domingo, 1 de abril de 2007



















SIMULAÇÕES E JOGOS DE TABULEIRO
- Cedê Silva

LEMBRO DE CONVERSA que tive uma vez - conversa que incluía dois modeleiros jurrásicos - sobre semelhanças (e diferenças) entre modelos e RPGs. Meu argumento era, e permanece sendo, de que simulações são, 140%, RPGs no formato live action, no qual os jogadores têm poderes bastante semelhantes aos de seus personagens. Ademais, a Mesa Diretora de um comitê tem a exata função de Dungeon Master, pois é ela que arbitra o que acontece e o que não acontece no universo da simulação.

A Mesa introduz crises. Não é exatamente o que um Mestre de RPG faz, ao criar desafios para serem superados pelos jogadores?

Quando existe alguma dúvida ou disputa sobre um fato, um número, uma estatística ou uma possiblidade, é sempre da Mesa a palavra final sobre o que realmente é verdadeiro ou plausível - incluindo a possiblidade de dizer "não sabemos" ou "isso não importa para a Resolução que vocês devem produzir".

Meu entendimento é fundamentalista e teimoso, mas não consigo exergar de outro jeito: para negar que modelos e RPG são exatamenta a mesma atividade, você precisa conhecer mal um deles, ou ambos. Um entendimento mínimo e claro dos dois leva à inevitável conclusão: são a mesmíssima coisa. Um Mestre que cria o universo e oferece os desafios; jogadores que assumem papéis; à medida que o jogo se desenrola, o Mestre arbitra disputas e decide as conseqüências do que os jogadores fazem, bem como introduz quaisquer impactos externos.

Finalmente, apenas o Mestre pode decidir sobre eventos externos: um delegado não tem autoridade para dizer que o Chefe de Governo dele disse isso ou aquilo sem consultar a Mesa.
Assim, apesar da atividade ser inter-subjetiva, existe um só Leviatã capaz de administrar o mundo externo às paredes do comitê.

GABINETES - Em nenhum outro setor do universo modeleiro isso é tão claro quanto nos gabinetes. Um gabinete poderia ser formado unicamente por jogadores de RPG live action e simulado sem que nenhum deles jamais tivesse ouvido falar de MUNs.

Na semana passada fui Diretor-Assistente de um gabinete, no Colégio Militar de Belo Horizonte. Simulamos o Reichskabinet em 1941: travamos guerra com Iugoslávia, Grécia, e finalmente União Soviética.

O que nunca saiu da minha cabeça durante os quatro dias de simulação foi o quanto ela poderia ter sido mais produtiva, mais didática e - sim, até mais realista - se em vez dos mapões burocráticos, "mundo real" que usamos, tivéssemos usado um tabuleiro do jogo Axis & Allies: Europe.



O tabuleiro tem os comboios, que nossos submarinos poderiam se dedicar a afundar. Ademais, a presença física das unidades navais e aéreas teria dado susbstância aos discursos de nossos ministros e comandantes, que clamavam constantemente que a Luftwaffe e a Kriegsmarine estavam "em frangalhos".

Tínhamos uma delegação muito boa do Reichsbank (banco centraalll! banco centraaaaal!), que alertava sobre os custos de operações militares e sobre como o estado de nossa marinha prejudicava nosso comércio. Se a gente jogasse o jogo durante o gabinete, isso teria ganho toda uma nova dimensão, já que o jogo têm dinheiro (como Banco Imobiliário). Poderíamos ter disputas sobre o orçamento a cada rodada, com os ministros do Banco Central querendo preservar o dinheiro, e os comandantes de cada Estado-Maior querendo dinheiro para seu contingente de forças (Heer, Kriegsmarine, Luftwaffe). Uma dinâmica muito interessante, que deve ser experimentada talvez nas simulações do 5º Comitê.

Nós modeleiros às vezes nos levamos a sério demais, e acabamos perdendo a possibilidade de explorar dinâmicas muito interessantes. Perdas de tropas em gabinetes são simplesmente estimadas pelos Diretores, quando poderiam ser bacanamente decididas por um rolar de dados. Como achamos muito complicada a gestão financeira de um gabinete de verdade, jogamos fora essa dinâmica, em vez de explorá-la com dinheiro de mentirinha.

