segunda-feira, 16 de abril de 2007

Integração de MUNs, o Cálice Sagrado - Parte III

Apontei no último post quais são minhas maiores ressalvas quanto ao projeto do portal de modelos em discussão atualmente. Neste post procurarei dar algumas sugestões minhas e algumas complementações aos comentários que fiz.

Vale dizer uma coisa importante. Eu não sou contra a idéia de fazer um portal de modelos com algum tipo de apoio de uma organização peso-pesado como a que está em discussão. Isso pode ser uma enorme ajuda. Mas acho que há formas e formas de se apresentar isso, e o que busquei apontar foram essas falhas de apresentação do projeto. Um questionamento válido de quem já viu esse projeto é o seguinte: "não podemos fazer isso sozinhos e depois apresentar à organização para que ela apóie depois?".

Considerando que nós não sabemos direito o que nós teremos que oferecer em troca de todas as vantagens que estamos levando nesse projeto, esse questionamento se torna ainda mais válido - afinal, já que não sabemos o que temos que dar em troca, nós podemos simplesmente seguir o caminho de baixo pra cima (que sempre foi o plano original in the first place): nós propomos o que bem entendermos, e pegamos a chancela depois. Mas isso seria incoerente com toda a postura de discussão apresentada até agora nos diálogos da organização com os "líderes" da modelândia. No final das contas, nos encontramos em uma situação estranha, até contraditória, em que somos oferecidos um projeto cujos parâmetros nós definimos - mas se é assim, por que temos que nos ter "oferecido" o projeto para fazer isso? Podemos fazer por conta própria, ué.

O primeiro passo para sair desse stalemate (que, aparentemente, é fruto de um equívoco de comunicação entre a organização e os modeleiros) seria abandonar essa questão dos valores que tanto falei no último post. Um bom diálogo sempre começa com os dialogantes tendo os mesmos pressupostos, e com a organização e os modeleiros tendo as mesmas visões sobre o que são modelos e como eles devem ser divulgados. Colocando modelos como atividades acadêmicas, você trata todos de uma forma igual, através da característica fundamental que une todos debaixo de um mesmo teto. Focar nos valores da ONU, como eu argumentei antes, torna o ambiente desigual. Além disso, esse foco nos valores fortalece, na cabeça de alguns modeleiros, o vínculo institucional que o portal (e, conseqüentemente, os modelos que a ele aderirem) tem com a organização que montou o projeto. Esse é um ponto bem delicado que depende de N fatores que não tocarei aqui agora, mas qualquer medida que reduza essa preocupação (que é a maior fonte de atrito de boa parte da modelândia extrapaulista para com o projeto) ajudará nas conversas.

O segundo passo seria a organização definir, em palavras claras e objetivas, preto no branco, quais são os pontos negociáveis e quais não são negociáveis. Isso foi levantado em uma reunião semana passada com os modeleiros brasileiros, e não saber claramente quais pontos podemos discutir (ou não) deixa todo mundo um pouco inseguro. Não é que não queremos conversar; sem saber sobre o que podemos conversar, não dá para andar com firmeza em direção a um objetivo único.

Com estes principais pontos em mente, será possível avançar nas conversas com mais segurança, e assim chegar aos outros importantes pontos de discussão que o projeto apresenta, e não são poucos - além do portal, tem um monte de coisas que renderiam muitas e muitas discussões com modeleiros. Só que as discussões têm que começar do mesmo ponto de partida.

Bom, acho que já falei demais.

Um comentário:

  1. Fazendo um pouco o papel de advogado do Diabo, nós temos sido MUITO lentos em nossa integração modelistica, com apenas um ou dois avanços razoaveis por ano (o egroup/comunidade ModSim, as regras comuns UFRGS-AMUN, mesmo este novo blog), mas nada realmente permanente e solido. Ou seja, esse empurrão externo pode ser bom, sim.

    Não sou mais um "modeleiro brasileiro" ad caput, mas em relação ao preto-no-branco que vc citou, acho que as coisas são até simples. Os modelos NÃO podem abrir mão essencialmente do seguinte:
    - Liberdade acadêmica: escolha de comitês e topicos, preparação das regras e guias de estudo
    - Autonomia administrativa: possibilidade de contactar patrocinadores/apoiadores, de montar a programação do evento, etc
    - E, principalmente, escolha da identidade. Precisamos proteger a unicidade de cada simulação. Eg: o UFRGSMUN deve ter o direito de continuar "comportado", com temas convencionais, e o TEMAS deve preservar o direito de inventar bastante em seus comitês. Mas isso depende do proprio modelo, e não dos outros. O MONU, p.ex., esta aparentemente se redefinindo, deixando de ser um modelo para novatos e passando a ser uma confederação de modelistas mais experientes.

    Todo o resto é menos importante. Ou seja, negociavel.

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