quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Lá e de volta outra vez

O Modeleiro Viajante é uma série de posts que tratam da incrível experiência da ida (e, quiçá, volta) a um modelo de fora do estado. Leia o primeiro post aqui.
Edição internacional extraordinária - Global Model UN


No shoe-banging allowed.
De uns tempos pra cá, uma cena vem se repetindo comigo nos coffee-breaks modelândia afora. Quando a pessoa que está conversando comigo olha para minha credencial e lê meu nome (convenhamos, ele não é lá muito comum em terras tupiniquins), a pergunta que se segue é "aaah, você estava naquele modelo em Genebra? Como foi?"
Vejam bem, não é por uma questão de antipatia, mas eu geralmente respondo com um curto e grosso "foi f*da". Afinal, a experiência toda iria demorar algum tempo para ser relatada, e a comida do coffee-break é finita. Mas, é claro, a viagem merece um pequeno relato.

Diplomata que é macho viaja de econômica. Por 11 horas. Seguidas.
Era a gloriosa manhã do dia 2 de agosto quando nosso possante 747-400 aerofrancofônico aterrou no Aeroporto Internacional Carlinhos da Gália, em Paris.

A burocracia imigratória foi impressionantemente... Rápida. Consistiu basicamente no jovial senhor guardião das fronteiras européias olhando minha cara, meu passaporte (brasileiro, diga-se de passagem) e resmungando algo do tipo bienvenu en France. Gostei, pelo menos o nome complicado serve para alguma coisa.
Após uma rápida ponte aérea até Genebra, fui mais uma vez vítima da (ausência de) burocracia aeroportuária. Vejam vocês que a seção de "nenhum bem a declarar" da alfândega suíça se constitui de uma porta. De saída. Para o terminal. Nada de guaritas, nada de formulários, nada de apertar botão e torcer pra luz verde acender. Bom brasileiro que sou, passei meio ressabiado - quando a esmola é grande, o santo desconfia.
Hotel com opcional dignidade
Pulando para o modelo, os dois primeiros dias foram dedicados a palestras e instruções do Secretariado. Logo após o credenciamento, tivemos uma visita guiada no Palácio das Nações e pudemos estar em salas que fazem parte da história dos MUNs. Tivemos também uma exposição com representantes de vários organismos multilaterais baseados em Genebra, como a OIT e até mesmo o CERN!

Sala do Conselho de Direitos Humanos

Reforma da ONU

Sala da Conference on Disarmament. Antiga sala do Conselho da Liga das Nações.
Maoi! Quem quer peacekeepers?
O Secretário Geral não pôde estar presente, mas gravou uma vídeo-mensagem para a cerimônia de abertura. Tivemos também a apresentação de um coral africano típico (não, não cantaram "Baba Yetu"), além dos vários discursos de praxe.

Disarmament and International Security - 1º Comitê da Assembléia Geral
Como dito em um post mais antigo, eu representei a Federação da Rússia no 1º Comitê da AG. Isso teve suas vantagens: por exemplo, os russos eram mais simpáticos comigo, dentro da medida de sua frieza característica. Mas a conseqüência mais importante disso foi que eu fui convidado a participar de uma reunião com o representante permanente russo em Genebra.
Junto com os russos, atravessei a rua que separa o Palácio das Nações da Missão Permanente da Federação da Rússia (sério, é só atravessar a rua mesmo). Enquanto éramos levados a uma enorme sala de reuniões, os russos fizeram o favor de me ensinar qualquer coisa em russo para falar com o embaixador (convenhamos que não é a melhor política iniciar o diálogo com o embaixador russo em inglês):
Dobry den! Uvazhaemyy gospodin posol. Eto bol'shaya chest' dlya menya, pzisutst vovat na etoy vstrech'e.
Pelo menos era isso que estava escrito no papel. Enfim, quando o embaixador chegou, ele começou uma palestra de uma hora sobre política externa russa. Em russo. Imaginem vocês que foi muito proveitoso. Uma das meninas que estava me ajudando, a Aneliya, disse a ele que eu era brasileiro e que estava representando a Rússia no GMUN. Eu juro que tentei falar a frase inteira, mas tudo o que saiu foi "Dobry den!", esqueci o resto. Ele, muito gentil, falou ok, you can speak in english.
No final das contas, a visita foi bastante interessante. Pude conversar com o embaixador russo na Conference on Disarmament e tirar umas dúvidas sobre política externa diretamente da fonte. Além disso, ainda ganhei dois presentes dos russos no final do modelo: um doce típico e uma colher decorativa (tá, eu sei, mas para mim tem valor sentimental).
Considerando tudo, foi uma ótima experiência. Vou deixar outros detalhes do MUN para futuros posts e para o camarada JP, que representou a Turquia no 1º Comitê e no Conselho de Segurança!

4 comentários:

  1. aah eu ia gostar de ganhar uma colher do embaixador :p

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  2. A colher não foi do embaixador, foi dos delegados... Da Yulia, na verdade :)

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  3. Que animal que deve ter sido. Contem mais sobre a simulação! Todos estamos curiosos.

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  4. Isso teve suas vantagens: por exemplo, os russos eram mais simpáticos comigo, dentro da medida de sua frieza característica"""


    Vou ter que discordar jovem rapaz. Os russos, e principalmente as russas, foram deveras simpáticos comigo. Nada a reclamar. Beleza pura!

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