domingo, 6 de abril de 2008




O MARKETING DOS 2 TÓPICOS

Uma das diferenças entre modelos de Ensino Médio e universitários é que, de forma geral, os primeiros têm um só tópico por comitê, e os segundos, dois.

Claro que existem mil exceções. Eu já fui Diretor no MINI-ONU de uma OTAN com três tópicos, e na SiEM de um Foro de São Paulo com quatro. E os sensacionais comitês do TEMAS têm, na maioria, um tópico só.

Mas permanece o fato. Dos 8 comitês do Shi'aMUN, sete têm dois tópicos. No UFRGSMUN deste ano, vários dos comitês também têm dois tópicos. Et cétera.

MARKETING MALDOSO? - De um ponto de vista mal-humorado, dois tópicos são uma tremenda propaganda enganosa, uma jogada de marketing. Isso acontece por duas razões:

(a) a escolha de qual tópico vai primeiro é votada na primeira sessão. Não há uma agenda;
(b) na maioria das vezes, os delegados - alguns de propósito, outros não - esticam e alongam a discussão do primeiro tópico;

o que resulta em

(c) o outro tópico jamais é discutido, ou resta apenas uma sessão para ele.

É claro que espera-se que os delegados, ao se inscreverem pro evento, já saibam disso. Ir para um comitê com UM tópico que você ache interessante é sempre um risco. O único jeito é você ir prum comitê no qual você goste dos dois. O que nem sempre é possível, inda mais porque normalmente os tópicos são bem diferentes.

Exemplo mais clássico: AMUN 2004, no qual, para frustração da dupla do Chile e outras, o CS preferiu discutir tribunais ad hoc em vez da situação na Coréia do Norte. Imaginem um calouro de RI/Economia e outro de Medicina discutindo jurisdimentos quando estavam sedentos por ação na península coreana!

Nesse mesmo AMUN, fui Chile no SpecPol e tive de discutir PKOs na África quando tudo o que eu queria era o tópico das armas não-convencionais, que jamais foi discutido. Além da preferência pessoal, o Chile tinha muito mais destaque neste tópico do que no africano.

OUTRA VANTAGEM CAPCIOSA - Mais um aspecto negativo dos dois tópicos é que permitem que um aluno que pouco liga pra modelos obtenha uma publicação (o Guia) e depois pouco se lixe pro simulação. Já o Diretor responsável pelo outro tópico tem que carregar o comitê nas costas.

Isto é raro, mas acontece. O principal indicador é o tópico com nome de monografia, especialmente se tiver dois pontos (:).

Claro que na maior parte das vezes a divisão de trabalho entre os responsáveis pelo tópico A e os do B é bem-executada. Mas que já vi caso em que realmente ficou parecendo que um Diretor só fez Guia pela publicação e não tava nem aí pro modelo, ah, isso já.

TEM CONSERTO? - É perfeitamente legítimo argumentar que a situação não precisa de conserto, porque os delegados sabem que ir prum comitê de dois tópicos é sempre um risco. O modelo não tem e nunca teve obrigação nenhuma de satisfazer você com o tópico que você queria. Se você perdeu a motion to set the agenda, que pena. O jeito é fazer o melhor possível na discussão do outro tópico.

Não obstante, soluções tem surgido. Não vou falar aqui de nenhuma teoria, apenas de soluções que testemunhei (ou fiz) na prática. Vamos a elas.

A agenda imutável - dois dias do evento são pro tópico A. Os outros dois dias são pro B. Não há apelação. Sch, calaboca. Usada com bons resultados na OSCE do TEMAS deste ano.

A agenda mutável - As primeiras X sessões são pro tópico A. As restantes, pro B. Ao final de cada sessão, você pode mover para adiar o tópico A por mais uma sessão (pode fazer isto mais de uma vez). Também é possível apresentar um documento com outra divisão de sessões. Ambas as táticas exigem nove votos no CS. Usada com excelentes resultados para a Indonésia no CS do XAMUN.

