos Brasil afora e uma peça que eu desconhecia que fosse debatida.

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