quinta-feira, 5 de abril de 2007

We do it better

Como bons terceiromundistas, os brasileiros tendem a reverenciar e/ou imitar quase tudo o que vem do Grande Norte. Afinal, é necessário que alguns sejam caipiras para que os outros sejam cosmopolitas.

Mas não estou repetindo clichês sobre música pop, nomes de condomínio ou marcas de barbeador. Estou falando estritamente de modelos da ONU. Como a primeira simulação nacional (AMUN 98) aconteceu há menos de uma década, e 75% de nossos modelos possuem menos de cinco anos de vida, pensamos instintivamente que ainda estamos no começo da estrada de tijolos amarelos, e que nos resta muito a aprender e entender.

Bobagem.

Recentemente eu me aposentei das simulações brasileiras para engatar uma carreira na Europa, e semana que vem parto pro meu quarto modelo nestas bandas, o MIMUN de Moscou. Até agora, não vi nada que me impressionasse, a não ser a logística profissional do Harvard WorldMUN. Mas isso também existe em congressos de estudantes de medicina. Um MUN não é apenas um evento grande.

O nível acadêmico, o realismo da simulação, o grau de decoro, o espírito de cooperação, a autoridade dos diretores, o teatrinho retórico, a capacidade de tomar decisões sob pressão, o conhecimento das organizações internacionais... Tudo isso, grosso modo, está faltando no hemisfério norte. De alguma maneira, os modelos brasileiros conseguiram se afirmar entre os melhores do mundo em um período extraordinariamente curto de tempo. Claro que existem enormes exceções, e qualquer modelista com alguma idade consegue se lembrar de pelo menos dois ou três comitês fracassados. Mas a tendência geral é muito positiva.

Qual o segredo do aparente sucesso do Brasil? Comitês pequenos, como Assembléias Gerais com 60 pessoas e não 200? Tópicos corajosos, à la TEMAS e SiEM? Teimosia? Feitiçaria? Tecnologia?

Não. O que nos separa dos modelos europeus e (principalmente) americanos é a origem de nossos delegados. 90% dos modelistas brasileiros fazem Direito ou RI. Quando muito, Economia/Administração ou Comunicação. Nos Estados Unidos, é comum encontrar SecGens e diretores estudando Biologia, Matemática ou Química. Isto existe no Brasil, mas é quase exótico.

Além disso, em Pindorama praticamente não existe competição para os modelos da ONU. Lá fora, um potencial modelista também poderia gastar seu tempo livre em campeonatos de oratória, associações estudantis de todos os tipos, viagens acadêmicas e outros eventos ligados a seu campo de estudos. No Brasil, falta opção. Os centros acadêmicos raramente são sérios e ativos. O ENERI é uma grande balada. Pode-se fazer iniciação científica ou estágio, mas isso não mata a sede de modelagem. A única atividade extracurricular que realmente concorre com os modelos é o Jessup, mas pouca gente participa.

A conseqüência disso tudo é que as simulações ficam restritas a um grupo pequeno de estudantes no Brasil. Surgiu uma tropa de choque de modelistas nacionais, estudantes de RI e Direito que respiram modelos, conhecem uns aos outros e não raro namoram entre si. São 200 pessoas em um país de quase 200 milhões. Essa gente se especializa no assunto, organiza simulações locais, ensina a vendidagem aos modelistas mais novos e, sem perceber, faz com que os MUNs brasileiros sejam mais exigentes, intensos e realistas - mas também mais elitistas - do que na Europa e nos Estados Unidos.

Para variar, nosso ponto forte é também nossa maior fraqueza.

(para exemplos mais concretos ou historinhas mais divertidas, leiam os relatos do WorldMUN de Genebra feitos pelo Pereira ou por mim)

3 comentários:

  1. Bom ver que estamos no caminho certo.

    E os relatos de Genebra são muito engraçados ... pena que ñ tenha dado p/ aproveitar muito o modelo em si. Aliás, eles já escolheram a sede do ano que vem?

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  2. Ainda não. Devem escolher em uns dois meses, mais ou menos. A escolha TEORICAMENTE leva em consideração a segurança da cidade (Harvard morre de medo de terrorismo ou de seqüestros), as possibilidades logisticas, a experiência da universidade organizadora em MUNs e a atratividade turistica do local...

    Existe uma politica não-escrita de alternância entre cidades européias e não-européias pro WorldMUN. Meu palpite pra 2008 é Caracas.

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  3. Caracas sempre tenta, nunca consegue =p

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