quarta-feira, 30 de maio de 2007

A mítica aposentadoria

Há uma piada corrente no mundo modeleiro que diz que sempre que alguém fala sobre tal modelo ser o seu último, tal afirmativa é uma mentira. O "último modelo" de um modeleiro experiente é algo tão lendário quanto o fim do arco-íris, o trevo de quatro folhas, Papai Noel e a paz mundial eterna.

No entanto, apesar de nossos esforços para que não seja verdade, alguma hora a aposentadoria dos modelos bate à porta. É difícil avaliar quando, como e por que isso acontece - são possibilidades infinitas. Irei me restringir aqui a algumas das que são mais ligadas à natureza de modelos em si (participação, preparação, relações humanas etc.); até porque quaisquer outras possibilidades analisáveis aqui entrariam no âmbito pessoal dos aposentados - por exemplo, alguém que aposenta porque arrumou um emprego estável, um mestrado fora, problemas pessoais etc. (Muito embora tais justificativas não necessariamente impeçam algumas pessoas de participar de MUNs, como este blog exemplifica. But I digress.)

Um dos motivos possíveis pode ser o cansaço da atividade, pura e simplesmente. Após cinco anos de modelos, salvo algumas raras exceções (muitas das quais fornecidas por simulações mais ousadas, como o TEMAS e a SiEM, para citar apenas dois exemplos), muitas simulações começam a ficar parecidas, repetitivas até. Afinal de contas, a agenda da ONU (ou de qualquer outra organização internacional, for that matter) não é infinita, sequer muito variada. Os temas eventualmente irão se repetir; não no mesmo modelo, mas em modelos diferentes, certamente, e em intervalos de tempo não muito longos. Isso é algo que ainda não tem solução fácil. O efeito disso é duplo: afasta alguns velhos modeleiros, que não querem repetir um mesmo papel, mas ao mesmo tempo abre espaço para caras novas fazerem sua parte.

Outro motivo possível são desavenças pessoais. Por bem ou por mal, participar ativamente do mundo dos modelos, como qualquer outro evento em que haja espaço para manipulações políticas e de visibilidade, gera uma certa briga de egos e de intelectos. Algumas brigas são saudáveis e acontecem apenas dentro do âmbito da simulação; outras são mais sérias, e podem envolver qualquer coisa, desde relacionamentos amorosos até conflitos políticos pelo comando de um modelo. Tendo passado há não tanto tempo assim por uma briga séria dentro de um modelo em que participei como diretor por conta de desavenças políticas, essas coisas acontecem.

O terceiro motivo que quero abordar é a simples desilusão com algum aspecto dos modelos. Nenhum modelo é perfeito, obviamente. Mas o que importa aqui é o que é feito após uma experiência pouco proveitosa em um modelo. Alguns (a maioria, talvez) vêem aquilo como uma exceção, e voltam depois para outros modelos para continuar a brincadeira. Outros desistem de vez da brincadeira. Não é possível avaliar objetivamente que tipo de fatores levam cada pessoa a decidir por uma coisa ou outra, mas de alguma forma deve haver algum mecanismo de "reciclagem" para não perder excelentes modeleiros por conta de uma simulação ruim.

O que nos cabe ver aqui é como cada um destes fatos pode ser contornado para garantir a continuidade da prática dos modelos, mesmo para quem tecnicamente já "aposentou" ou acha que está muito velho para voltar (ou começar). Alguns destes fatos, no entanto, são inerentes ao próprio "sistema" - a renovação tem que acontecer alguma hora, e evoluções políticas (diferenças de filosofia) são naturais. Como balancear isso?

7 comentários:

  1. Não vou falar do meu caso pessoal, que é o paradigma do Modeleiro Peter Pan, mas lanço algumas hipoteses:

    - A solução para o tédio de velhos modeleiros ja foi inventada: é a modelagem ousada, feita por gente que ja simulou todas as possibilidades do sistema ONU, não quis se aposentar e resolveu tentar algo novo. E a oferta criou a demanda pra esses novos comitês, que passaram a integrar delegados velhos e jovens, vide UNPO. A modelagem ousada é como a arte contemporânea. Apenas faz sentido se você conhece tudo o que veio antes.

    - O pior problema de todos é o segundo da sua lista. Ressentimentos pessoais. Isso arruina qualquer atividade humana. Não conheço nenhuma solução além do bom-senso e da conversa.

