quarta-feira, 23 de maio de 2007

O novo-velho e o velho-novo


Tivemos recentemente uma discussão polêmica aqui no Representatives-Modeleiro, que suscitou questões interessantíssimas. Não quero retornar a seu contexto, mas gostaria de voltar às dúvidas que já levantei nos comentários do post relaconado, e acrescentar a estas mais algumas. Na verdade eu gostaria mesmo que alguma outra pessoa - de preferência fora do nosso staff regular - falasse suas impressões a respeito, mas como dizia minha vó, "só tem tu, vai tu mesmo".

Em vários aspectos, nós já aprendemos a fazer modelos. Já dominamos o fogo. Após a inspiração externa, conseguimos vislumbrar todo o sistema, entender como funciona e empregá-lo com perfeição. É curioso como isso parece já fazer parte de alguma espécie de inconsciente coletivo nacional, ao passo que diversos modelos aparentemente disconexos estão surgindo (aparentemente do nada), crescendo e se fortalecendo. Mas sobre isso já falamos bastante. Após dominar o fogo, nós começamos a refiná-lo, usá-lo para os mais diversos fins. Diversificamos nosso arsenal, e hoje já simulamos até o <#mode Jabá ON> II Concílio Vaticano <#mode jabá OFF>. Se continuar nessa marcha podem esperar uma simulação da Guerra do Peloponeso ou Joint-Committee Roma-Cartago nas Guerras Púnicas no TEMAS 2009.

Porém, essa "maturidade" traz seus próprios problemas. O que acontecem quando modelos ficam adultos? Eles amadurecem, ganham uma personalidade encorpada e fazem escola? Ou será que de tanto estarem acostumados a velhos costumes, eles ficam caquéticos e engessados? Será que a saída das famosas primeiras gerações gera um cataclisma no nível acadêmico do evento? E finalmente, uma pergunta que sumariza nossos temores: estamos preparados para a transição?
por apresentar quadros diversos: modelos com idades diferentes, experiências distintas, etc.

Esse tema por si é ligeiramente delicado por causa da comparação automática entre as gerações. Por exemplo, qualquer pessoa que foi aos MONU 2005 e 2006 sentiu uma diferença *sensacional*, nos termos de João Vargas. É uma tendência natural você analisar dois modelos distintos (temporalmente falando) e fazer um juizo de valor, esse foi melhor que aquele nisso ou naquilo, etc. Do mesmo jeito, é complicado tomar decisões a longo prazo. Um exemplo de casa: todos secretariados da SOI (myself included) disseram que não deveríamos mexer no nosso logotipo, mas "alguns ajustes precisam ser feitos". TODOS. Outra coisa que em alguns lugares é mais complicada que outros é a influência sobre os ex-alunos sobre a simulação: um modelo precisa de um santo padroeiro? E no sentido oposto, há algo errado em ter aconselhamento de modelistas calejados?

EM muitos aspectos, a relação entre modelos é personalista. Você não faz amizade com o modelo, faz com o "diplomata" do modelo. A consequência da transição pros modelos entre si é algo que eu gostaria de ver tratado posteriormente, mas no momento gostaria de me limitar ao interna corporis, ao crescimento interno do modelo, seu amadurecimento e "troca de pele".

O que vocês acham disso tudo?

Já me adianto com algumas idéias que eu acho interessantes pra se cuidar do tema em cada modelo:

1 - RENOVAR É PRECISO. Renovação deve ser uma preocupação CONSTANTE. Se um ano sequer não for planejado de forma a acrescentar algo de novo ao seu modelo, quer dizer que em alguns anos haverá uma quebra. Vários modelos atualmente sofrem problemas por usufruirem de "surtos" de popularidade. Diretores empolgados surgindo a cada dois ou três anos. Isso é PÉSSIMO.

2 - REGISTRAR É PRECISO. É importante documentar as coisas, os procedimentos. Desde o secretariado com todo o calhamaço de material administrativo, até as diretorias acadêmicas: em caso de quebra de renovação, as pessoas podem acabar ficando sem saber o que fazer. Sem falar que já ter nem que seja os pontos principais escritos já facilita a comunicação, que é o próximo ponto;

3 - CONVERSAR É PRECISO. Conversar com os modelistas mais velhos e mais novos SEMPRE é bom. Aprenda com os erros que ainda não cometeu, aproveite as idéias das pessoas que ainda não estão submetidas aos mesmos procedimentos que você, e muitas vezes, não tem os mesmos vícios (e dê o devido crédito, óbvio. Dessa galinha ainda pode sair muito ouro). Modelos já passaram por verdadeiros medievos por secretariados politicamente divergentes. Sempre que possível, uma relação próxima com os antecessores pode ser extremamente proveitoso, poupando muito trabalho. E estar atento às ideias novas pode ser justamente um sinal que vc precisava pra ver quem realmente tem interesse na coisa;

4 - ACREDITAR É PRECISO. Procure pessoas que se interessam pela idéia, não pelo projeto. O problema de pessoas que se interessam pelo projeto, é que elas tendem a participar pouco tempo. Ficam um ano como diretor, depois juntam a trouxinha e desistem das simulações. Levando em conta a necessidade de um planejamento a longo prazo, esse é mais um fator de risco que pode gerar uma baita quebra. Geralmente pessoas envolvidas com a idéia tendem a ter um relacionamento mais profundo com o modelo. Óbvio que isso não exclui os one-night-only, podem ser muito bons, mas eles devem ser sempre a minoria, ou seu modelo cedo ou tarde vai passar por apuros por falta de pessoal

Agora passo a bola: e vocês? o que acham?