Grupos de trabalho! - Pelo menos uma sessão inteira é debate não-moderado com delegados produzindo documentos, divididos em dois, três ou quatro grupos. Os grupos podem discutir sub-tópicos do tópico A (caso do SciTech no 8º AMUN), para acelerar a resolução, e depois fazer o mesmo com o B. Ou podem discutir, cada grupo, um dos tópicos na agenda (Foro de São Paulo na SiEM e OTAN do 6º MINI), para tentar matar tudo ao mesmo tempo.

E você? Acha que dois tópicos precisam de "conserto", ou não? Se não: porquê? Se sim: quais as melhores formas de "consertar"?

8 comentários:

  1. Dois tópicos assustam. Eu lembro bem que fui para o Fórum Econômico Mundial do IV ONU Jr só por conta do tópico sobre energias alternativas, tava pouco me lixando pra estratégias de desenvolvimento dos BRICS.

    Na minha opinião, a diretoria deve dosar os tópicos. O equilíbrio é fundamental, creio eu. E deve haver um mínimo de coerência -- eu não consigo imaginar que uma OEA, por exemplo, tenha como tópico A "segurança regional" e tópico B "aquecimento global". Acaba-se abrangendo um público maior em detrimento da objetividade e qualidade.

    Ah, sim, nada de limites em nº de sessões. Discutiu, ótimo. Não discutiu, better luck next time.

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  2. Além de potencialmente frustar delegados, 2 tópicos podem tbm frustrar os diretores. O diretor cujo tópico "perde" a adoção da agenda tbm pode ficar decepcionado ao ver seu trabalho ser "jogado fora". E isso pode, potencialmente, se tornar um problema maior a partir do momento em que o diretor passa a incluenciar o comitê mto mais do que deveria para que seu tópico seja discutido. Sei de pelo menos um caso quando isso aconteceu, no DiSec do AMUN 2005.

    A agenda imutável tbm foi usada em Bandung '55 (agrega os não-alinhados) no TEMAS 2005, mas com uma diferença, os próprios delegados que montavam a agenda. Na primeira sessão os tópicos eram propostos, assim como as sessões durante as quais cada um deles seriam discutidos. Deu mto certo.

    Em relação à agenda mutável do UNSC, vale lembrar tbm que não era apenas necessário 9 votos para aprovação, havia a possibilidade de veto pelos P-5, o que inclusive gerou mta polêmica à época e foi modificado no UFRGSMUN.

    Bom, pessoalmente, ainda que eu prefira apenas um tópico - ou vários tópicos que são discutidos simultaneamente, como acontece em gabinetes - não tenho nada contra a existência de 2 tópicos. Mas acho que, se existem 2, ambos deveriam ser discutidos. Então, acho que a existência de uma agenda prévia dividindo as sessões em que cada tópico será discutido, ou pelo menos oferecer a possibilidade para que os delegados montem essa agenda logo no começo da sessão, ao invés de apenas votar em qual tópico será discutido primeiro, é uma boa opção. Não acho que seja ruim caso a agenda seja fixa, como no caso de Bandung e da OSCE, e isso tem o efeito de colocar mais pressão sobre o comitê, o que pode ser interessante. Entretanto, acho que haver a possibilidade de se emendar a agenda, como nos UNSCs do AMUN e do UFRGSMUN ano passado, é a melhor opção.

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  3. Eu sempre preferi comitês com um tópico só. A principal razão é que, nesse tipo de comitê, você já vai pro Modelo sabendo que vai discutir o assunto X. Não tem volta. Comprou, levou!

    As soluções pro problema da "preferência pelo perdedor" me parecem mais atenuações que soluções definitivas. A adoção da agenda prévia parece boa na teoria, mas minha única experiência prática com isso (UE no XAMUN) foi catastrófica. As sessões propostas pra cada tema foram insuficientes, e teve coisa que acabou ficando de fora. Nesse caso, acho que o problema foi mais no planejamento do comitê que no sistema de agenda prévia em si, mas ainda assim fiquei com um pé atrás pra esse tipo de organização.