    - A mentalidade dos modeleiros deveria ser mais fair play/Coubertin ("o importante é competir") e mais Bobby McFerrin ("don't worry, be happy"). Depois de um modelo ruim quase sempre vem um modelo bom. Mas o unico jeito de convencer o povo disso é, justamente, organizar bons modelos!

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  2. Variedade e criatividade são as soluções. Após 5 anos de modelagem, em meus últimos 2 anos ó tive uma representação ortodoxa Israel -CDSI, ao lado dos Turcomenos do Iraque na UNPO, Ministro de Estado dos Negócios da Fazenda do Império do Brazil, Anistia Internacional.
    Além, claro, de Camerlengo da Santa Igreja Católica, no diretoria do Concílio Vaticano II na SiEM deste ano.

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  3. História boa tem fim ou não? Essa é a diferença entre o quadrinho americano e o japonês.

    Sistema americano: nunca acaba. O Delegado-Aranha e o Bat-delegado continuam pra sempre.

    Sistema japonês: é igual livro. Depois de tantos capítulos, a história chega ao fim.

    Como sabemos, existem delegados que querem ser japoneses mas acabam voltando... outros são japoneses mesmo, falam que vão parar e páram, inclusive como uma certa delegata de sangue japonês fez.

    2) Desavença pessoal só é problema no modelo onde aconteceu. O delegado da desavença pode continuar indo a modelos... em outros Estados desta Federação.

    3) O mesmo vale para desilusão com determinado modelo muito ruim. Pode afastar o delegado calouro sim, que fica traumatizado e nunca irá ao segundo modelo. Mas pra quem tem alguns modelos, a edição ruim só afasta daquele modelo específico; os outros ainda serão atraentes.

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  4. Eu acho que na atualidade existe um quarto ponto a ser analisado que é o do caso dos delegados que começam a frequentar modelos muito cedo e eu me incluo nisso. Estou ainda no primeiro ano de faculdade e já no quarto ano de modelos, depois de ter ido a uns tantos quantos.
    Essa renovação pode ser prejudicada exatamente por termos muitos delegados que já vão entrar para faculdade cansados de simular o trivial. Mesmo não tendo sido diretora anteriormente, não teria ânimo de simular nada da onu, nem msm o cs e um csh so se fosse muito inovador. Penso que essa é uma questão preocupante, pois se toda essa galera que ja entra na faculdade com um conteiner de modelos nas costas pensar assim, no casaço com a onu e buscando apenas a inovação, o que será da pobre OMS e da OMC? Estamos a caminho de modelos apenas inusitados? Perderemos o sentido de simulação das naçÕes unidas e nos tornaremos apenas delegados de situações alternativas que as vezes podem conter comitês da onu?
    O que pode ser feito para reciclar o trivial?

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  5. Bom ponto, Barbarova. Esse risco existe mesmo.

    Mas acho que precisamos colocar as coisas em perspectiva: delegados que entram na faculdade ja bastante veteranos, como você, são uma pequena minoria. Se eles querem comitês universitarios ousados, não falta oferta: o TEMAS inteiro, boa parte do MONU renovado, grande parte da SIMUN e alguns comitês de SiONU e SOI, por exemplo.

    A fatia dos comitês ousados ou historicos na modelagem nacional está crescendo e continuará a crescer, mas dificilmente vai ultrapassar uns 30%, estourando uns 40%. Existe uma clara maioria de delegados "convencionais", que gostam de modelos mas são fanáticos, raramente fazem MUNs fora de suas cidades e estão acostumados a simular a ONU mesmo.

    Alguém poderia dizer que a onda de comitês ousados está dividindo a modelagem brasileira em duas castas: uma quase-elite de veteranos, que preferem os comitês mais inovadores ou historicos, e uma massa de delegados comuns, que freqüentam a boa e velha ONU. Mas nada disso é novo, no fundo. Antigamente o Conselho de Segurança reunia a nata dos modelistas, não lembram?

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  6. Correção: "gostam de modelos mas NÃO são fanáticos".

    Esqueci de dizer o lado bom da historia: delegados que entram na universidade ja bastante veteranos pode virar excelentes diretores. Se eles estão insatisfeitos com a oferta de comitês inovadores, podem criar seus proprios!

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  7. vo participar do meu primeiro modelo esse ano... e logo no Xamun... da um friozinho na barriga... mas espero ser picada pela mosquinha modelistica... uma excelente oportunidade de aprender e conhecer pessoas...
    Adorei o Blog... to lendo tudinho pra conhecer mais sobre a experiencia dos velhos de guerra em modelagem e aprender dos doutos...

    Ate Bsb...

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