6 comentários:

  1. Esse assunto é muito complicado. Praticamente todos os modelos mais antigos ja sofreram ou estão sofrendo sobressaltos de qualidade: a simulação melhora muito em um ano mas despenca na edição seguinte.

    Concordo com tudo o que você disse e não quero repetir seu post, então faço uma sugestão bem precisa:

    - Todo modelo que deseja se profissionalizar deveria ter um estatuto e um arquivo historico COMPLETO e PERMANENTE de seus guias de estudo e resoluções, documentos de posição e até working papers, além de materiais administrativos como o orçamento, o folder institucional, fotos, etc, e uma lista realmente universal de todos os antigos membros da organização. Isso também afeta o fundraising: excelentes patrocinadores às vezes são perdidos na falta de continuidade entre secretariados.

    Como alguns MUNs (infelizmente não a maioria) ja fazem isso tudo, sugiro um ponto novo:

    - Esses bancos de dados de cada modelo deveriam ser socializados e compartilhados nacionalmente, na medida do possivel. MUITAS situações de reinvenção da roda seriam evitadas com isso, tanto academicamente (lendo velhos study guides; sabendo quais comitês e topicos ja foram simulados por qual modelo em qual ano; sabendo quais simulações funcionaram e quais fracassaram) como administrativamente (aprendendo com as best practices do passado em divulgação, fundraising, etc).

    Enfim, acho que precisamos consolidar um know-how nacional e unificado de modelos da ONU. Este blog faz parte deste processo, alias...

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  2. Renovação acho que é o assunto que mais dá trabalho. Ao contrário dos demais pilares de sustentação de um modelo (proposta acadêmica e estruturação administrativa), que conseguem de certa forma caminhar por conta própria de uma forma ou de outra, a questão dos recursos humanos ainda é algo que depende MUITO de contatos pessoais.

    Pelo menos a partir da minha experiência, tem sido muito difícil renovar, e isso acontece por uma série de motivos - os mais recorrentes são desinteresse, falta de compromisso, e falta de dinheiro. Os dois primeiros são difíceis de contornar, mas é possível; falta de dinheiro, não. Afinal, MUNs são brincadeiras caras, e poucas são as pessoas que são interessadas e estão dispostas a gastar 500 reais em uma viagem pra Brasília, Porto Alegre, Natal, BH, São Paulo...

    O Napô falou da parte estrutural de renovação, mas o que mais me preocupa é a parte de como atrair a atenção de novatos.

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  3. TIVE UMA IDÉIA!

    NÓS vamos FAZER o banco de dados de Guias de Estudos.

    OPERACIONAMENTOCIONABILIZAÇÃO:

    1. A gente abre um edital de um modelo específico, com data. Exemplo:

    "PROCURAMOS GUIAS DE ESTUDO DO AMUN, DE TODOS OS ANOS. MANDE ATÉ DIA X para correiodiplomatico[arrouba]gmail."

    A medida que vamos recebendo os guias, updateamos o post, dizendo quais guias já recebemos.

    2. O edital será postado na comunidade orkut daquele modelo.

    3. Repete o processo, digamos uma vez por semana, até que tenhamos dúzias e dúzias de guias.

    4. Aí abrimos tipo um modeleiro.blogspot/guias e teremos um JSTOR de guias de estudo.

    Os deuses dos modelos abençoem o ócio criativo! Tive essa idéia agora durante o almoço.

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  4. É uma boa, Cedê!
    Eu salvei alguns guias de alguns modelos e posso até ajudar (tá certo que ñ são muitos, mas já é algo). Tem modelos que os guias só ficam disponíveis p/ os inscritos, aí só c/ a ajuda do pessoal que participou mesmo.

    Quanto ao tema do tópico, assino embaixo do segundo parágrafo do Guilherme - recursos humanos tem sido um problema ABSURDO aqui em SSA. Oficialmente, esse ano, o SIONU-FIB tem 3 pessoas na organização: eu e mais 2 colegas (uma inclusive foi intimada por mim p/ virar SG, já que por eu estar formando esse semestre, ñ devo ser SG). Pior é que cada vez menos tem gente querendo participar e menos gente ainda querendo organizar. É fogo >_<

    Aliás, esse fs vou atualizar o site do modelo - ele será junto c/ a IV Conferência Mundial para as RI (que será aqui, claro) no início de novembro.

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  5. Acho muito boa, Cedê, e facil de colocar em pratica! Acho que em menos de um mês conseguimos compilar no minimo uns 200 guias, talvez bem mais. Isso pode ser uma tremenda mão na roda para modeleiros em geral, velhos ou novos. Como todos os background guides são de dominio publico, não havera problema de direitos autorais, certo?

    Como diria vovô Vetusto, precisaremos de muitas fontes! Mãos à obra?

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  6. Eu acho que um ponto muito importante na renovação é o papel do secretariado vigente. Me lembro que no onujr 2005 foi o ano do choque de gerações em que a galera mais antiga tava saindo e a nova geração entrando e o Luix era academico e fez um trabalho não só de orientar a criação dos guias e revisão de regras, mas sim de ensinar o que era modelo, o que era o onujr, porque participar de modelos. Da galera que começou naquele ano, vejo quase 100% hoje no staff do onujr 2 anos depois desse choque de gerações. Acho que a consciência do papel dos "velhos" na formação e transição é muito importante. Uso o exemplo do onujr porque acho que é o único modelo que eu tenha visto em todas as edições a presença de todos os ex-sgs atuando mesmo que carregando cadeira e dos demais participantes que se afastaram da organização passando para dar uma ajuda no que for preciso.

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