    Os grupos de trabalho podem funcionar, mas às vezes também atrapalham. Quando a participação em cada grupo não é totalmente voluntária, a questão da "preferência pelo perdedor" pode continuar, ao menos para alguns delegados.

    É interessante a constatação de que os comitês de temas duplos são característicos dos Modelos universitários. Qual será a razão pra isso? Pelo menos no caso da SiEM I, nós nunca discutimos o fato de temas únicos serem mais apropriados pra modelos colegiais. Será que essa combinação é acidental?

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  4. No UNSC da SOI 2005 tivemos 4 temas, um por dia, em uma agenda fixa. Era um negócio meio punk, pra estressar delegados. Mas vários reclamaram que acabavam perdendo tempo mais no processo de redação e não dava pra discutir o assunto em si. Mas isso eu acho algo positivo, afinal você precisa aprender a já fazer uma espécie de pré-avaliação do seu trabalho sequer antes de levá-lo a debate em seu comitê. Sem falar que, se o delegado almoçou, então é pq tempo tava sobrando. Eu já passei MUITAS festas de modelo discutindo projetos de resolução ;P

    Sobre a "coincidência" ou nao do vínculo entre um ou dois temas e os modelos universitários e secundaristas, eu acho que o padrão é esse universitário, simplesmente por termos aprendido assim. Então, ao passar pro EM, buscamos simplificar as coisas, ir direto ao ponto, que, afinal, era o que deviamos fazer tb na universidade pra começo de conversa. Quando se propõe dois temas a serem debatidos, na verdade tenta-se adicionar verossimilhança, como se na vida real fosse assim, você chegasse lá, discutisse a agenda e depois debatesse e votasse. Essa agenda não funciona desse jeito nem em modelo nem na vida real, e por isso prefiro um tema só.

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  5. Amanda: eu ia pôr o trem do veto, mas realmente não lembrava se tinha veto ou não. Uma coisa que contribuiu para eu pensar que não tinha veto foi o fato da Indonésia ter conseguido adiar a agenda duas (ou três?) vezes. Mas eu não me autorizei a pensar que não tinha veto mesmo, então simplesmente não pus, porque não tinha certeza.

    Mas bem lembrado.

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  6. Confesso que a minha posição sobre isso não é muito bem definida.

    Por um lado, ter um unico topico evita frustrações e garante que nenhum estudo tera sido em vão, nem por parte dos delegados nem dos diretores.

    Por outro lado, a adoção da agenda é um aspecto importante das negociações diplomaticas da vida real. Claro que as coisas não acontecem do jeito que a gente simula (nosso procedimento de escolha de topico é meio caricatural), mas às vezes existem GRANDES brigas para ver se um topico vai ser discutido ou não. A China e a Russia bloqueiam a discussão sobre Myanmar no Conselho, os EUA tentam (mas não conseguem) evitar que Israel entre na pauta, et cetera. Se todo mundo estiver preparado, é uma parte legal da simulação também.

    Eu ja vi alguns comitês com dois ou mais topicos discutirem a agenda inteira, coincidentemente sempre em MONUs - o CSH em 2002, o CS em 2005 e a UNPO em 2006. Mas são exceções. Para a maioria dos modeleiros, esta implicito que o topico derrotado na adoção da agenda vai pra lata de lixo da historia.

    O WA levantou um ponto importante: todos os delegados, e não apenas os vendidos, deveriam ir ao comitê com um esboço (pelo menos mental) do tipo de resolução que eles querem aprovar, ao invés de deixar para escrever tudo durante as sessões. Isso sim acontece na vida real. Muito tempo seria economizado. Mas esse é assunto pra outro post.

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  7. Não sei se alguém ainda lerá esse comentário havendo já tantos posts mais novos, mas adianto que no AMUN 2008 teremos uma inovação: não haverá "Adoption of the Agenda", e ambos os tópicos serão discutidos obrigatoriamente em igual número de sessões.

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  8. Embaixador, li seu comentário. Eu só me pergunto sobre o número igual de sessões: não são ímpares (nove)? =p

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