Eis um assunto crucial para a modelagem, embora subestimado. O que um modeleiro deve considerar na hora de escolher a(s) língua(s) de sua simulação?
De uns três anos para cá, a onda é o modelo misto português-inglês, o equivalente modelístico do bar-balada. Simulações apenas em português continuam comuns, pois existe muito mercado pra isso. Modelos exclusivamente em inglês estão rareando. De cabeça, calculo que uns 40% dos MUNs brasileiros são lusófonos, 40% são linguisticamente mistos e menos de 20% são English-speaking only. Ocasionalmente aparece algum comitê em espanhol, mas é "exótico". Nunca vi nada em outros idiomas no Brasil.
Curta comparação. Na Europa, que tem o mesmo tamanho do Brasil e o triplo da população, o inglês atropelou todos os concorrentes e se impôs como a lingua franca da modelagem. Raros são os comitês simulados em alemão, espanhol ou mesmo francês (quero mudar isto pra 2008).
As respostas mais freqüentes à pergunta do primeiro parágrafo são mais ou menos assim:
- "Comitês em português são obviamente mais acessíveis. Eles permitem que os delegados se expressem com maior desenvoltura e melhor vocabulário, mas fecham as portas para 95% dos estrangeiros e deixam tudo mais informal, mais familiar."
- "Comitês em inglês são um pouco mais elitistas. Eles permitem a participação de estrangeiros - mas isso na prática é raro, mesmo no AMUN - e recriam com mais profissionalismo a atmosfera da ONU. A obrigação de falar outra língua reforça a atmosfera de role-playing, mas dificulta o acesso para quem tem inglês fraco."
- "Comitê em qualquer outra língua é coisa de doido. Difícil arranjar delegado."
Tudo isso é lugar comum para modeleiros e modelistas. Agora vamos um pouco mais longe.
Defendo mais flexibilidade e mais ousadia. Assim como a escolha do tópico e a elaboração da country list devem se adaptar às políticas do modelo, aos interesses acadêmicos dos diretores e ao perfil dos delegados, a escolha da língua deve seguir os mesmos critérios. Querem um exemplo negativo? Quem disse que o único comitê em inglês de um modelo misto precisa ser automaticamente o Conselho de Segurança, ops, Security Council? Bullshit, baby... Qualquer sessão do UNSC real acontece em seis ou sete línguas. Ele não é mais anglo-saxônico do que o resto da ONU.
Exemplos positivos: organizações regionais, quando simuladas, poderiam sê-lo na língua local. Ok, seria difícil fazer isso com a ASEAN ou a Comunidade de Estados Independentes. Mas a OEA, a CEPAL, o Mercosul e o Parlatino, por exemplo, deveriam ser feitos em espanhol quando possível. Para a UE ou União Africana, vai o inglês mesmo. O francês não era a língua dos diplomatas até 1945? Pois seria fabuloso ver uma Liga das Nações simulada comme il le faut! E um pequeno gabinete do III Reich, para oito ou dez delegados, poderia até ser feito em alemão. Realismo é isso e o resto é resto.
Também se fala alemão na ONU, oras!
Curta comparação. Na Europa, que tem o mesmo tamanho do Brasil e o triplo da população, o inglês atropelou todos os concorrentes e se impôs como a lingua franca da modelagem. Raros são os comitês simulados em alemão, espanhol ou mesmo francês (quero mudar isto pra 2008).
As respostas mais freqüentes à pergunta do primeiro parágrafo são mais ou menos assim:
- "Comitês em português são obviamente mais acessíveis. Eles permitem que os delegados se expressem com maior desenvoltura e melhor vocabulário, mas fecham as portas para 95% dos estrangeiros e deixam tudo mais informal, mais familiar."
- "Comitês em inglês são um pouco mais elitistas. Eles permitem a participação de estrangeiros - mas isso na prática é raro, mesmo no AMUN - e recriam com mais profissionalismo a atmosfera da ONU. A obrigação de falar outra língua reforça a atmosfera de role-playing, mas dificulta o acesso para quem tem inglês fraco."
- "Comitê em qualquer outra língua é coisa de doido. Difícil arranjar delegado."
Tudo isso é lugar comum para modeleiros e modelistas. Agora vamos um pouco mais longe.
Defendo mais flexibilidade e mais ousadia. Assim como a escolha do tópico e a elaboração da country list devem se adaptar às políticas do modelo, aos interesses acadêmicos dos diretores e ao perfil dos delegados, a escolha da língua deve seguir os mesmos critérios. Querem um exemplo negativo? Quem disse que o único comitê em inglês de um modelo misto precisa ser automaticamente o Conselho de Segurança, ops, Security Council? Bullshit, baby... Qualquer sessão do UNSC real acontece em seis ou sete línguas. Ele não é mais anglo-saxônico do que o resto da ONU.
Exemplos positivos: organizações regionais, quando simuladas, poderiam sê-lo na língua local. Ok, seria difícil fazer isso com a ASEAN ou a Comunidade de Estados Independentes. Mas a OEA, a CEPAL, o Mercosul e o Parlatino, por exemplo, deveriam ser feitos em espanhol quando possível. Para a UE ou União Africana, vai o inglês mesmo. O francês não era a língua dos diplomatas até 1945? Pois seria fabuloso ver uma Liga das Nações simulada comme il le faut! E um pequeno gabinete do III Reich, para oito ou dez delegados, poderia até ser feito em alemão. Realismo é isso e o resto é resto.
Também se fala alemão na ONU, oras!
Não estou sonhando. Com alguma cautela e um bom planejamento, existe espaço para inventar muito mais. Nas melhores faculdades de RI, pelo menos metade dos alunos possuem um bom nível de espanhol ou francês. Com tantos colégios bilíngues nas capitais e o atual boom dos intercâmbios internacionais, também cresceu muito o número de modelistas fluentes em outras línguas. Essa gente quer treinar e melhorar os idiomas que já fala.
Em particular, comitês em espanhol abririam as portas para delegados do resto do continente. A Argentina, o México e a Venezuela são pólos formidáveis de MUNs, e teriam muitas figurinhas a trocar conosco. Enfim, acredito que a diversidade lingüística pode enriquecer muito a modelagem nacional.
Porém e ao mesmo tempo, devemos evitar o excesso de ambição. Se um modelo for jovem, pequeno e sem pretensões internacionais, voltado para delegados pouco experientes, ele realmente vai precisar de um comitê em inglês? Para quê, para aumentar o status? Não faz sentido. Os meios sempre devem se adaptar aos fins. Se for o caso, vamos de português mesmo, e viva o nosso Brasil varonil!
Em particular, comitês em espanhol abririam as portas para delegados do resto do continente. A Argentina, o México e a Venezuela são pólos formidáveis de MUNs, e teriam muitas figurinhas a trocar conosco. Enfim, acredito que a diversidade lingüística pode enriquecer muito a modelagem nacional.
Porém e ao mesmo tempo, devemos evitar o excesso de ambição. Se um modelo for jovem, pequeno e sem pretensões internacionais, voltado para delegados pouco experientes, ele realmente vai precisar de um comitê em inglês? Para quê, para aumentar o status? Não faz sentido. Os meios sempre devem se adaptar aos fins. Se for o caso, vamos de português mesmo, e viva o nosso Brasil varonil!
Espero que os atuais e futuros SGs e diretores pensem com mais carinho sobre este assunto. Afinal, a língua de um homem é seu mundo.