quarta-feira, 29 de julho de 2009

XII AMUN: Leitor e Delegado

NÃO SABE o que é um Pogobol???

Uma experiência sociológica e antropológica. Só assim posso definir a minha semana em Brasília participando do XII AMUN depois de ter largado dessa vida de vício por quase um ano sem participar de modelos e depois de um ano e meio de formado. Mas não pude recusar o convite feito pela delegação gaúcha e lá fui eu para o Conselho de Segurança representar a Rússia...

A primeira (e chocante) impressão que tive foi a imensa diferença de idade. Sério, eu tava me sentindo o avô da galera! Um bando de delegados que não tinham visto a queda do Muro e que até pouco tempo atrás eram meus delegados na SiEM... até aí tudo bem, mas não saber o que é um pogobol... FRANCAMENTE! A modernização também chegou para ficar... Ao invés de bilhetinhos, todos os delegados se comunicam pelo MSN ou Twitter; no meu primeiro modelo, apenas dois delegados tinham computador (e a mesa, nenhum!).

Brincadeiras a parte, o age gap foi o que mais me marcou; grande parte do pessoal está no primeiro ou segundo ano de faculdade, com algumas participações em modelos de Ensino Médio nas costas. Uma senhora faca de dois gumes: por um lado, essa juventude é justamente o que o cenário modeleiro precisa para se renovar e enterrar once and for all certos fantasmas do passado; por outro, uma falta de experiência em certos assuntos acaba por engessar certas possibilidades que apenas deixam modelos mais interessantes de se participar.

Foi com um tanto de surpresa que vi um grupo de mais ou menos 15 delegados se reunir ao redor de mim que nem escoteiro ao redor da fogueira ao ouvir “Cara, ele tava na Babá Egípcia!”. Eles não faziam a menor idéia do que aquilo era, mas sabiam que significava algo definitivamente ruim; os ecos dos tropeços do passado ainda são ouvidos hoje, mesmo que bem apagados. Muita coisa já foi feita para evitar futuros erros, mas em alguns aspectos estão exagerando; não permitir Friendly Ammendments (ou nem saber o que elas são) já é um pouco xiita, fala sério... Eu sei que o Secretariado deve sempre se preparar para o pior, mas nem tanto, né?

Porém, esses são tropeços inevitáveis que são corrigidos facilmente numa próxima edição. O que me deixou realmente incomodado foi a permanência de dois pecados capitais na organização de modelos: a falta de intercâmbio e a política de prêmios.

A grande quantidade de novatos, aliada a parca participação de modelos fora do estado natal leva à uma estagnação de interpretação de regras de procedimento e de criatividade na hora de pensar temas de discussão e crises. Resultado: morosidade e reclamações de head delegates mais experientes.

Quanto aos prêmios, já sou da opinião que eles deveriam ser extintos há muito tempo. Mas já que alguns insistem em mantê-los, apenas peço: Um pouco de coerência, por favor! Dar prêmio a delegado que jogou a política externa no lixo ou que nem seria elegível segundo o award policy só faz diminuir a credibilidade acadêmica da organização.

Nem tudo está perdido, no entanto. Não escrevi esse artigo para ficar falando “no meu tempo era diferente...” nem ficar botando defeito em todo mundo. Há sim uma nova geração que está de parabéns em todos os modelos que ainda existem no Brasil e que podem continuar mandando muito bem; só precisam lembrar das coisas boas e ruins que foram feitas anteriormente e promover maior cooperação entre faculdades e alunos, porque a receita para o desastre nesses casos é fechar-se em si mesmo e achar que é suficiente (ou pior, achar que é melhor assim).

E é isso! Um abraço a todos e desejo muito boa sorte a todos que começam e continuam a modelar.


Colaboração do leitor e Modeleiro Bruno "Google" Almeida.

7 comentários:

  1. 1. Simples, conciso e saboroso texto.

    2. Adorei os delegados como escoteiros ao redor da fogueira! Melhor frase do post.

    3. Como ex-delegado do Irã, discordo do uso de "xiita" para designar "radical". Bin Laden é sunita.

    4. No mais, boa resenha. Viva os modelos do Brasil, e viva a inovação na tradição!

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  2. Quem não era elegível segundo o Awards Policy?

    Faltou comentar a palestra do Celso Amorim!

