sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Troca-troca no Conselho?


Há exatamente um mês foi anunciada a composição do Conselho de Segurança em 2008. Foram eleitos Burkina Faso, Costa Rica, Croácia, Líbia e Vietnã.

É verdade que os EUA não consideram mais a Líbia um estado patrocinador do terrorismo, que a Costa Rica não é nenhuma Cuba, e que eu não tenho a mínima idéia de quais são as relações entre EUA e Burkina Faso.

Mas vou lançar aqui uma hipótese: rolou negociata entre os P-5 nessa eleição, para eleger uma "rodada mais pró-EUA" em 2006 e especialmente 2007, e agora chegou a vez das Líbias e Vietnãs da vida.

Cito aqui uma análise da Strafor de outubro de 2006:

Ghana, Slovakia and Peru, particularly after Peruvian presidential elections this summer, are openly pro-American. Qatar provides a few complications because of its concerns over Iran, but so long as Qatar remains the single largest destination for U.S. investment in the region, as well as the headquarters for U.S. Central Command, Qatar can certainly be considered a firm ally, albeit not a mindless pawn. That leaves only the Republic of the Congo as a wild card (...)

(...) Belgium and Italy, though currently led by governments that are certainly not pro-Bush, are still NATO allies, and rarely break with Washington on anything truly important. Indonesia and the United States are once again moving toward a formal alliance; relations are now warmer than they have been at any time since the Cold War. And in general, Washington gets along with South Africa so long as the United States broadly defers to Pretoria in issues in the South African neighborhood. (Considering the oftentimes sketchy nature of that neighborhood, Washington almost always prefers to support whatever Pretoria is doing (...)

Quer dizer, a composição não-permanente do Conselho em 2007 é o paraíso pros EUA: "It went about as well as Washington could have possibly hoped", segundo a mesma análise.

2008 está chegando - saem Qatar, Eslováquia e Peru (no lugar entram Vietnã, Croácia e Costa Rica), os amigões mais pró-Washington. Entra uma moçada mais róquenrrou.

Pra mim, rolou um acordão - elege-se uns mais pró-EUA uma hora, depois libera-se para a moçada "do mal".

Que vocês acham?

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(p.s. eu estou ciente de que os P-5 NÃO PODEM vetar a eleição de um membro não-permanente, na qual a AG manda e pronto.)

4 comentários:

  1. Não sei, Cedê. Acho que não vai mudar tanto o balanço de forças.

    Com as exceções do Vietnã e da Libia (cuja eleição me espanta, ainda que o Kadhafi seja "bonzinho" agora), os EUA não terão nenhum problema com o UNSC novo. A Costa Rica não tem nada de Cuba; pelo contrario, é o pais mais rico, estavel e pro-EUA das republiquetas da América Central. Burkina Faso é uma ditadura conservadora ha décadas. A Croacia quer entrar na União Européia e na OTAN, e por isso é bastante atlantista atualmente, como quase todo o Leste Europeu.

    Na verdade essa nova composição do Conselho é meio complicada para a China, que não é exatamente amiga do Vietnã e possui relações distantes com os outros rotativos, exceto a Libia. E veja isso, baixadô: Burkina Faso é um dos ultimos paises que reconhecem apenas Taiwan, e não a RPC!

    Os EUA apenas perderiam sua base de apoio no UNSC se a vaga da Asia fosse para algum aliado de Moscou, como Cazaquistão ou Armênia; se a vaga da América Latina fosse pra algum amigo do Chavez, como o Evo Morales, Daniel Ortega ou Rafael Correa; se a vaga da Europa Oriental fosse pra Sérvia ou Bielorrussia; e se milagrosamente alguma ditadura anti-ocidental africana, tipo Zimbabue, fosse eleita. Quase impossivel.

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  2. Que espécie de acordão seria esse, falando a longo prazo? O sexto veto raramente aparece, e nao sei se seria capaz de virar o barco do UNSC. Provavelmente é como Napô disse, não muda muito a situação. Mas que é interessante é, será só uma coincidência?

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  3. Mas eu não tinha em mente o sexto veto. Mero acordão mesmo, troca uns por outros, não que afete muito a dinâmica do Conseio.

    Mas o Napozêra made a good case, a nova moçada não é tão roquenrôu assim, salvo Vietnã. E igual: quando vai entrar um neguím que chega a incomodar os EUA (i.e. Venezuela), aí eles quebram pau e não rola do neguím entrar.

    Agora, Qatar e Indonésia são ambos parceirões dos EUA, o Vietnã não... se, quando a gloriosa Indonésia sair (dezembro de 2008), entrar um neguím roquenrôu igual Vietnã, COM CERTEZA rolou acordão, pelo menos pros asiáticos.

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  4. A Ásia no CS hoje é Japão e Líbano... pffff...

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