
Que modeleiro nunca cantou o hino do seu país, ao menos em uma de suas viagens?
Que modeleiro nunca empunhou com orgulho uma bandeira estrangeira, cumprimentou o Presidente na língua oficial, experimentou algum prato da culinária do país que representava, encorajou a delegação a cantar uma música típica...?
O
nacionalismo têm um papel importante em modelos. Evidentemente, não o nacionalismo-padrão, do contrário (quase) todos torceriam pela delegação do Brasil, até nos comitês em que o Brasil não está!
Estou falando do
nacionalismo transferido. Uai, mas existe isso?
Bem, digamos que, em 1945, a Carta das Nações Unidas não foi o único documento internacional importante produzido. Também tivemos
Notes on Nationalism, um ensaio do mestre George Orwell. O autor explica o que é nacionalismo, quais são seus efeitos, e quais os principais tipos de nacionalismo que existiam à época.
Para Orwell, o nacionalismo tem três elementos:
I) Obsessão - "
As nearly as possible, no nationalist ever thinks, talks, or writes about anything except the superiority of his own power unit. It is difficult if not impossible for any nationalist to conceal his allegiance. The smallest slur upon his own unit, or any implied praise of a rival organization, fills him with uneasiness which he can relieve only by making some sharp retort."
Entram aqui as mil questões de privilégio pessoal nem sempre bem-vindas ou corretas, os insultos, as críticas ao "modo de vida" dos outros, os provérbios chineses, as expressões em francês, os porta-vozes do Mundo Livre ou do Movimento dos Não-Alinhados, etc.
II) Instabilidade / Transferabilidade - "
One quite commonly finds that great national leaders, or the founders of nationalist movements, do not even belong to the country they have glorified. Sometimes they are outright foreigners, or more often they come from peripheral areas where nationality is doubtful. Examples are Stalin, Hitler, Napoleon, de Valera, Disraeli, Poincare, Beaverbrook".
Isto é importante em MUNs, porque Orwell diz que "
for an intellectual, transference has an important function which I have already mentioned (...) It makes it possible for him to be much more nationalistic — more vulgar, more silly, more malignant, more dishonest — that he could ever be on behalf of his native country, or any unit of which he had real knowledge." Isto é, eu posso ser muito mais ferventemente nacionalista sobre o Nepal ou a Indonésia do que sobre meu Brasil brasileiro.
III) Indiferença à Realidade - "
All nationalists have the power of not seeing resemblances between similar sets of facts. A British Tory will defend self-determination in Europe and oppose it in India with no feeling of inconsistency. Actions are held to be good or bad, not on their own merits, but according to who does them (...)"
Este talvez seja o começo do conceito de
doublethink, que Orwell criaria no livro
1984. Fundamental em modelos. A França sob Chirac falou mal dos Estados Unidos pela invasão no Iraque, mas entrou na Costa do Marfim sem pedir autorização a ninguém. Rússia e China falam em "paz" enquanto massacram a moçada, e falam em "responsabilidade" ao mesmo tempo que vetaram incluir Burma / Myanmar na agenda do
CS em janeiro deste ano (deu no que deu). O Brasil falava muito em etanol, e pá, "de repente virou a Arábia Saudita", como muito bem disse Diogo Mainardi no Manhattan Connection.
O LANCE - A questão é que o nacionalismo transferido realmente existe, mesmo fora dos modelos - conheço pessoas que certamente demonstram serem nacionalistas transferidos
themselves. (Não sei se é um mal da moçada de RI.)
Mais do que isso, ele é um fenômeno concreto nos modelos - por muito tempo após o MONU 2005, eu sempre dava uma certa razão aos monarquistas quando lia notícias sobre o Nepal, de tanto ter me embrenhado no ponto de vista do Rei Gyanendra. Ainda penso um pouco assim - afinal, os inimigos são os terroristas maoístas!
Da mesma forma, ainda guardo um certo carinho pelo Zimbábue e pelo Chile, embora eu tenha ojeriza ao Mugabe e não goste da Bachelet. E morro de saudades da minha Indonésia, mesmo nunca tendo estado lá. E juro, às vezes chego mesmo a
acreditar que o programa nuclear iraniano é pacífico e que a
fatwa do Líder Supremo dizendo que as bombas atômicas são anti-islâmicas é sincera.
Perguntas:I) Em que medida você acha que o nacionalismo transferido te influencia(ou) em seu desempenho como delegado e no avanço dos interesses do país?
II) Em que medida ele ajuda(ou) na coesão da delegação?
III) E em que medida ele torna(ou) o modelo mais divertido?