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  3. Criticar por criticar.

    Quando se trata de AMUN, este blog sempre apresentou tendências um tanto quando pós-modernas demais!!

    Fazer o que né...

    Mas que bom que teve gente que gostou

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  4. Na economia existe um pilar que continua sendo inquestionável até hoje: pessoas reagem a incentivos. Alguns de forma positiva, outras de forma negativa, mas no geral sempre reagem de alguma forma.

    Os prêmios são uma forma de incentivo do AMUN e de outros modelos. E, de certa maneira, ele cria as disparidades que a gente tá cansado de saber, i.e. técnicas ancestrais de vendidagem, além de outras como ignorância nos discursos e excesso de arrogância. Claro, também tem os seus pontos positivos e nós vemos excelentes delegados, com desenvoltura e um discurso polidíssimo.

    Mas isso é lugar-comum, todo mundo tá careca de saber. Assim como todo mundo deveria saber que, no fim das contas, a decisão final é tomada com a discricionariedade da mesa diretora. Então, ceteris paribus, quem determina os critérios de seleção dos vitoriosos nos prêmios são as pessoas que fazem parte da mesa.

    Criticar os critérios dos prêmios só demonstra duas coisas. 1) As pessoas são arrogantes e não sabem reconhecer a derrota. 2) Enxergam somente as folhas dentro de uma vasta floresta.

    Colocar a credibilidade acadêmica da organização do evento em dúvida por causa dos critérios de avaliação, além de ser ridículo e contra-produtivo, é falta de respeito. Se quer criticar quem modera, pelo menos faça de uma forma construtiva.

    Por exemplo, eu acho que uma ótima idéia para acabar com a competitivdade dentro dos comitês e tornar uma coisa mais dinâmica e igual para todos e, de quebra, incentivar quem pega países pequenos (porque nós sabemos que na maioria são delegados inexperientes. Não me venham com o argumento "Ah, eu sou experiente e já peguei LICHTENSTEIN", porque a todo mundo sabe que isso não é a regra) é dar prêmios diferentes, variados. Por exemplo, premiar o melhor país desenvolvido, o melhor em desenvolvimento e o melhor LDC. Ou premiar quem defendeu a idéia mais criativa. Ao invés de destacar um na multidão, destacar vários.

    Mudar os incentivos, acabar com esse negócio de "Ah, a mesa premiou quem não seguiu a Polex". Esse é o caminho. Enquanto isso não acontece, a gente vai continuar vendo os mesmos discursos dos maus perdedores.

    Abs.

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  5. Thiago,
    Eu não fui ao AMUN, então não vou entrar no mérito da questão. Só tem alguns pontos que eu preciso destacar:

    1- O texto nos foi enviado pelo Bruno, leitor do blog, que lá esteve. A visão dele é esta, não nos cabe, como editores do blog, julgar se ela é certa ou errada. Volto a reiterar que este blog é um espaço aberto da modelândia nacional, e incentivamos o envio de posts por todos os modeleiros.

    2- Não consideramos o texto de maneira alguma atentatório contra a honra do modelo ou do secretariado (obviamente, senão não o publicaríamos). Entendemos que todo modelo está sujeito a equívocos e isto é inescapável. Todavia, entendemos também que faz parte do crescimento do modelo reconhecer falhas e corrigí-las. Veja bem, não estou querendo dizer com isso que houve falhas no AMUN (como eu disse, não estava lá).

    Aliás, para encerrar a questão de uma vez por todas, convido a organização do AMUN a nos enviar um texto com seu próprio ponto de vista sobre o assunto, ficaremos bastante satisfeitos em publicá-lo para dar voz a todos :)

    Abraços!

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  6. Phil,

    Agradeço pelo comentário e pela transparência do editorial do blog. Não acusei de forma alguma o Representatives of the World ou qualquer dos seus escritores e não queria que isso fosse entendido do meu comentário. O que você disse isenta mais do que merecidamente os editores deste espaço virtual.

    Todas as minhas palavras foram uma contra-argumentação às acusações feitas no texto pelo Bruno. Não acho o texto atentatório ou seja lá qual for o adjetivo que se use pra isso. Só expus idéias, que poderiam quem sabe ser adotadas para o melhor desempenho da modelândia brasileira.

    Abração

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