Talvez a nova fronteira dos modelos seja interagir com outros hobbies. Uma simulação de uma casa-grande feita numa fazenda; uma simulação do Talibã feita nessas viagens de aventura, em cavernas; uma simulação do gabinete do Saladino feita nas dunas de Natal. Mas antes desses empreendimentos ambiciosos, natural começar por atividades mais próximas aos modelos: RPGs e jogos de tabuleiro.

5 comentários:

  1. Eu ja usei bastante a metafora dos MUNs como RPGs para explicar a leigos o que são modelos. Dependendo do publico, isso ajuda ou atrapalha. E eu geralmente prefiro comitês bizarros, incluindo gabinetes, que reforçam sua tese.

    Mas continuo achando que simulação é algo muito maior do que RPG. Primeiro, porque os temas, topicos, personagens/paises e organizações que simulamos são reais e sérios (?), não ficção. Segundo, porque (em teoria) modelos são uma ferramenta pedagogica que inclui varios elementos inexistentes em RPGs: retorica, redação de documentos formais, habilidades de negociação, capacidade de pesquisa acadêmica. Em comum, o teatrinho e a representação de papéis.

    Acho que a idéia do MUN-como-RPG periga marginalizar a nossa comunidade que tanto luta para se expandir. Não precisamos ser vistos como uma versão diplomatica dos trekkers!! :p

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  2. Eu acho que modelos e RPGs possuem uma zona de intersecção. Não acho nem que RPG englobe a simulação, nem o inverso, ao menos nessas nossas simulações habituais do Brasil. Existem coisas de RPG que não são aplicáveis à simulação (sob pena de mandar pras cucuias o realismo, e.g. dados) ou não são aplicáveis ao RPG (produção de material científico durante a simulação, que não são fruto do seu personagem, mas do seu trabalho sob um ponto de vista, e.g. um relatório em comitê técnico).

    Qe há alguma similitude é fato, mas acho que é preciso manter uma barreira saudável entre os dois. O que não quer dizer que não possamos "pegar emprestado" técnicas rpgísticas, tudo pelo desenvolvimento da modelolândia!

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  3. Concordo c/ o Cedê. Aqui em SSA já vi/li/ouvi muitos comentários preconceituosos sobre MUNs e RPGs e nem sempre o pessoal de um grupo vê a ligação entre as 2 atividades (os RPGistas c/ os quais convivo ñ conseguem entender os modelos e os modelistas ñ entendem o RPG - p/ cada grupo, a outra coisa é perda de tempo). Comecei no RPG antes de entrar no mundo dos MUNs e uma das coisas que gosto mais em ambos é justamente do role play em si - ao menos nos MUNs todo mundo dá privilégio ao rp; no RPG o pessoal me faz enlouquecer em praticamente ñ interpretar (quem manda só gostar de classes essencialmente interpretativas como paladinos e bardos, hehehe).

    Faz tempo que vem surgindo elementos no RPG que aproximam o jogo do mundo real - nos livros de D&D podemos encontrar armas de fogo (meio exageradas, mas tem), o Castelo Falkenstein (era vitoriana c/ "algo mais") e afins. Acho que c/ certa boa vontade daria p/ fazer um RPG de situações reais, afinal até o conceito de MUN se expandiu a partir do momento se simula muito mais do que os comitês da ONU como gabinetes de Estado, etc. (falando nisso, até aquelas idéias p/ Temas Bizarros são mais próximas do RPG "normal/comum" do que dos MUNs).

    Creio que os MUNs sejam um subtipo de RPG - que ele vai além, é fato, mas a rigor é um jogo de representação de papéis em essência.

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  4. falo de carteirinha que os dois são filhos dos mesmos pais, pode fazer o dna aí....

    mas são diferentes também, pelos fatos que todos apresentaram, temas, "mundo", players, tudo isso é diferente....mas a mecanica é a mesma....

    isso que torna os modelos e o RPG tão interessante apra seus praticantes.... é por ai...como praticante dos dois, fico feliz em ver qeu finalmente conversaram sobre isso

    abraços

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  5. Meu Deus,eu vivo falando isso pros meus amigos!
    Um modelo ficaria muito mais interessante com uma mesa que usasse d20

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