quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Simulações de CSNU e as Regras Específicas

(post de Frederico Bartels, da Puc-MG)

Um dos avanços mais significativos no mundo de modelagem e simulação, após as regras comuns AMUN-UFRGSMUN, foi a mudança que as simulações de CSNU sofreram do AMUN 2006 para frente. Se minha memória não me engana, no AMUN 2005, foi introduzida a possibilidade dos delegados presidirem as sessões do CSNU, porém as mudanças maiores foram no AMUN 2006. Resumidamente, as sessões do CSNU agora eram fechadas ao público, conduzidas pelos próprios delegados e o debate não-moderado era o padrão. As sessões só eram abertas para o público durante o processo de votação, quando se tem uma lista de oradores pequena destinada a comentários sobre a resolução que será votada.

Essas mudanças dinamizaram o CSNU em um nível não esperado e realmente mudaram a maneira que os organizadores de modelo pensam uma simulação do CSNU. Após 3 CSNU recentemente (UFRGSMUN 2006, MONU 2006 e AMUN 2007), arrisco dizer que a forma antiga de se simular o CSNU está ultrapassada. O CSNU do MONU 2006 não fez uso das inovações que já tinham sido utilizadas no AMUN e no UFRGSMUN do mesmo ano e, sinceramente, não parecia um CSNU, parecia mais uma simulação de algum comitê da AGNU com uma dinâmica bem engessada. O paradigma realmente mudou. Pessoalmente, não consigo mais imaginar a moderação sendo exercida pelos diretores de comitê em um CSNU.

Há agora uma consolidação das mudanças que a simulação do CSNU vem sofrendo ao longo do tempo, sempre buscando o passo além em busca da inalcançável perfeição. Até mesmo o CSNU do TEMAS 2007, mesmo com um dos diretores bastante conservador a respeito destas mudanças, aplicou as novas regras com êxito. No AMUN 2007, houve ainda uma outra inovação que foi o chamado programme of work, que oferecia uma nova dinâmica ao CSNU colocando limitações temporais aos debates sobre cada tópico. O programme of work enfrentou alguns problemas devido à forma como foi trabalhado nas regras[1], contudo é uma inovação importante.

Porém, ainda há um grande caminho a ser percorrido. Principalmente sobre como os delegados do CSNU vêem o comitê, tive a impressão genuína durante o AMUN 2007, que muitos dos delegados não conheciam outros meios de ação do CSNU que não uma resolução, além de um grande receio de não aprovar uma resolução. Receios estes que vêm, em sua maior parte, do constrangimento temporal imposto pela simulação em si. Não consigo ver a não aprovação ou a não votação de uma resolução como um problema, o CSNU está reunido sempre e vai retornar a questão em momento posterior.

O próximo passo rumo é justamente soltar as amarras do pensar como um modeleiro e não como um representante real de seu país naquela instância. Além de, obviamente, corrigir as falhas que foram encontradas nas regras específicas recentemente. O importante agora é explicitar os erros e acertos dos modelos para que eles não sejam cometidos em modelos futuros.

Frederico Bartels, 20 anos, RI/PUC.Minas.



[1] Caso o leitor deseje um comentário mais profundo sobre essa e outras questões pontuais das regras específicas do CSNU, envie-me um e-mail (frederico.bartels@gmail.com) que envio um documento de minha autoria que aborda estas questões mais profundamente.

6 comentários:

  1. Apenas a título de esclarecimento, o programme of work já foi usado, mesmo que sem esse título, no UNSC da SOI 2005. Temas fixos em sessões e tal. No mais, ótimo post, obrigado pela contribuição!

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  2. Sim é verdade, o AMUN 2005 foi o primeiro AMUN com delegados do CS presidindo.

    2. O grande benefício dos Diretores não moderarem é a liberação de braços. Com quatro braços a mais (dois com martelo, dois na lista de discursos), pode-se fazer cartas, telegramas, notícias, crises, etc.

    3. O Programme of Work realmente teve uma administração inusitada, podendo ser vetado (?) quando na verdade parece que os P-5 decidem se pode ou não ser vetado. Portanto a possiblidade de veto não é automática. Mas acontece - em janeiro deste ano, Rússia e China vetaram incluir Myanmar na agenda, o que não é um veto sobre o Programme of Work mas vai no mesmo sentido.

    4. O Programme of Work do AMUN foi análogo ao visto no site do SC, mas ás vezes o SC de verdade discute dois ou três tópicos no mesmo dia, e raramente repete o mesmo tópico no dia seguinte. (se discuti Somália hoje, amanhã não vai rolar Somália, em geral).

    4.1. Daí os modelos no Rio com "agenda aberta", que na verdade são CSs com tipo 6 tópicos (!).

    5. O lance "resolução ou nada" é realmente uma limitação. Tem-se que ainda fomentar a cultura do Presidential Statement.

    Mas o problema que mais reclamo não é esse, mas EXATAMENTE o contrário: a moçada que não quer fazer resolução na AGNU (!) e fazer outra coisa. No MONU 2005, o DSI não queria fazer o raio da 2ª resolução e fazer outro documento instead. Ôxi!

    6. Fazer a moçada pensar como diplomatas do CSNU (o trabalho continua) e não como modeleiros (temos cinco dias!) é realmente o ideal. Também acho que devemos perseguir isso.

    Mas ainda há um lance - modelos no fim do ano. Para os P-5 não faz diferença, mas para os cinco outgoing countries, aquela discussão sobre Haiti ou gênero ou PKOs ou o que for pode ser a última chance no mandato de dois anos de conseguir uma resolução vital! Especialmente se o outgoing preside o CS naquele mês e quer mostrar serviço.

    7. Viva os detalhezinhos grátis ou de baixo custo que fazem toda a diferença no realismo e na qualidade da simulação!

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  3. Eu só esqueci de comentar uma coisa importante: essas regras tem sido utilizada em modelos universitários. Não tenho a mínima idéia de como andam as simulações de CSNU em modelos de ensino médio. Se alguém puder informar, seria ótimo.

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  4. Até onde vai meu jurisidimento, continuam como sempre foram (mesa modera, sessões abertas). Só no CS do Feldman (MINI-ONU 2005) que vi um rigor maior com o realismo (número da sessão, adoção da agenda com "a menos que haja alguém em contrário", visitas de outros representantes, etc., e, a até onde entendi, sessões fechadas.)

    Outra inovação em 2005 foi que a SiNUS fez o único CS que jamais vi em espanhol.

    Fuero eso...

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  5. Um pouco de estatística ucraniana dá ainda mais razão para o Bartels:

    "during 2000-2001, the Council held 912 meetings, including 336 official and 576 in the format of unofficial, or “closed,” consultations (...) This massive volume of deliberative work translated into 101 resolutions, 80 presidential statements, 200 statements by the Council President for the press and 42 communiqués."

    Ou seja, para cada resolução, existem dois comunicados à imprensa, 0,8 presidential statements e 0,4 communiqués. Com esta média de duas resoluções por modelo, é hora de ter também 4 comunicados a imprensa, 1 presidential statement e talvez um communiqué!

    A fonte:

    http://www.un.int/ukraine/Ukr-UN/SecCoun/article.htm

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  6. Concordando com a massa, acho que muitas das observações bartelianas valem para outros comitês. Entre os comitês tradicionais, apenas o CSNU se reune o ano inteiro, mas quase todos os demais organismos também possuem a prerrogativa de adotar documentos de outro tipo, e não apenas resoluções. O habeas corpus (!!) que aprovamos na UNPO do MONU'06 é apenas um exemplo extremo.

    Resoluções são a ponta do iceberg da diplomacia internacional. Antes e depois da aprovação de documentos publicos e formais, rola muita agua que deveria ser recriada mais seriamente pela Modelândia.

    Por sinal, na diplomacia onusiana a "vitoria" freqüentemente consiste em NÃO aprovar resolução nenhuma, de acordo com as circunstâncias e os interesses dos paises envolvidos. Poucos modeleiros compreendem isso.

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